DENÚNCIA

Servidor do Incra é denunciado na tribuna da ALE-AM por importunação sexual contra três mulheres

O suspeito, segundo a procuradora da Mulher, Alessandra Campelo, passou a mão nas vítimas enquanto elas aguardavam atendimento na fila de um supermercado

Emile de Souza
politica@acritica.com
24/04/2024 às 15:18.
Atualizado em 24/04/2024 às 15:18

(Foto: Reprodução)

"Ele tem que ser preso", disse a deputada estadual Alessandra Campelo, procuradora da Mulher na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), que denunciou Antonio Ednelson Lopes, servidor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), por suspeita de importunação sexual contra três mulheres em um supermercado no bairro Parque Dez de Novembro, zona centro-sul de Manaus.

A agressão ocorreu no sábado e foi registrada pelas câmeras de vídeo do estabelecimento comercial. Uma das vítimas, de 36 anos, informou que, além da importunação sexual, sofreu ataques misóginos, com palavras ofensivas após denunciar o homem.

"A gente vive numa sociedade que invalida o discurso da vítima e valida o discurso do abusador. No momento em que fui abusada, fui chamada de gorda, de feia, de tribufu. E isso me tocou muito, porque fui violentada duas vezes. Fui violentada pelo fato de ele ter tocado meu corpo e fui violentada porque, no momento em que ele me tocou, eu reagi. E pelo fato de eu ter reagido, de ter exposto naquele momento, de ter gritado por socorro, ele usou um discurso para tentar desvalidar meu questionamento naquele momento", relatou a vítima à procuradora.

A mulher contou ainda que buscou ajuda na Procuradoria da Mulher na ALE-AM por se sentir desamparada pela rede de supermercados, pela polícia e pelas pessoas que estavam presentes no momento do crime.

"É preciso muita coragem, e procurei a deputada porque senti muita dificuldade, tanto para registrar o boletim de ocorrência quanto para ter um amparo psicológico nesse momento, porque é extremamente necessário. A gente se sente desamparada. Fui desamparada também pela rede de supermercados. Para ter um acolhimento, eu tive que gritar, me expor, ter muita coragem, e ainda estou processando tudo que aconteceu, mas, graças a Deus, encontrei acolhimento na procuradoria, e isso está me deixando extremamente confortável para vir a público", disse.

Durante a sessão plenária, a deputada divulgou vídeos do suspeito passando a mão em mulheres que estavam na fila de um mercado. Segundo Alessandra Campelo, o suspeito foi identificado e conduzido pela Polícia Militar do Amazonas, mas não foi preso em flagrante, e a procuradoria está verificando o ocorrido junto à delegacia.

"As pessoas não têm vergonha de atacar as mulheres em público. Isso é um absurdo, que um homem se sinta à vontade para fazer esse tipo de coisa. Esse homem foi levado para a delegacia após muita confusão que essa mulher fez; ela teve que fazer uma grande confusão para que segurassem esse homem, e ele foi para a delegacia e, pasmem, não foi feito o flagrante, ele não foi preso em flagrante depois de ter importunado três mulheres. Eles passam a mão, daqui a pouco eles agarram à força, e, se a mulher estiver sozinha, eles a estupram. Esse é o tipo de homem que fica encoxando as mulheres nos ônibus, se masturbando na frente das mulheres."

A deputada ressaltou que crimes de importunação sexual podem acontecer em qualquer lugar.

"No domingo, eu estava fora do estado e recebi uma mensagem por WhatsApp de uma pessoa que sofreu importunação sexual. Ela foi importunada sexualmente por um homem, e agora um detalhe: ela não estava em uma festa, numa boate, num forró ou num bar, ela não estava passeando, estava em um supermercado. Ou seja, pode acontecer em qualquer lugar", argumentou Alessandra.

A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) informou que tomou conhecimento da ocorrência e que o caso está sendo apurado no 12° Distrito Integrado de Polícia (DIP). 

O delegado titular do 12º DIP, Wenceslan de Queiroz, relatou que uma testemunha foi ouvida e também foram requisitadas imagens das câmeras de segurança do estabelecimento, e que as investigações continuam.

A PC-AM ressalta a importância de denunciar crimes sexuais. As vítimas podem procurar a delegacia mais próxima ou ligar para o 181, o disque-denúncia da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM). O sigilo da identidade da vítima é garantido.

Alessandra Campelo informou que as medidas devem ser tomadas pela polícia e que a procuradoria está realizando o acolhimento e buscando outras vítimas que aparecem no vídeo.  

"Tem que pagar sim, esse abusador, tem que responder, tem que ser preso, tem que responder pelo crime para que ele não faça isso. Se ele faz isso na frente de todo mundo, em um supermercado, em um domingo de manhã, imagina o que esse homem não faz quando não tem ninguém olhando. Vamos até o fim por justiça", ressaltou a deputada. 

A ativista Jacqueline Suriadakis, fundadora do Projeto Fênix Amazonas, que atua no acolhimento de mulheres vítimas de violências físicas e sexuais, informou que, às vezes, as vítimas não compreendem os abusos e, por isso, não denunciam. 

"A vítima pode se sentir constrangida com a forma como é abordada, seja por um assédio verbal ou pela importunação sexual, e muitas vezes ela não entende que está vivenciando isso e não faz a denúncia. É necessário que esse tema seja abordado constantemente para que as mulheres despertem para as formas de assédio e possam denunciar. Muitas acham que são culpadas por terem sido assediadas, pelo tipo de roupa que estavam vestindo, ou até por serem gentis, e o abusador se aproveita da situação para importunar", informou. 

Jacqueline ressalta que o suporte dado pela procuradoria é essencial para iniciar as medidas em casos de violência.

"É essencial que tenhamos esse suporte para que essa rede de apoio às mulheres intervenha e acolha as mulheres, direcionando-as com apoio jurídico, psicológico e social", afirmou. 

A equipe de reportagem entrou em contato com o Incra para saber se a conduta do servidor público será apurada internamente, mas, até o fechamento da matéria, a instituição não divulgou seu posicionamento.

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