SEGURANÇA NÁUTICA

O que passageiros precisam saber sobre segurança em embarcações

O acritica.com consultou dois especialista que pontuaram questões acerca da segurança na navegação, documentação e fiscalização

Natasha Pinto
online@acritica.com
31/07/2024 às 19:17.
Atualizado em 31/07/2024 às 19:29

Balsa Amarela (Foto: Junio Matos/AC)

A Marinha do Brasil divulgou nesta semana, que uma das embarcações que sofreram um incêndio nos últimos dias, estava irregular. Os acidentes provocaram uma série de dúvidas na população, principalmente, referente ao quesito segurança, a final, o que é necessário para uma embarcação ter autorização para navegar? Quem fiscaliza essas embarcações e qual o papel do passageiro/consumidor?

Para começar a navegar, a embarcação precisa de algo, parecido como a 'certidão de nascimento', segundo o militar da Marinha aposentado e dono da Escola Náutica Manaós, Adolfo Almeida, que deve ser enviado para a Capitania dos Portos da Marinha do Brasil, independente de ser embarcação de grande porte até lancha ou bote.

"O primeiro passo é dar a origem da embarcação: se você comprar é preciso apresentar a Nota Fiscal ou se mandou fazer, o engenheiro naval vai fazer a declaração de construção, flutuação e a capacidade de passageiros. O segundo passo, é apresentar o proprietário, onde é necessário documento oficial com CPF e comprovante de residência, além do pagamento da guia de serviço da Marinha, conhecido como GRU, além das fotos da embarcação e assim, apresentar na Capitania dos Portos", explicou.

Os motores das embarcações também devem ser registrado, com a nota fiscal no nome do proprietário ou registro em cartório, caso ultrapassem a potência de 50 HP. Ainda na fase de cadastro a Marinha pode solicitar ou não uma vistoria. A partir de agosto a Marinha irá voltar a cobrar o seguro obrigatório.

Proprietário da Escola Náutica Manaós, Adolfo Almeida

Documentos

Ainda de acordo com Adolfo, a validade dos documentos é de cinco anos e devem ser refeitos a fim de cada período. Toda via, existem as vistorias periódicas, que devem ser feitas anualmente."Elas não são pagas, mas precisam ser feitas, onde uma equipe de fiscais de estrutura e revisam a embarcação toda: elétrica, motora, alojamentos, camarotes, cozinha, banheiro, enfim, tudo", acrescentou.

Tripulação

Toda a tripulação precisa da carteira profissional, emitida apenas pela Marinha do Brasil, ofertado pela internet, no Curso de Aquaviários, através da publicação de um edital, onde o candidato se inscreve, faz uma prova de caráter eliminatório, em seguida vem o teste físico e por conseguinte, a análise de documentos.

No curso mais básico, é necessário ter cursado até a sexta série do ensino fundamental (antiga 5ª série), ser maior de 18 anos e brasileiro nato ou naturalizado. O curso é feito na própria Capitania dos Portos e dura, no mínimo, 11 semanas.

"Todos da tripulação precisam ter esse registro do Curso de Aquaviário, os comandantes, marinheiros, até mesmo o cozinheiro e enfermeiro, pois existe este curso oferecido pela Marinha, de forma gratuita, com número limitado de vagas", expôs Adolfo.

Carvalhaes, Capitão de Mar e Guerra da Marinha do Brasil.

Despacho

O capitão dos Portos, capitão de Mar e Guerra André Cavalhaes, disse que o barco que pegou fogo no Rio Negro e vitimou quatro pessoas, não possuía despacho "No momento em que saiu do porto de São Raimundo, ela [a embarcação] não solicitou da Marinha o despacho. Então, começou a navegação e o transporte de passageiros sem o despacho", explicou o capitão dos portos.

O despacho nada mais é que o documento que organiza a embarcação enviado pelo proprietário informando o itinerário, passageiros e carga, que deve ser enviado para a Capitania dos Portos, que irá fazer a fiscalização e autorizar a partida da embarcação.

"O despacho é divido em características da embarcação, para onde ela vai, documentação dela (embarcação), documentação da tripulação e relação de passageiros com nome e CPF, tudo isso forma o despacho, onde é possível verificar se a embarcação está apreendida, com irregularidade na documentação ou vencida e se a tripulação está em conformidade", disse Adolfo.

Fiscalização

Como você já pôde perceber, a maioria dos documentos é feita pela Marinha do Brasil, sendo ela a principal responsável por fiscalizar as embarcações e condutores marítimos. Entretanto, no dia 16 de setembro de 2021, foi publicado a lei estadual N. 5.604, a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados e Contratados do Estado do Amazonas (Arsepam), faz a fiscalização sobre a prestação dos serviços oferecidos pela embarcação, além dos preços das passagens e também sobre a qualidade dos coletes e o limite de pessoas.

Marinha do Brasil divulgou um número exclusivo para denúncias, que podem ser feitas por ligação ou pelo aplicativo de mensagens whatsapp (92) 99302-5040

Quando os fiscais chegam na embarcação, são solicitados as documentações necessárias para seguir viagem como, por exemplo, a habilitação do condutor, excepcionam o quantitativo de passageiros e o colete salva-vidas, olhando a validade, e se ele esta em boas condições de uso. Só no primeiro semestre de 2024, a Arsepam realizou no transporte hidroviário intermunicipal, 5.337 fiscalizações.

Entretanto, para Adolfo Almeida, a fiscalização ainda é precária e precisa do apoio dos próprios passageiros, que precisam criar a cultura da denúncia. "Se os passageiros começarem a denunciar, parte elétrica, estrutural, carga no mesmo ambiente que os passageiros, denuncie. Até um banheiro entupido, não é permitido", finalizou.

Para incentivar as denúncias, a Marinha do Brasil divulgou um número exclusivo para denúncias, que podem ser feitas por ligação ou pelo aplicativo de mensagens whatsapp (92) 99302-5040.

"Verifique se na sua embarcação, há os coletes salva-vidas suficientes ou se suspeitar de qualquer irregularidade, que nós vamos verificar", finalizou o capitão dos Portos.
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