Procedimento ainda divide opinião, havendo que prefira enterrar o ente querido, mas há quem opte pela cremação
A diretora do Amazon Crematório, Queila Dias, explica como funciona a cerimônia de cremação. (Foto: Daniel Brandão/A Crítica)
O Dia de Finados, celebrado neste sábado (2), é uma oportunidade para muitos revisitarem os entes queridos já falecidos. Em Manaus, a data reúne milhares de pessoas nos cemitérios, e a Prefeitura de Manaus amplia o horário de funcionamento e reforça a atuação dos servidores para atender ao aumento no fluxo de visitantes. Em vários cemitérios, há missas em homenagem aos falecidos e um movimento intenso de vendas de flores e velas.
Nos últimos anos, outra prática tem ganhado espaço na capital amazonense: a cremação. Os moradores de Manaus ainda têm opiniões variadas sobre o tema, com muitos sendo a favor, contra ou ainda sem uma opinião formada. A equipe de A CRÍTICA foi até o centro da cidade e ouviu algumas pessoas sobre o assunto. A industriária Thamires Santos, que perdeu a irmã recentemente, não gosta da ideia de cremação. Para ela, o cemitério é um local sagrado e representa a única opção para o descanso eterno.
Resíduos ósseos são triturados para formar as cinzas, que são entregues em uma urna. (Foto: Daniel Brandão/A Crítica)
O militar João Caio vê a cremação de forma prática e favorável, especialmente caso um familiar deseje esse procedimento.
A técnica de enfermagem Jaqueline Neto se sente dividida. Ela reconhece a falta de espaço nos cemitérios da cidade, mas ainda não se sente convencida de que a cremação seja a melhor opção.
Atualmente, Manaus possui apenas um crematório, o Amazon Crematório, inaugurado em 2021. Desde então, a demanda pelo serviço cresce anualmente. Comparando 2023 ao período de janeiro a outubro de 2024, o número de cremações aumentou em 60%, segundo o estabelecimento. A diretora do crematório, Queila Dias, explica como funciona a cerimônia de cremação.
Custo padrão de uma cremação é de R$ 5.075, independente do tamanho ou peso da pessoa. (Foto: Daniel Brandão/A Crítica)
Após a despedida, o caixão é direcionado ao forno — um equipamento alemão de alta tecnologia que atinge entre 900°C e 1.200°C. O tempo de cremação varia conforme o peso da pessoa e dura, em média, de três a quatro horas. Dias destaca que os resíduos não ósseos evaporam no processo, enquanto o material ósseo é triturado para formar as cinzas, que são entregues aos familiares em uma urna.
Dias também mencionou que muitos escolhem espalhar as cinzas em locais significativos para o falecido, como mares, rios ou áreas naturais. Outros preferem plantá-las em urnas com sementes de árvores. Ela enfatizou que o processo é seguro para o meio ambiente.
O Amazon Crematório oferece um custo padrão de R$ 5.075 para a cremação, independente do tamanho ou peso da pessoa. As urnas, por outro lado, têm variação de preço, de R$ 117 a R$ 2.500, dependendo do material. Há opções personalizadas, como colares ou altares para conservar as cinzas. O serviço é gratuito para famílias em situação de vulnerabilidade, em parceria com a Prefeitura de Manaus, e o auxílio pode ser solicitado pelo telefone (92) 99442-6858, disponível 24 horas.
Crematório também é utilizado para a cremação de animais de estimação, com as cinzas depositadas em pingentes (Foto: Daniel Brandão/A Crítica)
A cremação é indicada para mortes naturais, que não exigem liberação judicial, mas em casos de mortes violentas, como acidentes, é necessário um "alvará judicial" para autorizar o processo, uma vez que a cremação impossibilita uma exumação posterior. A solicitação pode ser feita pela família, com o apoio de um advogado, mas o Amazon Crematório oferece assistência jurídica para o processo.
Queila Dias observa que ainda existe resistência em Manaus em relação à cremação. Ela relata, por exemplo, que uma funcionária foi destratada em um comércio por estar usando a farda da empresa, com o dono associando a cremação a "má sorte". Há também casos de famílias que se recusam a respeitar o desejo de cremação de um ente querido.
A psicóloga Adriana Areque explica que essa resistência pode ser fruto da falta de informação sobre a cremação, especialmente porque o serviço é recente na cidade. Ela acredita que as novas gerações, mais familiarizadas com a prática, podem modificar essa percepção.
“Essas reações estão muito ligadas às crenças familiares, transmitidas por gerações. A mudança de mentalidade é um processo gradual, mas as novas gerações, expostas ao contexto atual, tendem a ser mais abertas a essa opção de encerrar ciclos”, afirmou.
Areque também lembra que manter as cinzas em casa não significa que o luto será mais rápido ou fácil, pois o processo é pessoal e complexo, passando por cinco estágios: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.