Meio Ambiente

Igarapés desaparecem e o lixo toma conta do lugar

Além dos moradores sofrerem com a vazante, vêm os perigos que surgem com o aparecimento do lixo

Robson Adriano
onlne@acritica.com
07/09/2024 às 13:39.
Atualizado em 07/09/2024 às 13:39

Com a estiagem severa e o ‘desaparecimento’ dos igarapés, o que surge no local são montanhas de lixo composto de plástico, metal, vidro e outros. (Foto: Jeiza Russo/A Crítica)

Com o rio Negro em processo de vazante desde junho deste ano, as águas que passam pelos igarapés de Manaus também desaparecem e o lixo toma conta dos espaços, onde há alguns meses a água era predominante. Na orla do bairro São Raimundo, localizada na zona Oeste da capital, os resíduos tomam conta do extenso campo que se formou com a seca. 

No lugar existem famílias que vivem em casas-flutuantes que, em meio ao lixo que em grande maioria é material plástico, esperam o executivo municipal atuar no lugar para a retirada dos resíduos que vem das tubulações do esgoto, assim como são arremessados de cima da ponte, na rua Cinco de Setembro, que liga aquele bairro a zona Centro-Sul da capital, pelos pedestres e motoristas que trafegam na via. 

Lixos são jogados por moradores e também por motoristas que trafegam pela ponte de São Raimundo (Foto: Jeiza Russo/A Crítica)

 A dona de casa, Deusuíta de Lima, 63 anos, mora há 12 anos no parque Rio Negro, desde que saiu da rua Beira Mar, após o lugar ser revitalizado pelo Programa Social e Ambiental de Manaus e do Interior (Prosamin). Ela contou que não foi contemplada com uma moradia e vive na casa-flutuante com dois filhos e dois netos. O marido morreu há três anos. E aguarda uma ação de limpeza. 

“Esse lixo vem de dentro dos igarapés. E olha que se tira muito lixo todo o ano, mas não tem como acabar com esse lixo porque as próprias pessoas, a mão dos homens que jogam. Todo ano é essa mesma coisa. Quando o rio está cheio, vem dessa ponte. Jogam sacos e sacos de lixo aqui para baixo. Os carros passam e jogam. E quando dá a chuva e vem a enxurrada, vem muito lixo”, declarou de Lima.

Deusuíta de Lima, 63 anos, disse que se acumula vem de dentro dos igarapés e lamento dizer que não tem como acabar com esse lixo porque as próprias pessoas jogam e poluem rios e igarapés. (Foto: Jeiza Russo/A Crítica)

 Além da extensa camada de lixo que surgiu com a seca, Deusuíta falou que esse ano cobras também surgiram com a descida das águas. “Esse ano deu muita cobra. Tanto quando estava enchendo (o rio) e quando estava secando”, disse. “Dá para ver (as cobras) antes que aconteça alguma coisa, algum acidente”, acrescentou a dona de casa.

Ela se cadastrou novamente no Prosamin e espera ser contemplada com uma moradia. “Eu saí da (rua) Beira Mar em 2012. Não ganhei o meu apartamento. Tornei a me inscrever e estou na luta de novo. Estou na espera. Foi até meu esposo que fez (a inscrição). Ele já faleceu. Vai fazer três anos que ele foi embora e me deixou. Não sou aposentada e dependo dos auxílios do governo. Recebo aquele da cesta básica”, contou.

Maior parte do lixo é jogada da ponte

Há poucos metros de Deusuíta, mora o autônomo Bento Alexandrino, 40 anos, com a esposa, três filhos, uma nora e uma neta. “Faz tempo que a prefeitura não aparece por aqui para trabalhar. Ano passado entraram com umas máquinas para limpar, mas nunca mais vieram”, disse. Ele vive no lugar há seis anos e contou que parte desse lixo vem de cima da ponte, jogado por quem passa pela via.

Bento Alexandre explicou que todo o lixo que está na região não é da população local e que os moradores se organizam para limpar a área. (Foto: Jeiza Russo/A Crítica)

“De vez enquando cai uma sacola em cima dos flutuantes. Aqui, no nosso, jogaram pedras. O pessoal passa fazendo baderna”, declarou o autônomo. “

 Tem aparecido muitos ratos, mas por causa do lixo. Não tem muito o que fazer. Esse lixo todo não é nosso. Não tem muito o que fazer. A gente mesmo se organiza para limpar aqui, mas é muito lixo”, complementou. 

À espera por limpeza

Mais à frente da casa-flutuante de Bento, mora o pintor naval, Janderson Ribeiro, 42 anos. Ele está afastado pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) após sofrer um acidente de trabalho e passar por uma operação e conviver com uma bolsa de colostomia no lado direito do corpo. Na moradia de madeira, ele vive com mais três pessoas.

Janderson Ribeiro disse que todos os anos limpa o local, mas com a chegada da cheia, surgem mais lixo vindos de outras áreas. (Foto: Jeiza Russo/A Crítica)

“Todos os anos a gente limpa aqui, mas, não tudo só onde a gente mora. Fora que quando vem a cheia e traz o lixo e fica assim. É complicado. Eu estou operado. Estou encostado pelo INSS. A prefeitura não apareceu e nem deu as caras. Estamos pensando limpar de novo. Não é porque a gente mora aqui que merecemos ser tratados como bicho”, disse Janderson. “

Sem respostas

 A reportagem de A CRÍTICA procurou no início da semana, via assessoria de comunicação, a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) para saber se existe um cronograma ou planejamento de ações para a retirada dos lixos no parque Rio Negro, que surgiram com a seca deste ano. Até o fechamento desse material não tivemos retorno da pasta. 

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