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Mitos e verdades sobre o candiru, bagre da Amazônia que causa medo nos pescadores e ribeirinhos

Espécie ganhou destaque após fotografia de perita criminal mostrar o candiru saindo de um cadáver

Lucas Motta
online@acritica.com
08/09/2024 às 10:07.
Atualizado em 08/09/2024 às 10:07

Lúcia Daniel é doutora em biologia, pesquisadora e curadora da coleção de peixes do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). (Foto: Lucas Motta/A Crítica)

Em frente à Feira da Manaus Moderna, no centro da capital, os pescadores reúnem, às margens do rio Negro, os frutos de uma manhã de trabalho em pequenos balcões improvisados com madeira. Basta perguntar para qualquer um deles sobre um peixe em específico para que os relatos, com certo medo, surjam. 

“Vou falar pro senhor... esse candiru é perigoso, sim, viu? Ele gosta de entrar na intimidade do homem e de lá ninguém tira”, disse o pescador Carlos Silva.

A “intimidade do homem” na verdade é a uretra, um canal por onde a urina percorre da bexiga para fora do corpo. No caso de homens adultos, esse “tubo” pode ter até 20cm de cumprimento e 10mm de diâmetro. Segundo os pescadores, o local favorito para que o peixe candiru se aloje. 

“O candiru come carne, né? Ele se alimenta de tudo que tem carne, o senhor pode ver que tem peixe, tem jacaré... tudo ele come. É um bicho pequeno, mas acaba com tudo”, comentou outro pescador, o senhor José Fonseca.

Recentemente, o peixe ganhou destaque nacional quando a perita odontolegista Gisleine Medrado, do Instituto Médico Legal (IML) do Amazonas, passou na seletiva para o IV Concurso FotoForense. Ele premia registros feitos durante trabalhos de perícia em todo o Brasil e a foto de Medrado capturou um exemplar alojado na perna de um cadáver.

O senso comum regional apresenta o candiru como um animal que oferece risco (e um grande desconforto) para os seres humanos, principalmente pescadores ou banhistas desavisados que estejam nos rios do Amazonas, mas não é bem assim. 

Uma das espécias é parasita

A CRÍTICA conversou com a doutora em biologia, pesquisadora e curadora da coleção de peixes do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lúcia Daniel.  A bióloga explicou que, na verdade, existem duas grandes famílias do Candiru e apenas uma delas é essencialmente parasita. 

“Um é o candiru-açu, ele é grande com exemplares que chegam a mais de 20cm, mas eles se alimentam de invertebrados. Já há outro grupo, menores, é de parasitas que se alimentam do sangue de outros peixes ou de carcaças”, disse Lúcia Daniel.

Há diversos relatos sobre o candiru entrar na uretra do homem durante os banhos de rio. (Foto: Lucas Motta/A Crítica)

Alta produção de muco

 Entre as principais características do candiru está uma “pele” muito escorregadia já que ele tem uma glândula que produz muco em vasta quantidade. Além disso, perto da cabeça, eles possuem pequenas estruturas que se fixam no corpo do hospedeiro.

No caso dos parasitas, há os que se alojam no corpo de bagres maiores para se alimentar do sangue e há também os que perfuram a carne de outros animais mortos, deixando assim uma perfuração característica. 

O peixe vive em cardumes e geralmente aparece em águas que ficam perto de praias ou várzea, algumas vezes são encontrados também enterrados debaixo da areia.

Os pesquisadores ainda não conseguiram determinar exatamente como o candiru parasita é atraído, mas uma das hipóteses é a mudança de temperatura entre os fluidos, como o sangue ou a urina. Todavia, Lúcia deixou claro que os seres humanos não fazem parte da dieta desses peixes. 

“Dificilmente eles vai atacar uma pessoa dentro d’água a não ser que estejam muito alterados e sem opção de alimento. Nós, pessoas, não somos a fonte principal desse peixe. Eles vão atrás, principalmente de outros bagres” explicou. 

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