ROTA DO CRIME

Nova rota do tráfico de drogas é disputada por organizações criminosas

Narcotraficantes disputam domínio do rio Japurá, novo trajeto para escoar drogas, e espalham terror no interior do Amazonas

OSWALDO NETO
08/05/2017 às 08:00.
Atualizado em 13/03/2022 às 03:08

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A nova rota do tráfico de drogas, que usa o rio Japurá para levar, principalmente, maconha do tipo skunk da Colômbia para Manaus, está em disputa por organizações criminosas que tentam evitar as fiscalizações da rota tradicional - que seguia pelo rio Solimões, da tríplice fronteira a Manaus. O resultado desse embate é uma “guerra” entre traficantes e a disseminação do medo entre populações ribeirinhas. É o que revela o delegado titular do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) da Polícia Civil, Guilherme Torres.

Nos últimos 15 meses, mais de 15 toneladas de maconha do tipo skunk foram apreendidas no Amazonas. A venda do entorpecente, considerada a “droga da vez” no mercado local, financia as operações das facções criminosas na região e permite que elas alcancem, também, o resto do País e do mundo. O avanço do tráfico refletiu no aumento das apreensões feitas pela Polícia Federal (PF), frutos da intensificação da fiscalização. Mas também levou os narcotraficantes a criarem uma nova rota para levar a droga das “fábricas”, que ficam em território colombiano, até Manaus, de onde elas são levadas para o resto do Brasil e do mundo: o rio Japurá.

De acordo com o delegado da DRCO, a nova rota começou a ser disputada após a morte de Jorge Rafaat, um dos maiores traficantes da tríplice fronteira do Paraguai. Ele era o responsável pela venda de drogas para facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). No entanto, revelou Torres, com o intuito de dominar a fronteira, integrantes do PCC mataram o traficante em junho do ano passado, desencadeando uma guerra entre as duas facções que aterroriza ribeirinhos.

“Imagina que você é um morador ou ribeirinho, e o cara chega com um fuzil e pergunta: ‘você vai colaborar para ganhar dinheiro ou vai querer morrer?’. A pessoa vai colaborar, naturalmente. Aqueles moradores que moram em flutuantes acabam sendo cooptados para o tráfico”, disse Torres.

Trajeto

Segundo o titular da DRCO, Guilherme Torres, o novo trajeto usado por traficantes surgiu há cerca de um ano e inicia na cidade colombiana de Cauca, local apontado pelas autoridades como um dos maiores pólos produtores da droga, seja pela “cultura” do cultivo ou pelo clima propício.

 De lá, a maior parte do skunk é transportado pelo rio Caquetá até o rio Japurá, descendo de barco e passando por municípios como Maraã, Tefé, Coari, Codajás, Anamã, até chegar em Manaus, onde é distribuída para a Europa e para o resto do Brasil.

Outros fatores

Ainda segundo o delegado do DRCO, outros fatores, como fiscalizações mais duras dos Estados Unidos, desmobilização das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e a cheia dos rios fizeram com que a antiga rota, que saía de Tabatinga pelo rio Solimões, fosse deixada de lado e desse espaço para a rota do Japurá. “A disputa deles é por quem é o dono da rota, mas nós somos os donos do território. Temos que fazer presença lá e estamos fazendo”, disse Torres.

Blog: Guilherme Torres, Titular do DRCO

(Foto: Winnetou Almeida)

“Temos que evitar a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) e a permanência dele no nosso Estado. Normalmente esse tráfico de drogas que vem do rio Japurá é um tráfico que tem como destino países da Europa. Já o entorpecente que  vem do Paraguai é o que alimenta o tráfico de drogas doméstico. Existem várias formas dessa droga ser enviada para o exterior. Tem gente que passa pelo aeroporto e até em navios, no porto. Imagine que eu tenho um navio grande e uma lancha cheia de drogas encostada. Quem vai fiscalizar o navio de noite? E isso resulta em casos como o do delegado Thyago Garcez, que desapareceu em Coari, durante uma abordagem a embarcações de traficantes. A área é crítica e estamos combatendo isso”.

Em números

US$ 350 é quanto custa um quilo de skunk na região da fronteira do Brasil com a Colômbia, de acordo com pesquisas realizadas por autoridades de segurança. Em Manaus, esse preço sobe para aproximadamente U$ 900 o quilo do skunk.

Apreensões no novo trajeto

Nos últimos meses, pelo menos duas grandes apreensões foram realizadas no rio Japurá, na nova rota do tráfico. No início de abril, 690 kg de skunk e cocaína foram apreendidos próximo do Município de Maraã. Em março, a quantidade foi maior: 1,7 toneladas e um fuzil foram encontradas com um colombiano em uma embarcação, também no rio Japurá, de acordo com a PF.

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