POSICIONAMENTO

"Queria me humilhar, me rebaixar", afirma advogada após ser comparada com "cadela" por promotor

Segundo Catarina Estrella, promotor de Justiça Walber do Nascimento já teria feito outros comentários 'jocosos' sobre ela, e disse que foi vítima de "violência institucional"

Robson Adriano
13/09/2023 às 20:35.
Atualizado em 13/09/2023 às 20:46

Catarina Estrella, advogada criminalista (Foto: Paulo Bindá / A Crítica)

“Me deu um sentimento de impotência”, definiu a advogada criminalista Catarina Estrella, ao ouvir a fala do promotor de Justiça, Walber Luís do Nascimento, que durante a réplica de argumentação associou a advogada a uma 'cadela'. Nesta quarta-feira (13), na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Amazonas (OAB-AM), localizada na avenida Umberto Calderaro Filho, bairro Adrianópolis, a advogada declarou ainda que tomará as devidas providências nas esferas criminal, civil e administrativo. 

O caso ocorreu mais cedo durante uma sessão presidida pelo juiz de Direito, Carlos Henrique Jardim, titular da 3º Vara do Tribunal do Júri no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM). Estrella era responsável pela defesa do réu que responde ao crime de tentativa de homicídio no júri popular. O vídeo gravado pela própria advogada mostra o momento em que o promotor de Justiça, Walber do Nascimento, utiliza uma analogia para associá-la a uma cadela. 

“Ele queria me humilhar, rebaixar e comparar a uma cadela. Eu sou uma pessoa estudiosa, que já tive sucesso em vários processos e não me via passível de violência desse tipo, pois sei me impor. Mas, quando ele agiu daquele modo, eu vi que claramente ele estava passando de todos os limites. Ele queria me menosprezar até o menor espaço”, declarou Estrella. “Eu sei que a minha filha vai sofrer hoje junto comigo”, complementou emocionada.

A sessão de Júri Popular começou na segunda-feira (11). Estrella relata que durante os primeiros dias de trabalho no plenário, já ouvia comentários considerados por ela como jocosos por parte do promotor de Justiça, assim como tentou registrar em ata cinco nulidades que ocorreram durante as atividades, mas o juiz Carlos Jardim não atendeu ao pedido da advogada. Segundo a advogada, ela ainda mandou o vídeo e um e-mail para a Corregedoria do Ministério Público do Amazonas (MP-AM).

“O único momento que o juiz permitiu consignar foi nesse momento. Os outros quatro anteriores ele (o juiz) não deixava. Então, isso já era uma quebra de prerrogativa minha. Eu sofri uma violência crescente até que chegou a uma hora que fui chamada de cadela. E ele (o juiz) nada fez. Eu entendo que tem que haver punição porque ele (o Juiz) não estava presidindo a audiência. E infelizmente o Juiz nada fez. E acredito sim! Que o Tribunal de Justiça vai fazer alguma coisa”, disse Estrella. “Eu considero que passei hoje como violência institucional”.

Medidas

A Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas no Amazonas (Abracrim-AM) entrou com uma representação junto ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

“Hoje presenciei pessoalmente uma ofensa ao sua profissão, pessoal e gênero como mulher. E isso deve ser combativo. A Abracrim estadual e nacional acaba de representar no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para que esse mal sirva de exemplo para futuras agressões à advocacia criminal”, declarou Vilson Benayon, presidente da Abracrim-AM.

Vilson Benayon, presidente da Abracrim-AM (Foto: Paulo Binda / A Crítica)


Vilson Benayon, presidente da Abracrim-AM (Foto: Paulo Binda / A Crítica)

Jean Cleuter Mendonça, presidente da OAB-AM, afirmou que será realizada uma sessão extraordinária do conselho da instituição onde será decidido se uma investigação será aberta para apurar a conduta do promotor de Justiça, Walber Luís do Nascimento, assim como a do juiz Carlos Henrique Jardim.

“Nós já estamos para o conselho. Essa é uma decisão do conselho que é soberano. Nós também vamos analisar a conduta do magistrado. A OAB não vai deixar passar e se entender que conduta deles também violou as prerrogativas da doutora Catarina”, disse.

Jean Cleuter Mendonça, presidente da OAB-AM (Foto: Paulo Bindá / A Crítica)


Jean Cleuter Mendonça, presidente da OAB-AM (Foto: Paulo Bindá / A Crítica)

Para o presidente da Comissão de Direitos e Prerrogativas e Valorização da Advocacia da OAB-AM, Alan Jhony Fonseca, o ofensa não foi somente para a Estrella, mas se estende a toda classe de advogados. “Nesse cenário a vítima é toda advocacia. E com o rigor da lei vamos buscar responsabilizar a autoridade que lhe ofendeu e à todos os advogados. Com todo o rigor institucional da nossa classe”, pontuou. “Em qualquer ato que venha violar as prerrogativas a OAB estará presente”, complementou.

Alan Johny Fonseca, presidente da Comissão de Direitos e Prerrogativas e Valorização da Advocacia da OAB-AM (Foto: Paulo Bindá / A Crítica)


Alan Johny Fonseca, presidente da Comissão de Direitos e Prerrogativas e Valorização da Advocacia da OAB-AM (Foto: Paulo Bindá / A Crítica)

Posicionamentos

O TJAM-AM não irá se pronunciar até o momento. O Ministério Público do Amazonas (MP-AM) afirmou que vai primeiro apurar os fatos para posteriormente se pronunciar formalmente. A Associação Amazonense do Ministério Público (AAMP), por meio do presidente Alessandro Gouveia, apresentou total e irrestrito apoio ao promotor de Justiça Walber do Nascimento. Já Nascimento negou, em entrevista a TV A Crítica, que tenha chamado Estrella de 'cadela', mas sim que a advogada foi desleal durante a sessão de julgamento. 

Assuntos
Compartilhar
Sobre o Portal A Crítica
No Portal A Crítica, você encontra as últimas notícias do Amazonas, colunistas exclusivos, esportes, entretenimento, interior, economia, política, cultura e mais.
Portal A Crítica - Empresa de Jornais Calderaro LTDA.© Copyright 2025Todos direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por