CRIMES CONTRA HONRA

Presidente eleita do TCE diz que foi chamada de "put* e vadia" por conselheiro Ari Moutinho

Yara Lins foi à Delegacia Geral denunciar Ari Moutinho e afirmou que ofensas e ameaças aconteceram antes do início de sessão que a elegeu no TCE

Carolina Givone
politica@acritica.com
06/10/2023 às 10:34.
Atualizado em 10/10/2023 às 18:18

Yara Lins prometeu ir até o CNJ para buscar punições a Ari Moutinho (Foto: Márcio Silva)

A presidente eleita do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM), conselheira Yara Lins ,apresentou denúncias de agressões verbais que teriam sido proferidas pelo conselheiro Ari Moutinho, colega de poder da Corte de Contas. A denúncia foi formalizada nesta sexta-feira, (6), seguida de uma entrevista coletiva de imprensa na Delegacia Geral da Polícia Civil no bairro Dom Pedro, Zona Oeste de Manaus.

“Nesse momento eu não estou aqui como conselheira, estou aqui como uma mulher. Uma mulher que foi covardemente agredida no plenário antes das eleições para me desestabilizar”, disse a conselheira.

Yara afirmou que as agressões ocorreram enquanto ela estava no plenário, na presença de várias testemunhas. Quando cumprimentou o conselheiro Ari Moutinho, ele respondeu, segundo ela, proferindo palavras de baixo calão.

“Eu disse bom dia. Ele respondeu, bom dia nada, puta, safada, vadia. Eu vou te fud*r, porque fiz o mesmo com a Lindora no Ministério Público, você vai ver”, relatou Yara, que fez a denúncia acompanhada do vice-presidente eleito do TCE, Luís Fabian Barbosa, do corregedor eleito, Josué Neto, e do filho dela, o deputado federal Fausto Jr. 

Yara esteve acompanhada de Josué Neto, corregedor eleito, e do filho, o deputado federal Fausto Jr

As queixas foram apresentadas após diversas polêmicas que envolveram o processo eleitoral que culminou na escolha de Yara e os demais conselheiros para cargos diretivos no Tribunal de Contas, em eleição finalizada na terça-feira, (2). 

Citada por Yara, Lindôra Araújo é vice-procuradora-geral da República. Foi dela, em março de 2021, parecer favorável à absolvição de Ari Moutinho em um processo no STJ por ataques à gestão do governador Wilson Lima (União) proferidos durante audiência pública sobre a prestação de serviço do gás natural no Amazonas, em junho de 2020. 

“Eu peço Justiça por que sou a única mulher, a única conselheira do tribunal e represento as servidoras da minha instituição. Eu relutei muito em vir aqui fazer essa denúncia, mas eu não poderia me acovardar como muitas por ameaças, e eu não aceito ameaças. Eu quero que a Justiça puna o agressor, para que acabe a violência contra a mulher, eu peço justiça das autoridades dos homens e das mulheres”, explanou a conselheira. 

Segundo Yara Lins, as agressões foram registradas por câmera de segurança e do próprio plenário, que gravava a votação do dia. “Fui agredida dentro da minha função, dentro do plenário do tribunal de contas. O vídeo mostra que depois que fui agredida, eu fiquei paralisada e passei a mão no rosto dele e disse: você é um infeliz, por isso que sofre tanto. E ele sarcasticamente tentou pegar no meu rosto e mandou beijo para mim”, detalhou. 

Terminando a denúncia, Yara Lins ressaltou o que ela classificou um “deboche” vindo de Moutinho. “Durante meu discurso na sessão, eu disse ‘agradeço a Deus, tudo posso naquele que me fortalece. Mas eu só remo a Deus, não temo homem, não temo ameaça’ e ele gritou lá da Tribuna: ‘Amém’”, finalizou. 

“Agressões verbais”

“Mulheres em espaço de poder ainda são agredidas. Em um vídeo é possível ver as agressões verbais. A doutora Yara precisou tomar providências na Justiça para manter a sessão, pois havia um grupo que tinha interesse em adiar as eleições”, afirmou a advogada Catharina Estrela, que representa a conselheira.

Segundo a advogada, como os documentos e prova já foram entregues às autoridades, o processo deve ser investigado pela Policia Civil e por órgãos judiciais como o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os crimes atribuídos por Yara Lins a Ari Moutinho se encaixam nos artigos 139 e 140 do Código Penal, que definem os crimes contra a honra. Para cada um dos artigos, a pena é de três meses a um ano de detenção, além de multa. 

As queixas foram apresentadas após diversas polêmicas que envolveram o processo eleitoral que culminou na escolha de Yara e os demais conselheiros para diversos cargos no Tribunal de Contas ocorrida na terça-feira, (2). 

“Mulheres em espaço de poder ainda são agredidas. Em um vídeo é possível ver as agressões verbais, a doutora Yara precisou tomar providências na Justiça para manter a sessão, que havia um grupo que tinha interesse em adiar as eleições”, afirmou a advogada da conselheira, Catharina Estrella, que também foi vítima de violência verbal, após ser chamada de “cadela”, durante uma sessão do Tribunal no Fórum Ministro Henoch da Silva Reis, no dia 13 de setembro, em um momento da réplica de argumentação. 

No episódio, o autor da ofensa foi promotor de Justiça, Walber Luís do Nascimento, foi aposentado pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM) no dia 27 de setembro. 

Ainda segundo a advogada, com os documentos e prova entregues às autoridades, o processo deve ser investigado pela Policia Civil e por órgãos judiciais como o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). 

Até o fechamento deste material, o conselheiro Ari Moutinho ainda não havia se pronunciado.

NOTA OFICIAL

O Tribunal de Contas do Estado do Amazonas, por seu Presidente, em atenção a diversas solicitações de manifestação sobre o alegado incidente havido entre membros do Tribunal Pleno, no último dia 03 de outubro, na Sessão da Primeira Câmara na qual não se encontrava presente, informa que não recebeu qualquer comunicação ou solicitação referente ao assunto ocorrido e que, igualmente, não foi previamente informado sobre a entrevista coletiva concedida na data de hoje.

O presidente enfatiza, ainda, que o Tribunal de Contas, durante os últimos dois anos, implementou um sistema de integridade institucional, com códigos e comitês de ética pública, comissões de enfrentamento a qualquer espécie de assédio e discriminação, possuindo canais efetivos de comunicação de quaisquer irregularidades e desvios de conduta, inclusive com tratamento diferenciado às questões relacionadas às mulheres.

Érico Xavier Desterro e SilvaPresidente do TCE-AM

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