MANIFESTAÇÃO

Advogados realizam ato público no Ministério Público em apoio a advogada ofendida por promotor

Durante a manifestação, a advogada Catarina Estrella relatou que teria sido ofendida em diferentes momentos anteriores ao de ontem, quando foi comparada a uma cadela

Lucas Vasconcelos
online@acritica.com
14/09/2023 às 13:23.
Atualizado em 14/09/2023 às 14:19

Ato foi realizado no fim da manhã desta quinta-feira (14), na frente da sede do Ministério Público do Amazonas (MPAM) (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

Com palavras de ordem e faixas com dizeres ressaltando que “prerrogativas não são privilégios”, dezenas de advogados estiveram presentes em ato de desagravo em defesa da advogada criminalista Catarina Estrella, que foi comparada a uma cadela pelo promotor de Justiça Walber Nascimento.

A manifestação aconteceu na manhã desta quinta-feira (14), em frente ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM), localizado na avenida Coronel Teixeira, bairro Nova Esperança, Zona Oeste de Manaus.

Catarina Estrella, ainda abalada com a situação, também esteve presente no ato e exigiu respeito à classe das advogadas e igualdade de gênero.

A advogada criminalista Cararina Estrella (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

“Isso é uma vergonha. Eu não tenho diploma comprado. Eu estudei. Quero um país melhor, um país justo que respeite homens e mulheres. Enquanto não estivermos em pé de igualdade entre homens e mulheres, eu defenderei sim essa igualdade. Atingimos na lei, mas no dia a dia a sociedade ainda discrimina muito a mulher. Os órgãos discriminam a mulher, as relações, inclusive familiares, também discriminam a mulher. Estou sendo objeto de crítica no perfil do promotor por mulheres. Isso é uma vergonha. Exijo respeito. Nenhuma mulher merece ser chamada de cadela ou comparada a cadela. Respeito os animais, mas eles não são mulheres. Não admito que comprem seres humanos a mulheres”, declarou Catarina.

(Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

‘Me chamou de burra’

No ato de desagravo público, a advogada Luciana Terças contou à imprensa que também já foi vítima do promotor de Justiça Walber Nascimento em uma sessão de júri popular.

“Várias vezes em plenário ele me ofendeu. Ele me chamava ‘essa burra é minha aluna, como que essa burra passou?’. Aí eu [penso] se eu sou burra e fui aluna dele, ele é mais incompetente do que eu porque não me ensinou direito. Inclusive outro advogado em um júri que participei falou que tinha estudado Direito Penal com a professora Jussara Pordeus, que é procuradora. Aí ele falou ‘É outra incompetente que não sabe fazer nada. Como é que aquela burra dá aula de Direito Penal?’. Ele falou muitas vezes isso e está tudo gravado na sessão do júri popular”, relatou a advogada que estava em defesa de Catarina.

Para a advogada, Walber precisa ser afastado e punido pelo ato.

“Ele é altamente deselegante e, sinceramente, como pessoa ele não merece nada. Ele tem histórico com mulheres. Adora humilhar mulheres. Eu nunca fiz nada para esse senhor, desconheço ele. Todo júri que entro com ele, ele me pisa, humilha e eu nunca fiz nada. Não sou deselegante como ele. Ele já passou dos limites, não sei como ele é promotor de Justiça. Ele precisa ser punido e afastado. Ele é acostumado a fazer isso”, acrescentou Terças.

Repúdio ao promotor

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Amazonas (OAB/AM), Jean Cleuter, ressaltou que o repúdio não é ao Ministério Público do Amazonas e sim diretamente ao promotor de Justiça.

O presidente da OAB-AM, Jean Cleuter, também esteve presente em apoio à advogada (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

“O que estamos aqui repudiando é a conduta de um membro do Ministério Público. Isso tem que ficar claro. Não há uma afronta entre instituições. Estamos aqui para defender o direito das prerrogativas das advogadas e dos advogados. É bom deixar claro para a sociedade que se o seu advogado está tendo a prerrogativa violada, quem está sendo violado é você, cidadão. É toda a sociedade. Por isso a Ordem dos Advogados do Brasil não pode permitir essa violação”, pontuou o presidente da OAB/AM.

Impedimento

Caso um magistrado aposentado queira exercer a função de advocacia, a Ordem dos Advogados do Brasil não pode impedir, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Para Jean Cleuter, esse tipo de conduta não permitirá que ele exerça a função de advogar.

“Geralmente quando o magistrado se aposenta, um membro do Ministério Público se aposenta, ele quer requerer a carteira da OAB. Então nesse momento toda a avaliação da conduta que ele teve durante o cargo vai ser avaliada pela Ordem dos Advogados do Brasil. Não podemos permitir que violadores de prerrogativas sejam advogados”, pontuou Cleuter.

MPAM se pronuncia

Em nota, o Ministério Público do Amazonas (MPAM) se manifestou acerca do ocorrido na sessão do 3° Tribunal do Júri, em que o promotor Walber Nascimento comparou a advogada Catarina Estrella a uma cadela, e informou que está apurando o caso.

“Nesse sentido, [o MPAM] reafirma o seu compromisso com a defesa dos direitos da sociedade, em especial das mulheres, bem como de todas as advogadas do Estado do Amazonas. Além disso, informa que a Corregedoria-Geral do Ministério Público do Amazonas instaurou reclamação disciplinar com o objetivo de apurar os fatos ocorridos”, descreve a nota.

Além disso, o órgão reiterou total respeito à advogada, “assim como a todas as advogadas e advogados e à Ordem dos Advogados do Brasil”, conclui a nota.

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