Os mais de 4 mil moradores do conjunto habitacional no bairro Santa Etelvina, na Zona Norte de Manaus, convivem com invasões, obras irregulares e insegurança
(Nas duas etapas, o conjunto habitacional Viver Melhor tem mais de 4 mil moradores e uma infinidade de problemas (Foto: Márcio Silva))
Construções irregulares, apartamentos com estrutura comprometida ou modificada irregularmente, comércios sem autorização de funcionamento. Misture tudo e adicione a falta de segurança e o crescimento populacional. O resultado: caos no conjunto Viver Melhor 1 e 2, no bairro Santa Etelvina, na Zona Norte da capital.
Considerado o maior conjunto habitacional construído pelo programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, o Viver Melhor tem mais de 4 mil moradores em suas duas etapas, que vivem em situação de risco crítico. É o que afirma Regina Portilho, 34, moradora do local desde que a obra foi entregue pelo ex-presidente Lula, em 2010.
A dona de casa reclama dos problemas estruturais do apartamento. Ela denunciou que um dos vizinhos construiu, no primeiro andar do conjunto, um “puxadinho” na varanda, sem autorização dos órgãos competentes.
“Ele foi notificado pelos próprios moradores a retirar a construção e desmontou. No entanto, existem outras pessoas por aqui que não têm noção de que é proibido esse tipo de prática. Já vimos muitos ‘puxadinhos’ por aqui. E o pior: é perigoso denunciar, por conta das represálias”, disse a dona de casa.
Comércios irregulares
Construções irregulares também ocorrem fora dos apartamentos, no entorno do conjunto. A CRÍTICA flagrou a construção de um estabelecimento comercial que “invade” a área da parada de ônibus.
Diante da falta de ações para conter as invasões, pelo menos 60% dos comércios irregulares que foram erguidos na avenida principal do conjunto, e que antes eram de madeira, se transformaram em construções de alvenaria. Nem a feira construída no local tem permissão de funcionamento.
A comerciante Sonia torres, 54, admitiu que os vendedores que construíram no local estão errados, mas explicou que uma comissão composta por vendedores e outros comerciantes irregulares já foi até a sede do Governo do Estado para apresentar um projeto piloto de um centro comercial no local, mas Sônia disse que a ideia foi ignorada. “Nós apresentamos esse projeto para vários, no entanto, não recebemos nenhum tipo de informações para solução. Por enquanto o que dá para fazer é continuar o nosso trabalho, antes que alguém destrua o que construímos com suor do trabalho”, reclamou.
Vizinhança
No entorno do conjunto, fica concentrada a invasão Paraíso Verde, constituída no local desde que os moradores chegaram às dependências do conjunto.
A equipe de reportagem do jornal A CRÍTICA visitou o local, mas foi impedida de prosseguir por moradores.
Para o pedreiro Vitor Hersh, 59, morador do Viver Melhor, a invasão contribui com a falta de segurança no conjunto, uma vez que, nos últimos dois meses, pelo menos três cadáveres foram encontrados na área do Viver Melhor. “Tanto a invasão, quanto alguns apartamentos aqui no conjunto são esconderijos de bandido. Eles ficam ‘entocados’ por aqui e à noite saem para cometer crimes. Muitos deles são fugitivos do sistema semiaberto. É preciso alguém que venha e dê um basta nessa vergonha”, desabafou.
Laudo ‘condenou’
Em março deste ano um laudo elaborado pela DPE-AM (Defensoria Pública do Estado do Amazonas) apontou que as edificações estavam em péssimas consdições estruturais e pedia indenização de R$ 133 milhões para os moradores do conjunto habitacional Viver Melhor.