Vice-governador eleito disse que gostaria de contribuir com a articulação entre os vários segmentos para a promoção de uma economia sustentável
(Foto: Repdoução / Youtube)
Vice-governador eleito do Amazonas, Tadeu de Souza (Avante) afirmou, em entrevista para o A CRÍTICA, que, no mandato que se inicia em janeiro, não pretende exercer “um protagonismo exagerado”, mas recusa o papel de figura “decorativa”.
Uma das frentes que o futuro vice-governador disse que deseja atuar é a ambiental, para fazer a ponte entre os vários setores do governo, os povos indígenas, parlamentares e instituições financeiras. “Precisamos fazer uma transformação para conseguir viabilizar essa economia sustentável e monetizar os serviços ambientais”, disse Tadeu, na entrevista abaixo.
Foi a sua primeira experiência de campanha, que balanço o senhor faz desses meses e da vitória?
Me sinto muito privilegiado. Eu que ainda não tinha me submetido ao escrutínio publico, que sempre atuei na alta administração pública, sempre fui um agente avesso a ambientes políticos, apesar de atuar há 20 anos em processos eleitorais, gerenciando contenciosos partidários. Para mim, estou numa posição privilegiada de estar num grupo político vitorioso e que está se consolidando. Eu devo dizer que me considero uma pessoa de muita sorte.
E no que a campanha mexeu com o senhor?
Eu sempre tive o hábito de cultivar um certo anonimato, mas com a campanha eu percebi que subestimei o poder da comunicação. No dia 4 de agosto, quando o governador Wilson Lima anunciou meu nome eu não tinha nenhuma rede social. Só na campanha que eu percebi como a comunicação tem um poder de interação, a capacidade de difusão de ideia e do que eu posso colaborar como agente público.
O governador Wilson Lima indicou o senhor para alguma missão em especial? O que podemos esperar dessa relação?
Eu tenho relacionamento privilegiado com o governador Wilson Lima. Ele já acumulou a chefia do Executivo, com a aplicação das políticas públicas, ao mesmo tempo, que acabou de passar por um conturbado processo eleitoral. Ainda haverá um entendimento, mas eu pretendo ser um grande agente de apoio, sem exercer um protagonismo exagerado e sem ser uma figura decorativa.
O seu grupo saiu vitorioso nas eleições estaduais, mas o candidato que teve o apoio da coligação perdeu nas eleições presidenciais. Como o senhor vê essa articulação com a nova administração federal que assume em janeiro?
O governador Wilson lima desde o ano passado iniciou o processo de atração de um leque suprapartidário que o apoiou e que o lançou à vitória. Nesse leque temos partidos de direita de centro. Eu sou de um partido que no âmbito nacional apoiou o presidente eleito. O deputado federal André Janones, que é do meu partido e do partido do prefeito David Almeida, está ao lado de Lula.
Todas as contendas e embates da campanha se encerram no dia 31. Um dos importantes players da campanha eleitoral, Eduado Braga (MDB), vai continuar senador, defendendo os interesses do Estado e mantendo um relacionamento institucional com o governador.
Wilson Lima assume o novo mandato com uma convergência de forças e encerrando o embate eleitoral para iniciar a gestão publica. E na gestão não tem cor partidária e nem verniz ideológico. Somos todos brasileiros em defesa dos interesses dos amazonenses.
Falando em interesses, uma demanda histórica do Amazonas é a conclusão da BR-319. Como o senhor se posiciona sobre o tema?
Os governos Lula e Dilma Roussef autorizaram inúmeras unidades de conservação que impactam 13 municípios. Isso criou certa obstacularização para avançar nas obras, mas ao mesmo tempo, temos um novo presidente que já declarou que valoriza o Estado. Há uma satanização da BR-319, mas eu vejo mais benefícios em garantir a trafegabilidade na rodovia. Uma BR-319 trafegável facilita mais a Polícia Federal chegar onde há garimpo ilegal ou combater o tráfico de drogas. Uma BR-319 trafegável facilita o levantamento de dados nas unidades de conservação e a aplicação das políticas públicas nas comunidades indígenas.
E como o vice-governador pensa a Zona Franca de Manaus?
Eu vejo a Zona Franca de Manaus mal compreendida no resto do País. Graças a ela, temos uma intensa troca econômica com outros estados do Norte e de outras regiões. O modelo deve ser protegido e consolidado para fortalecer outras atividades como os produtores rurais, a bioeconomia, o pescado, o manejo florestal e outros.
Na campanha o senhor conheceu alguns municípios do interior. Do que o senhor viu, o que acha que precisa ser executado com urgência?
