MANIFESTAÇÃO

Mobilização na Zona Leste de Manaus pede fim da escala "6 por 1" no País

Movimentação neste feriado é nacional e faz parte de movimento de apoio à PEC da deputada Erika Hilton que deve tramitar no Congresso

Gaby Gentil
15/11/2024 às 10:29.
Atualizado em 15/11/2024 às 11:25

Manifestantes saíram em caminhada pela principal via da Zona Leste (Foto: Paulo Bindá)

Manifestantes se reúnem em Manaus, na manhã desta sexta-feira (15), feriado de Proclamação da República, para protestar contra a escala de trabalho 6x1, que permite apenas um dia de folga a cada seis dias trabalhados. O ato reúne movimentos sociais, sindicais e estudantis, e tem como objetivo principal lutar pela redução da jornada semanal e pelo fim desse modelo de escala. A concentração iniciou às 9h, na avenida Autaz Mirim, Zona Leste de Manaus. 

O protesto na capital amazonense faz parte de uma mobilização nacional que busca melhorar as condições de trabalho no País. O movimento é inspirado na proposta da deputada federal Érika Hilton (PSOL - SP), que busca reduzir a jornada de trabalho de 44 horas semanais para 36 horas, sem diminuir o salário, e adotar o modelo 4x3, com três dias de folga para cada quatro dias trabalhados.

Impacto na vida do trabalhador

Durante a manifestação, discursos, faixas impactantes e depoimentos pessoais de trabalhadores afetados pela jornada da escala 6x1 tomaram conta do espaço. 

Os manifestantes estão realizando o trabalho de panfletagem pelo arredores, e logo menos vão se posicionar na faixa de pedestres com suas faixas. Figuras políticas como Zé Ricardo, ex-deputado federal e vereador eleito pelo PT, e Vanda Witoto,  líder indígena e ativista climática filiada à Rede Sustentabilidade, também compareceram ao local e discursaram contra a escala 6x1.

Vanda Witoto e Zé Ricardo discursaram para os presentes em defesa da PEC

"“No dia de hoje a gente fala sobre a questão do trabalho, o direito ao trabalho, o direito à vida, o direito a ter tempo para si mesmo. O direito a ter tempo para a família, para o lazer, para passear, para estudar mais, para ficar na tranquilidade também, na convivência com as pessoas, para poder usufruir mais da vida. E o trabalho não pode ser uma escravidão. O trabalho não pode ser a razão da vida. Trabalho é um instrumento para garantir vida e qualidade em vida, que todas as pessoas têm direito. E é por isso que nós temos aí essa luta agora para acabar com essa escala, essa jornada de trabalhar seis dias da semana e folgar só uma”, afirmou Zé Ricardo.

Os manifestantes compartilham ainda suas experiências de exaustão, estresse e sacrifícios pessoais e familiares, destacando os efeitos da escala 6x1 em sua saúde mental e física.

Juventude e revolução 

A universitária Victoria Costa, 21 anos, passou muito tempo da sua jornada como estudante acadêmica estudando e trabalhando. Ela conta que trabalhou na escala 6x1, e foi uma etapa exaustiva, porque tinha que se desdobrar para cumprir todos os papéis da vida dela. 

“A escala 6x1 é escravidão moderna. A gente realmente não tem tempo para ficar com a nossa família, nem para cuidar de si mesmo”, disse ela, que foi motivada a participar do ato, pois acredita que a juventude é revolução e a evolução do País. 

“Precisamos ter sistemas de trabalho que sejam mais justos com o trabalhador, porque assim como eu, têm diversos estudantes e outras pessoas que se dividem em vários papéis na sua vida, e essa escala não permite que elas tenham qualidade de vida.

Estudante Victoria Costa considera a escala que ela já trabalhou como "escravidão moderna"

Apoio

A iniciativa conta ainda com o apoio do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que busca melhores condições de vida para os trabalhadores. De acordo com Fernanda Mourão, advogada do movimento, o papel do VAT nesse ato é duplo: 

“Mobilizar e atrair mais trabalhadores para a luta pelo fim da escala 6x1, fortalecendo o movimento, e demonstrar aos membros do Congresso que os trabalhadores permanecerão firmes e unidos, até conquistarem uma jornada de trabalho mais equilibrada”. 

O que é o VAT?

O Movimento VAT surgiu de um grito de revolta do trabalhador Rick Azevedo, ex-balconista de farmácia e atual vereador pelo PSOL no Rio de Janeiro, nas redes sociais, ecoando por todo o Brasil e mobilizando os trabalhadores pelo fim da escala 6x1. O objetivo principal é promover a saúde mental e física dos trabalhadores, para garantir e assegurar que estejam mais descansados, felizes e produtivos, e, acima de tudo, que tenham uma vida além do trabalho. 

A PEC

O Movimento VAT inspirou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada federal Érika Hilton com o objetivo de criar um espaço onde a qualidade de vida dos trabalhadores seja prioridade. 

E, em parceria com a deputada Érika, esse movimento defende a revisão da Constituição Federal para acabar com a escala 6x1 e implementar uma jornada de trabalho mais equilibrada, permitindo que os trabalhadores tenham tempo para suas vidas pessoais e familiares.

Fernanda Mourão representa o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que puxou o debate nacional junto com a deputada Érika Hilton

“Essa pauta é essencial para mim, como advogada trabalhista, e, para todo o País, por envolver dignidade, saúde pública e respeito ao trabalhador que é pai, mãe, e aos que não tem tempo para estar com seus familiares”, declarou a advogada Fernanda, que esteve presente no ato, em Manaus. “Trata-se também de um combate à exploração e a precarização causadas por essa escala de trabalho exaustiva e desumana, que exige seis dias de trabalho para somente um de descanso”, acrescentou. 

Bancada amazonense

A PEC alcançou o apoio necessário de ao menos 171 parlamentares, ultrapassando o limite mínimo para ser discutida na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, abrindo caminho para a revisão da escala 6×1 e melhorias nas condições de trabalho no Brasil.

A proposta ganha força na bancada amazonense! Os deputados Amom Mandel (Cidadania), Fausto Júnior (União Brasil) e Sidney Leite (PSD) oficializaram sua adesão ao texto na última terça-feira (12).

A caminhada

Por volta das 10h, os manifestantes seguiram em passeata pelas ruas da Zona Leste, acompanhados pelo carro de som com representantes de movimentos sociais e sindicais. No carro de som, o universitário Ruan Bentes, 18 anos, um dos organizadores do ato na capital amazonense, a se pronunciou durante a passeata. 

"Essa escala é desumana, uma escala de exploração, onde tira o direito ao descanso, tira o direito ao lazer dos trabalhadores… Então nós estamos aqui se colocando a disposição dos trabalhadores, fazendo esse ato, pra que a gente possa acabar com essa escala escravocrata."

Coletivo

O grupo de cultura popular Maracatu Pedra Encantada, que atua no fomento e difusão da manifestação afro-brasileira Maracatu Nação, também participou do protesto. Para eles, a escala 6x1 é um resquício da escravidão. 

Grupo Maracatu Pedra Encatada participou da mobilização

"A gente, por ser um grupo de cultura afro-brasileira, ou seja, vem de comunidades negras, acreditamos que a escala 6x1 é um resquício ainda da escravidão, onde colocam pessoas para trabalhar, sem pensar no próprio desenvolvimento da pessoa, na saúde e em condições insalubres. Então, através do fim dessa escala, teremos um avanço maior. E a gente sabe que os trabalhadores que atuam nessa escala são em maioria pessoas negras", destacou o fundador do grupo Maracatu, Marcelo Rosa.

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