Verão amazônico

Em Manaus, agosto foi quente, mas setembro será ainda pior

A capital do amazonas tem previsão de máximas de 38°C com sensação térmica de 41°C e calor intenso a partir de 3 de setembro

Robson Adriano
cidades@acritica.com
31/08/2024 às 09:02.
Atualizado em 01/09/2024 às 15:41

Catadora de latinhas Sônia Freitas, 60, e o marido José Cruz, 62, moram em uma casa flutuante, na orla do bairro de São Raimundo (Foto: Paulo Bindá)

Manaus, no mês de agosto, enfrentou dias de forte calor. E a previsão para setembro é de “calor excessivo”, conforme a plataforma Weather, associada ao Google. A capital do amazonas, para o nono mês do ano, terá máximas de 38°C com sensação térmica de 41°C e “calor intenso a partir de 3 de setembro”, segundo o site. Assim como o Weather, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aponta para o mês que inicia nesse domingo (1º) em Manaus terá “calor em excesso”.

O manauara pode recorrer ao ar-condicionado para se refrescar a manter a temperatura do corpo em níveis aceitáveis e não prejudiciais à saúde. 

Mas isso não é a realidade da catadora de latinhas Sônia Freitas, 60 anos, moradora do bairro São Raimundo, zona Oeste da cidade. Sentada na porta dos fundos do flutuante de madeira de três cômodos, onde mora com o esposo, José Cruz, 62 anos, dois filhos e a nora de 18 anos grávida de um mês, tenta amenizar o calor. 

Sônia contou que está sem gás de cozinha há duas semanas e prepara o almoço na lenha. Era por volta de 14h e ainda não tinha almoçado. Ela vende as latinhas coletadas na praia que formou debaixo da ponte com a seca para, segundo ela, conseguir R$ 40 ou R$ 50. O calor já a fez passar mal por duas vezes. 

“Tem dias que a gente está bem e outro ruim. Eu tenho problema de coração. Eu já tive duas paradas cardíacas. Uma não está nem com dois meses. Fiquei internada por três dias”, disse Sônia.

A casa-flutuante não tem ar-condicionado e o ventilador é única forma atenuar o calor durante a noite. Sônia revelou que a pressão arterial “já chegou ao ponto de 20 por 8”. O período de seca para ela é difícil. “Porque fica distante para eu juntar latinha. Eu vou aqui pelas beiradas. Na cheia brota mais latinha”. 

Ela recebe o benefício do Bolsa Família, do governo federal. “É para o nosso sustento e não dá, porque a gente precisa comprar o gás e o alimento. E tudo está difícil”.

Nem o ar-condicionado dá conta

Na casa-flutuante da dona de casa Angelina Xavier, 53 anos, existe um ar-condicionado de janela dividido para cinco pessoas. Ela mora no lugar há dez anos, no bairro de São Raimundo, e disse que passa mal com o forte calor. “Eu tenho pressão alta e problema de diabete e é muito quente. Muito quente mesmo. Não tem para onde correr. Às vezes nem o ar (condicionado) dá conta”, disse.

No flutuante onde mora Angelina Xavier, 53, tem um ar-condicionado para cinco pessoas (Foto: Paulo Bindá)

 Com a seca, uma camada de lixo surgiu na orla. Angelina acredita que o calor e o acumulo dos resíduos atrai doenças. “O que está faltando é a limpeza. Eu todos os dias acordo com dor de cabeça e mal-estar. Tem que ter uma mudança nessa cidade. Não está fácil”, pontuou a dona de casa.

Calor e doenças

O médico especialista em dor e cuidados paliativos, Washington Júnior, explicou que com a alta temperatura surge a insolação - exposição excessiva ao sol - e em consequência a desidratação. “Com a insolação vem a desidratação, que pode piorar doenças pré-existentes, principalmente na população idosa. Como, por exemplo, pacientes com insuficiência renal.  Essa desidratação piorar quadros crônicos de pacientes que já possuem essas doenças”.

Procura por atendimento

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que 96 pessoas deram entrada nas unidades hospitalares do estado com quadros de desidratação no ano passado. Até junho deste ano, inicio do verão amazônico, foram contabilizados 33 pacientes para essa mesma condição clínica. A SES reforçou que “a desidratação, além de um diagnóstico primário, também é consequência de outras doenças”.

A recomendação do médico especialista em dor e cuidados paliativos, Washington Júnior, é intensificar a hidratação (Foto: Junio Matos/AC)

Além da desidratação, a exposição excessiva ao sol pode resultar em casos de câncer. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) para o triênio 2023-2025 estima o surgimento de 704 mil casos novos de câncer no Brasil. No Amazonas, para esse período, é estimado o surgimento de 40 casos para câncer de pele do tipo melanoma e 540 não melanoma. Para Manaus, são esperados 20 neoplasias de pele melanoma e 220 não melanoma. 

“Proteção solar com uso do protetor solar com FPS no mínimo 30. Hidratação vigorosa com água ou suco. Se for praticar atividade física, tentar faze-lo em horários oportunos, antes das 9h e após às 16h. Se precisar se expor ao sol fazê-lo com proteção de barreira, tipo blusas, chapéu e óculos. Atenção especial para crianças e idosos que são os públicos mais vulneráveis. E atenção aos sintomas: queimadura na pele, febre e dores musculares”, disse o especialista.

Recomendação

A recomendação médica é hidratação. “O corpo humano é homeotérmico: consegue regular a temperatura. Quando se está em ambiente quente, o corpo consegue regular a temperatura através da transpiração. E quando se está em ambiente com umidade relativa do ar alta, não consegue regular, pois o corpo entende que  tem umidade fora. A importância da hidratação se dá nas altas temperaturas e nas baixas. A palavra que resume tudo isso é: hidrate-se”, frisou o médico especialista em dor e cuidados paliativos, Washington Júnior.

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