Especialista em direito ambiental debate sobre o desafio de enfrentar os impactos desiguais das mudanças climáticas
As mudanças climáticas avançam em um ritmo alarmante, ameaçando ecossistemas, economias e populações vulneráveis. Dados recentes mostram que a temperatura média global já ultrapassou 1,6°C acima dos níveis pré-industriais, intensificando eventos extremos. No Brasil, um estudo do Centro Brasil no Clima divulgado recentemente revelou que o número de municípios afetados por secas passou de 48,6% para 53,4% entre 2017 e 2020, enquanto enchentes e deslizamentos causaram 909 mortes na América Latina em 2023.
Em 2024, a situação permanece inalterada, com destaque para as enchentes e inundações que atingiram o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e o início de maio, resultando em uma das maiores catástrofes climáticas da história do país. Para o advogado especialista em direito ambiental e mudanças climáticas Edson Damas, do escritório Damas e Lima, essa escalada demonstra a necessidade urgente de ações concretas. “Os efeitos das mudanças climáticas são desproporcionais. Quem menos contribuiu para a crise é quem mais sofre, e isso exige uma abordagem pautada na justiça climática”, afirma.
A justiça climática, segundo Damas, deve ser o princípio central das políticas ambientais, garantindo que os mais vulneráveis tenham condições de adaptação. Ele destaca que mulheres, pessoas negras e de baixa renda são as mais impactadas por desastres ambientais devido a barreiras históricas e estruturais.
“Os dados mostram que a desigualdade agrava os efeitos das mudanças climáticas. Comunidades pobres vivem em áreas de risco, têm menos acesso a infraestrutura resiliente e encontram maiores dificuldades na recuperação após eventos extremos”, explica. O Rio Grande do Sul viveu essa realidade em 2024, quando enfrentou a maior enchente de sua história, resultando em dezenas de mortes e milhares de desabrigados.
Embora a conscientização sobre o tema esteja crescendo, ainda há desafios. Uma pesquisa da PwC e do Instituto Locomotiva apontou que 91% dos brasileiros conhecem ao menos um pouco sobre mudanças climáticas, mas apenas 32% entendem o conceito de justiça climática. Além disso, 54% dizem ter dificuldade em identificar informações confiáveis sobre o tema, e 27% ainda acreditam que as mudanças no clima são fenômenos naturais, sem relação com a atividade humana. Para Damas, essa desinformação compromete a mobilização social e a implementação de medidas eficazes. “Se a população não entende a urgência da crise e não sabe quem são os responsáveis, a pressão por políticas públicas adequadas e compromissos empresariais mais sustentáveis fica enfraquecida”, alerta.
A responsabilidade sobre a crise climática precisa ser compartilhada entre governos, setor privado e sociedade civil. A pesquisa revelou que 97% dos brasileiros deixariam de consumir produtos de empresas associadas a práticas ambientalmente prejudiciais, evidenciando a crescente pressão da população sobre grandes emissores de carbono. “Esse dado mostra que a sociedade já reconhece o papel das empresas nessa crise. Mas ainda precisamos de mais transparência e regulamentação para garantir que os compromissos ambientais saiam do papel”, conclui Damas.