CARESTIA

Gasolina pressiona orçamento e pode encarecer produtos

Aumento do combustível cria efeito cascata que pode se espalhar para outros setores

Lucas dos Santos
10/02/2025 às 14:43.
Atualizado em 10/02/2025 às 14:43

(Foto: Jeiza Russo/A CRÍTICA)

Com a gasolina chegando a R$ 7,29 na cidade de Manaus, os preços de outros produtos tendem a aumentar escalonadamente. A avaliação da economista Denise Kassama é de que, com o combustível mais caro, outros fatores que contribuem para o preço final de produtos – como alimentos e outros itens importados – também tendem a sofrer reajuste.

“Combustível mais caro aumenta o custo dos fretes e meios de transporte, o que por sua vez acaba afetando o consumidor de uma maneira geral, pois os produtos serão onerados. Ou seja, mesmo que você trabalhe em casa, quando for pedir uma comida por aplicativo, ela vai ficar mais cara porque absorveu o aumento do frete, assim como a entrega dela”, disse.

Em um exemplo prático, se uma pessoa abastece 45 litros de gasolina por semana, até antes do reajuste, quando a gasolina estava em R$ 6,99, ela gastaria R$ 1.258,20 por mês. A partir do novo preço, esse gasto subiria para R$ 1.312,20, um aumento de R$ 54. Denise destacou que esse custo ocorre principalmente pelo fato de a Refinaria da Amazônia (Ream), privatizada em 2022, “não está fazendo o refino, mas sim comprando a gasolina pronta e colocando esse custo no bolso do consumidor”.

Fora da curva

O coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros do Amazonas (Sindipetro-AM), Marcus Ribeiro, afirmou à reportagem que o crescimento de R$ 0,30 no preço da gasolina “reflete um problema estrutural no mercado de combustíveis do Amazonas”, lembrando que o aumento é muito maior que o reajuste do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na gasolina, o qual foi de R$ 0,10.

“Esse aumento fora da curva, por sinal, ocorre porque o monopólio privado que controla a refinaria e a distribuição de combustíveis na região define os preços sem concorrência. Quem controla isso é o Grupo Atem, que adquiriu a única refinaria na região Norte após a privatização no governo [Jair] Bolsonaro”, disse.

O sindicalista afirma que o grupo controla os preços de forma abusiva por dominar todas as etapas do mercado de combustíveis local, desde a produção à distribuição. Para ele, a empresa controladora da Ream “tenta brincar com a inteligência do povo amazonense”.

“Se eu diminuo [o preço de venda da gasolina] na refinaria, o que eu vou fazer para compensar essa diminuição na refinaria? Eu vou aumentar na distribuição. Além disso, o Grupo Atem tem isenção de PIS e Cofins desde 2017, um benefício que nunca foi repassado aos consumidores. Agora pior, com a reforma tributária essa isenção foi transformada em lei, consolidando ainda mais o poder do grupo sobre o mercado”, criticou.

Em números, ele afirma que a empresa embolsará R$ 3 bilhões por ano que poderiam ser repassados para a União, resultando em investimentos para a população brasileira. Na via contrária, “a população amazonense continua pagando a gasolina mais cara do país, sem transparência ou justificativas claras para esses reajustes”.

Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Manaus tinha até o dia 8 de fevereiro o quarto maior valor médio do país na venda de gasolina comum. O preço médio nos 40 postos pesquisados na capital foi de R$ 6,98, considerando que o preço mínimo encontrado foi de R$ 6,97 e o máximo, R$ 6,99.

Segundo a tabela da agência, o preço médio da metrópole amazonense ficou abaixo somente de Boa Vista (RR), com R$ 7,02; Porto Velho (RO), com R$ 7,28; e Rio Branco (AC), com R$ 7,54. O impacto dos novos preços aparecerá no próximo relatório semanal da ANP.

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