Eleições

Número de prefeitas eleitas no Amazonas aumenta 120 %

No domingo, das 31 candidatas à prefeita, 11 foram eleitas no Amazonas; seis a mais do que em 2020 quando foram 5

Emile de Souza
politica@acritica.com
10/10/2024 às 08:23.
Atualizado em 10/10/2024 às 14:55

Prefeitas eleitas: Kátia Dantas (Anamã), Macelly Veras (Maués), Mara Alves (Careiro), Marina Pandolfo (Nhamundá), Mercedes (Jutaí), Nazaré Rocha (Amaturá), Paula Augusta (Ipixuna), Professora Araci (Nova Olinda), Professora Áurea (Eirunepé), Professora Socorro (Rio Preto da Eva) e Valcileia Maciel (Manacapuru) (Fotos: Montagem/Redes sociais)

O número de prefeitas no Amazonas mais que dobrou  na eleição de domingo, cresceu 120% em relação a 2020, quando apenas cinco candidatas foram eleitas. Em 2024, 31 mulheres se candidataram e 11 venceram o pleito e a partir de 2025 vão comandar  os municípios. 

Em 2020, o estado teve 24 candidaturas femininas para o cargo de prefeita. Desse total, foram eleitas: Maria Lucir (MDB)  em Beruri; Maria do Socorro (PSDB) em Ipixuna; Denise Lima (PP) em Itapiranga; Maria Pandolfo (PSD) em Nhamundá; Patrícia Lopes (MDB) em Presidente Figueiredo. 

Este ano, conquistaram o mandato: Nazaré Rocha (MDB), de Amaturá; Kátia Dantas (MDB), Anamã; Mara Alves (Republicanos), Careiro; Professora Áurea (MDB), Eirunepé; Paula Augusta (PSDB), Ipixuna; Mercedes (União), Jutaí; Valcicleia Maciel (MDB), Manacapuru; Macelly Veras (PDT), Maués; Marina Pandolfo (União), Nhamundá; Professora Araci (MDB), Nova Olinda do Norte; e Professora Socorro Nogueira (União), Rio Preto da Eva.

Já nas Câmaras Municipais a elevada diferença de gênero se manteve. Em 2020, 3.366 candidatas, e 129 vereadoras eleitas, correpondendo a 19% do total. Os candidatos somaram 6.528. Dos quais, 609 se elegeram. No domingo, a ocupação masculina de 81% das vagas no legislativo foi assegurada de novo com a eleição de 610 vereadores, contra 140 vereadoras.   

Na contramão

Na disputa majoritária,  Manaus foi na contramão do resto do estado. Todas as sete chapas para a prefeitura foram lideradas por homens. Além disso, a capital amazonense reduziu o número de vagas conquistadas por mulheres na Câmara Municipal. Antes eram quatro e agora serão apenas três. 

Durante a sessão plenária desta segunda-feira, a vereadora Thaysa Lippy (PRD), que foi a mulher mais votada nas eleições deste ano e a  terceira no computo geral, afirmou que esperava que a presença feminina fosse crescer na próxima legislatura. 

“Eu estou muito triste também pela perda de uma mulher. A vereadora Glória Carrate não conseguiu ser eleita. Nós só éramos quatros mulheres nessa Câmara, agora apenas três retornaram. A minha expectativa era de mais mulheres na política, mas a gente vê que falta ainda mulheres influenciarem outras mulheres. Eu estar enquanto mulher aqui, como a terceira mais votada, é gratificante demais”, disse.

Para doutora em filosofia política (Puc-Rio) e socióloga (Ufam),  Ivanilce Nogueira Chagas,  a redução do número de mulheres na CMM decorre de  uma série de fatores ligados ao preconceito de gênero. 

“Naturalmente, no Amazonas, o fenômeno da redução das cadeiras ocupadas por candidatas mulheres significa não só um retrocesso, mas mais grave ainda, reflete os efeitos do fenômeno da desinformação praticada pela mídia nacional e local na forma de fake news”, disse. 
 

Preconceito

Segundo a socióloga, a conjuntura política desta eleição reflete a representação estereotipada da mulher na mídia e atua diretamente na reprodução e no reforço de preconceitos de gênero. 

Outro fator analisado pela especialista é que esse problema surge a partir de heranças estruturais e culturais, além do pouco incentivo à participação feminina na vida pública. 

“Em termos culturais, a sociedade amazonense e, especialmente, as eleitoras, ´geralmente´ não desenvolveram uma consciência política que lhe capacite em sua escolha nos processos representativos (problema cujas raízes estão assentadas no patriarcalismo estrutural, responsável pela naturalização da inferioridade das mulheres na sociedade)”, explicou a doutora em política.

Demora nas rupturas

Para professora da Ufam e doutora em processos socioculturais da Amazônia, Ivânia Vieira,  as eleições são um pedaço da história e da forma com que cada povo se comporta politicamente. 

“As mulheres estiveram presentes, sempre, ajudando, trocando ideias, desempenhando outros papéis para viabilizar o mando do macho nos diversos assuntos e espaços, dos que abençoam em missas e cultos aos que governam e legislam”, disse a doutora. 

Segundo a professora, enquanto as mulheres exerciam certas atividades designadas ao seu gênero, os homens ampliaram essa desigualdade e que agora há um processo mais demorado para garantir os direitos das mulheres. 

“Estamos demorando muito a ampliar as rupturas nesse muro histórico e temos dificuldades em compreender o tamanho e o efeito das conquistas feitas, fazê-las circular e celebrar – como gotas de antídoto – nas batalhas de hoje para enfrentar a desigualdade da representação nos espaços de poder”, explicou.


 
A doutora em processos socioculturais ressaltou que as eleições no país e em Manaus são um retrato social que precisa ser entendido e ter uma reação a curto, médio e longo prazo. 

“Rever práticas, linguagens e outros dispositivos que estão sendo usados para reforçar a não ruptura do atual quadro, pois, esse quadro acomoda interesses mais efetivos do que o interesse anunciado por partidos, coletivos e outros grupamentos, como os das igrejas, de compromisso com iniciativas transformadoras de um quadro que viola direitos e oprime por mais espaço de autonomia, da presença e da participação política da mulher”, disse Ivânia Vieira.

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