Educação

Professor cria clube que faz escuta de alunos contra a violência

No ‘Clube do Silêncio’, o aluno pode contar um pouco do seu dia-a-dia e quais conflitos passa

Karol Rocha
online@acritica.com
23/09/2023 às 09:35.
Atualizado em 23/09/2023 às 09:58

Projeto é realizado às sexta-feiras no horário do almoço no Centro de Educação de Tempo Integral (Ceti) Professor Sérgio Pessoa Figueiredo (Marcio Silva)

No Centro de Educação de Tempo Integral (Ceti) Professor Sérgio Pessoa Figueiredo, localizado no bairro Cidade de Deus, na zona Norte de Manaus, o enfrentamento contra a violência é pautado com diálogos e, sobretudo, com muita escuta. 

O projeto "Clube do Silêncio" foi criado em 2018 pelo professor de língua portuguesa Erison Soares Lima e ganhou mais força após a pandemia da Covid-19, quando ele observou que os ânimos dos alunos estavam mais exaltados. 

"Antes da pandemia, a gente tinha, sim, problemas de violência, mas era algo muito pontual. Agora, não. O aluno que retorna da pandemia, ele volta com a cabeça um pouco mexida, porque foram muitas situações que ele viveu dentro de casa como perdas e também a violência. E essa vulnerabilidade que ele passa, ele traz para sala de aula", contou o professor. 

Segundo ele, os episódios de brigas dentro da escola eram frequentes, por isso, o projeto se tornou necessário. "Eles estavam trazendo essa violência no falar e agir. Os casos de violências começaram a ser toda a semana e depois passou a ser diariamente. E isso nos assustou muito", disse o educador. 

Na prática, o projeto é realizado todas as sextas-feiras e sempre no horário do almoço. Durante a conversa, o aluno  pode contar um pouco do seu dia-a-dia, quais conflitos passa e é ouvido por alunos e pelo professor que acompanha o Clube do Silêncio. 

"O Clube surgiu dessa necessidade de ouvir os alunos, de entender o momento pelo qual eles estão passando e aí eles trazem os relatos. E o grupo funciona como espaço de acolhimento em que eles podem falar de si sem julgamento", destacou Erison Lima, que acrescenta que nesses espaços existe a liberdade para expressar os sentimentos. 

"Oferecer um espaço em que ele vai ser ouvido, isso gera neles uma confiança de que na escola eles têm um lugar onde são aceitos. E o atendimento está aberto para todos e eles procuram naturalmente", apontou ainda. 

Além do projeto e sua importância, o professor destaca os inúmeros bons resultados que o Clube do Silêncio trouxe para as salas de aula do Ceti. "Tenho alunos que se formaram no ano passado, estão na faculdade e voltam eventualmente e me perguntam: professor, eu posso ir?", comenta ele. 

"Há outros que nunca faltaram uma reunião. E o resultado que a gente vê é o tratamento que muda entre eles", disse ele, que acrescenta a importância do estimo a cultura de paz dentro das escolas. "O resultado do Clube do Silêncio é instaurar na escola uma cultura de cuidado, uma cultura de acolhimento, onde cada um pode ser o esteio do outro", comentou. 

A experiência do professor com o Clube do Silêncio foi contada na mesa "Para além dos ataques: como professores lidam com tensões frequentes e violência na escola", que aconteceu na última segunda-feira (18) durante o 7º  Congresso de Jornalismo de Educação, realizado em São Paulo. 

Ele dividiu o espaço com outras duas profissionais da educação que fazem diferença no dia-a-dia dos alunos como a professora Celiana Moroso (DF) e a professora Cinthia Barbosa (São Paulo). Ambas também possuem projetos e enfrentam o problema da violência dentro de suas escolas.

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