REFLEXOS

Vegetação fluante surge com subida do rio Negro

Camada de capim dificulta vida mobiliade de pescadores e moradores ribeirinhos do entorno de Manaus. Especialista fala dos impactos dessa vegetação.

Lucas Motta
online@acritica.com
18/01/2025 às 19:36.
Atualizado em 18/01/2025 às 19:36

Há impactos negativos para o ecosistemas do local onde essa vegetação se acumula (Foto: Lucas Motta/AC)

O nível do rio Negro, em Manaus, ultrapassou os 21 metros e a subida da água trouxe, também, uma imensidão verde que parece até um grande campo em terra firme, mas na realidade, trata-se de uma vegetação que flutua em diversos locais, um deles é a bacia do Tarumã-Açu. 

Para contabilizar a área toda da espécie de capim é difícil, os ribeirinhos que moram na região dizem que a cada dia aumenta com a ajuda do vento e da correnteza. Embora o visual possa encher os olhos, também dificulta, e muito, o cotidiano dessa população. 

O barqueiro Ronildo Monteiro tem 12 anos de profissão e faz parte de uma das cooperativas que atuam na região, ou melhor, tentam atuar. Isso porque a grande porção de vegetação fica no meio do caminho entre a Marina do Davi e as comunidades da zona rural de Manaus, um exemplo é a comunidade de Fátima. 

Ronildo explicou que é preciso reservar algumas horas todos os dias para abrir um caminho entre o capim, “como se fosse um paraná”, para facilitar o acesso e mesmo assim, vez ou outra, o motor da embarcação trava com o mato acumulado nas palhetas, como são chamadas as hélices. 

“Pra contornar, né? Passar por fora e desviar de todo o capim é mais gasto de gasolina, e ela aumentou, só aumenta porque tá quase R$ 7,50 no pontão… tá difícil, mas todo dia tem que ir na comunidade levar e trazer. O meio de transporte é esse”, comentou.

No caso dos ribeirinhos que moram nessas comunidades a coisa é um pouco mais complicada, de acordo com a presidente da associação de moradores, Sara Guedes. Acontece que muitos deles fazem as compras no da semana em Manaus e na hora de voltar pra casa precisam contar com a sorte de encontrar o canal na vegetação ainda aberto. Há alguns relatos de momentos de transtorno quando esse espaço se fecha durante a travessia. 

“Se na hora de voltar o vento estiver mudado o destino dele, o capim fecha o caminho então eles ficam presos lá no meio; foi o que aconteceu ano passado, teve pessoas que estavam retornando e ficaram presos tanto que passaram o réveillon no meio do mato”, disse Guedes.

Impactos ambientais 

Não é apenas para os ribeirinhos que há complicações. O biólogo André Menezes defende que há impactos negativos para o ecosistemas do local onde essa vegetação se acumula. Ele explicou, em primeiro lugar, que esse tipo de capim é chamado popularmente de canarana, mas a espécie em definitivo varia de acordo com o rio em que aparece.

Geralmente, no Negro é um dos tipos de arroz. É uma planta que nasce durante a vazante, nos solos férteis que surgem com a descida do nível da água, e acaba crescendo muito. Quando o rio sobe, a plantação toda se “desprende” da terra e se acumula conforte o curso hídrico. 

Ocorre que, em grandes quantidades, esse capim pode causar alterações prejudiciais ao meio ambiente como a diminuição de oxigênio na água por causa do aumento do nível de acidez. Menezes defende que essa mudança toda atinge principalmente os peixes que dependem de boas condições para garantir o aumento da própria população. 

 Do ponto de vista a longo prazo, a ciência ainda não consegue definir quais podem ser os resultados desses impactos para a população dos cardumes ou então se eles realmente podem ser consideráveis de tal forma que causem problemas ambientais, mas o que se sabe com certeza é que o fenômeno das canaranas ocorre durante todo o processo de vazante e cheia e por isso que a sugestão do biólogo é fazer com que haja a remoção desse capim ainda antes do nível do rio voltar a subir. 

“Porque uma vez que o rio começa a encher e essa vegetação pode, com muita facilidade, ser levada para outras regiões, dificultando a sua captura”, disse.
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