Eu me cobro muito para conhecer mais a realidade do interior do Estado. É um plano pessoal de até o fim de 2023 conhecer todas as sedes dos 62 municípios do Amazonas e ter também contato direto com as populações indígenas e tradicionais.
E pensando nisso, sobre o meu papel de vice-governado eu gostaria de coordenar ... (Faz uma pausa para reorganizar as idéias). A gente percebe uma cobrança da sociedade civil, ONGs, governos estrangeiros e grandes corporações para que o Amazonas desenvolva novos ambientes de atividade econômica com base no desenvolvimento sustentável, nas potencialidades das florestas e na manutenção dos serviços ambientais.
Virou lugar comum falar em carbono zero até 2050 e isso passa por dentro do Amazonas. Precisamos fazer uma transformação para conseguir viabilizar essa economia sustentável e monetizar os serviços ambientais. Nenhum Estado tem o potencial hídrico que o Amazonas tem, tanto com os rios geográficos e os rios voadores que garantem a safra em outros Estados do Pais
Eu, na posição de vice–governador, eu queria dar a minha contribuição realinhando as secretarias que têm mais afinidade com o tema como o Idam, o Ipaam, a Sema, a Adaf e a Semdect. Eu gostaria de fazer essa ponte como interlocutor com as frentes parlamentares de meio ambiente e povos originários para caminhar nesse sentido, assim como com instituições financeiras que apoiam essas modalidades de economia dentro e fora do Brasil.
E o senhor já apresentou essa ideia ao governador Wilson Lima. O que ele disse?
Já tivemos essa conversa. É a primeira vez que eu a divulgo publicamente, mas o governador sinalizou que seria uma “excelente ideia”. Mas é uma decisão que ele ainda vai tomar.
Diante do tema do Meio Ambiente, a próxima COP pode vir para a Amazônia, Manaus é candidata à sede?
Seria interessante aproveitar a oportunidade com o governo federal de trazer as discussões para o Amazonas, que tem a maior parte da floresta e é o berço dos povos indígenas no Pais. A oportunidade agora é trazer essas discussões sobre a sustentabilidade para dentro da região.
Já recebemos a Copa (2014), herdamos uma estrutura, Manaus está com um pé “lá dentro” para abrigar o evento. Temos tudo para trazer e potencializar o turismo. E isso é importante para que não fiquem apenas ONGs, celebridades internacionais falando sobre Amazônia sem conhecimento da realidade local.
Se o governador seguir o curso natural de alguns de seus antecessores, ele se lança ao Senado, no último ano de mandato. E o senhor, o que almeja em termos políticos?
Você está falando de 2026 e ainda está muito longe. Eu tenho o hábito de formatar projetos a curtos prazos e estou estudando profundamente as necessidades do Estado, me preparando para ser um agente público com conhecimento técnico. Eu me sinto gabaritado para titularizar o cargo em relação a 2026, se isso (a ida de Wilson Lima à corrida pelo Senado) vir a ocorrer. Eu estarei preparado para o cargo.
O senhor foi indicado para compor a chapa com Wilson Lima pelo Prefeito de Manaus, David Almeida. Como está hoje essa relação? O senhor faz uma ponte entre David e o governador? O senhor o consulta regularmente?
A gente viu que desde o ano passado o governo tabelou cooperação com o município e realizou várias ações em conjunto em Manaus e isso dever durar.
O prefeito é o meu mentor político, um grande estadista regional que planeja a política ao longo prazo. Todas as medidas que ele tomou na gestão pública e no processo político eleitoral foram toda acertadas. Hoje o grupo do prefeito e o grupo político do governador estão fortalecidos e a tendência é se consolidarem cada vez mais até 2026. Espero continuar sendo esse imã entre essas forças políticas.
E entre os poderes, a articulação que o governador Wilson Lima tentou fazer com a ALE-AM, no primeiro mandato, falhou e foi problemática. O senhor se sente preparado para uma articulação mais proveitosa se for demandado?
Eu tenho excelente relacionamento com os deputados estaduais e com muitos que estarão no primeiro mandato e foram eleitos pela nossa coligação. Sempre tive o perfil de alguém conciliador, alguém que sabe amortecer e distencionar essas relações de embates políticos. Creio que posso ajudar muito o governador Wilson Lima. Ele também teve muitas dificuldades no primeiro mandato e ainda sim ganhou uma envergadura política, cresceu muito na adversidade e eu percebi que ele se relaciona bem com todas as frentes políticas que estão na ALE-AM. Creio que novos reveses com o parlamento ele não terá no novo mandato