BUSCA POR JUSTIÇA

Médico preso por favorecimento à prostituição de menores acumula outras duas acusações de homicídios

A CRÍTICA ouviu os familiares de Melina Taveres, 38, e Alan Braga, 65. Eles afirmam que os dois morreram após realização de procedimento cirúrgico feito pelo gastroenterologista Edson Ritta Honorato, de 67 anos, e agora se unem em busca de justiça

Michael Douglas
online@acritica.com
27/04/2022 às 19:54.
Atualizado em 27/04/2022 às 20:08

As vítimas Melina e Alan (esquerda e direita). Familiares acusam o médico Edson Ritta Honorato (centro) de ser o responsável pelas mortes (Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal)

O médico gastroenterologista Edson Ritta Honorato, de 67 anos, preso no ínicio de abril por suspeita de favorecimento à prostituição de menores, também está sendo acusado de outros crimes. Duas famílias amazonenses afirmam que ele é o responsável pelas mortes de Melina Seixas Tavares, 38, e Alan Leite Braga, 65. Segundo integrantes das famílias, Melina e Alan teriam morrido após realização de procedimento cirúrgico feito pelo dito profissional da saúde. 

De acordo com as famílias, ambas as vítimas teriam procurado o médico para a inserção de um balão gástrico - um procedimento bariátrico que consiste na ingestão de um balão que fica no estômago do paciente, visando a diminuição da alimentação e perda de peso. No entanto, ambos os procedimentos, terminaram de forma fatal.

O primeiro caso registrado foi o da jornalista Melina Seixas, que segundo a família dela, no dia 5 de fevereiro, foi realizar uma consulta com o médico, visando a inserção do balão gástrico, procedimento esse que foi feito no mesmo dia – isso sem que Edson Ritta tivesse nenhum exame de risco cirúrgico. 

A jornalista Melina Seixas morreu durante procedimento cirúrgico feito pelo médico (Foto: Arquivo da Família)

“Disseram que o procedimento era algo simples, e que em 30 minutos ela estaria apta para voltar para casa”, afirma Darlan Taveira Peres, marido de Melina.

Segundo ele, após o procedimento, e ainda na sala de cirurgia, Melina passou mal e teve uma parada cardiorrespiratória, sendo atendida pelo SAMU. Darlan conta que Melina foi encontrada dentro da sala de procedimento, no chão, desacordada, com os lábios e rosto roxos, sem nenhum tipo de equipamento de emergência para reanimá-la.

Possível erro médico

Melina foi removida da clínica e levada para o Hospital Pronto Socorro 28 de Agosto, onde sofreu outras três paradas cardíacas, vindo a falecer ainda no mesmo dia.  

“Melina faleceu vítima de um erro médico, já que esse ‘profissional’ não tomou os cuidados necessários para a realização de um procedimento como esse, que ele mesmo chama de simples”, afirma Gilvan Seixas, ex-prefeito do município de Barreirinha, e pai de Melina.

Dois meses após esse primeiro caso, o segundo foi registrado, desta vez com o funcionário público de Careiro Castanho Alan Leite Braga, que sem saber do caso anterior, buscou o médico para o procedimento cirúrgico. Ele teria entrado em contato com o médico no dia 28, vindo a fazer o procedimento dois dias depois. 

O funcionário público Alan Leite Braga morreu dois meses depois de Melina (Foto: Arquivo Familiar)

“No dia 28 de março, o meu irmão foi procurar esse médico, e na mesma hora ele já queria meter o balão no meu irmão, mas ele disse que não estava preparado. [Dois dias depois ele fez a cirurgia], em 15 minutos ele meteu o balão no meu irmão, tirou da sala [de cirurgia] e disse que ele estava bem, mas ele estava passando mal. Só que ele dizia ‘daqui a meia hora ele tá legal’ e o tempo todo mandando tirar o meu irmão de lá do consultório, para não acontecer o que aconteceu com a outra moça [Melina Seixas, que teria morrido durante uma cirurgia no mesmo local]”, afirma Aquiles Braga, irmão de Alan.

Antes da morte

De acordo com relato da família de Alan Leite Braga, após o procedimento cirúrgico, ele foi levado para casa, e teve uma série de vômitos, até mesmo de sangue. No dia 31 de março, Alan Leite – junto com um funcionário pessoal – teria ido novamente até o consultório de Edson Rita, para que o Balão Gástrico fosse retirado dele.  

Sem nenhuma solução ou assistência, Alan voltou para casa e no dia seguinte foi levado para o pronto socorro de Careiro Castanho, sendo transferido no mesmo dia para o Hospital 28 de Agosto, em Manaus, onde foi repassado que o caso dele era grave – com o balão gástrico estourado e os órgãos infeccionados. Ele ainda chegou a fazer uma cirurgia para a retirada do balão, mas no dia 7, ele acabou morrendo.

Conforme o irmão de Alan Leite, após tomarem conhecimento do caso e da situação de Alan, os familiares buscaram um posicionamento do médico Edson Ritta, mas então descobriram que ele havia sido preso, por suspeita de favorecimento a prostituição, na Zona Leste de Manaus – sendo liberado da prisão dias depois. 

Aquiles Braga mostra o irmão Alan ainda vivo em foto de família (Foto: Gilson Mello)

“Ele [Edson Ritta Honorato] não tinha aparelhagem nenhuma, não sei como deixam alguém fazer uma operação desse jeito. O que mais me revoltou é que ele não deu assistência nenhuma para o meu irmão, e ficava apenas dizendo que ele ia ficar bem. E quando fomos atrás dele, descobrimos que ele foi preso. Ele operou meu irmão um dia e pouco depois estava preso. Quer dizer, se tivéssemos esperado, não teria acontecido isso com o meu irmão”, relata Aquiles.

União por Justiça

Diante de tais perdas, as duas famílias se uniram e agora buscam agora justiça pelas duas mortes, indo desde a cassação do diploma de médico de Edson Ritta, a até a prisão dele por homicídio - além dos demais crimes. 

“E para que não haja a continuidade de procedimentos tão imprudentes e negligentes por parte desse médico, nós esperamos que o Conselho Regional de Medicina possa tomar as providências necessárias”, afirma Gilvan Seixas. 

“[Alan] Era uma pessoa muito alegre, boa e gostava de ajudar todo mundo. Ele aceitava a palavra das pessoas, tanto que aceitou a palavra desse filho da p***. Ele chegou a dizer que [o procedimento] ia acabar até com o problema de gota que ele tinha”, afirma Aquiles Braga.

Posicionamentos

Em nota, o 22º Distrito Integrado de Polícia (DIP) confirmou que ambos os casos estão sendo investigados, mas que outras informações ainda não podem ser divulgadas, para não atrapalhar os trabalhos policiais. Além disso, a investigação de favorecimento a pedofilia está sendo investigada pela Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca).

Já o Conselho Regional de Medicina do Amazonas, também por meio de nota, disse que “as condutas adotadas pelo Dr. Edson Ritta Honorato, em ato médico, estão sendo objeto de apuração administrativa, nos termos do código de processo ético-profissional”. 

A reportagem de A CRÍTICA tentou contato com a defesa do médico Edson Ritta Honorato, mas até o momento não obteve retorno.

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