Legado

Menabarreto deixa legado de referência para medicina no Amazonas

“Intransigente, humano e um militante de referência”. É desta maneira que companheiros de luta do médico sanitarista, professor e ativista Menabarreto Segadilha França o descrevem

Waldick Junior
online@acritica.com
26/12/2022 às 18:20.
Atualizado em 26/12/2022 às 18:20

(Foto: Divulgação)

“Intransigente, humano e um militante de referência”. É desta maneira que companheiros de luta do médico sanitarista, professor e ativista Menabarreto Segadilha França o descrevem, ressaltando a sua contribuição na garantia de direitos básicos para os amazonenses. Ele faleceu no último domingo (25), aos 75 anos, após uma vida marcada pela atuação ativa em causas sociais, desde a preocupação com o saneamento básico das cidades à manutenção do Sistema Único de Saúde (SUS).

Um dos grandes destaques do trabalho do professor é a criação do internato rural para alunos de medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde ele começou a atuar como docente, em 1976, e, posteriormente, diretor da Faculdade de Medicina. O projeto teve início com moradores das comunidades Mocambo e Caburi, no interior de Parintins (AM), ainda na década de 1980.

“Aqueles profissionais que foram orientados por ele não viviam apenas nos consultórios. Eles faziam diálogo com a comunidade, com os bairros, com as famílias, sempre aproximando os compromissos da saúde pública com as necessidades sociais”, destaca a professora e poetisa Fátima Guedes, que mora no município. 

Segundo ela, a preocupação de Menabarreto com a saúde ia além dos atendimentos médicos e se firmava no compromisso com a melhora da qualidade de vida da população. “Ele se preocupava muito com a condição de Parintins, com as ruas, o saneamento básico, animais, resíduos sólidos e orgânicos, e a questão da mobilidade urbana. Ele foi uma voz contundente, provocando nos parintinenses uma voz de consciência para cobrar esses
direitos”, comenta ela.

Firme

Ex-diretor da Seção Sindical dos Docentes da Ufam (Adua), o professor José Alcimar de Oliveira diz que onde havia uma causa social, lá estava Menabarreto.

“Atuamos juntos quando construíram a ponte sobre o Rio Negro e a cidade universitária, no Iranduba, que foi abandonada e desabrigou muita gente do outro lado do rio. Chegamos a fazer reuniões com as populações atingidas”, afirma. 

Segundo Alcimar, o professor se destacava por ter um posicionamento firme e sem meias palavras. “Ele dizia o que era preciso. Estava sempre ligado aos movimentos de luta, um deles, o Educar para a Cidadania. A gente reunia esse grupo no auditório do nosso sindicato às quartas-feiras e discutíamos as questões sociais ligadas à saúde, saneamento básico, política urbana, educação, cidadania. E ele era presença permanente, não se acomodava”. 

Da mesma maneira, o professor Jacob Paiva, atual presidente da Adua, ressalta a presença constante de Menabarreto em diferentes frentes de movimentos sociais. “Ele sempre esteve na nossa luta em defesa da universidade, dos direitos dos estudantes, dos técnicos, dos professores e da educação básica. Apoiou sempre o movimento dos sem-teto também. Vai fazer falta”. 

Humano

Não faltam relatos sobre a atuação de Menabarreto. Na década de 1980, por exemplo, ele fez um trabalho com alunos de medicina para investigar as doenças que acometiam trabalhadores de um estaleiro, em Manaus. Emocionada pela perda do amigo, a autônoma Luzarina Varela da Silva lembra do projeto.

“Eu o conheci nessa época, quando eu era da direção do Sindicato dos Metalúrgicos e militava na CUT [Central Única dos Trabalhadores]. Ele levava os alunos dele para pesquisar os trabalhadores do estaleiro. Ele ia pesquisar como era a vida dos trabalhadores que soldavam dentro do porão das balsas. As doenças que tinham por conta do trabalho insalubre. Ele dizia para a gente que o trabalho dele era humanizar os médicos, levando-os para a periferia para conhecer a realidade”, comenta ela.

Menabarreto trocava a visão de médico em consultório para ir até a origem dos males que causavam doenças, especialmente nos mais pobres. Luzarina conta que, na década de 1990, ele chegou a pesquisar com alunos sobre a qualidade da água do bairro Zumbi dos Palmares, recém-fundado, à época.

“Ele deixou muitas sementes plantadas. Essa defesa dele pelo SUS de qualidade era uma das pautas que mais o preocupava. Ele queria que todos e todas tivessem uma qualidade de vida. Não de riqueza, mas de vida, para viver bem”, ressalta ela.

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