Representantes da indústria e do comércio dizem que a medida inibe o consumo, os investimentos e amplia as dívidas dos consumidores
Presidente da Fieam, Antônio Silva, afirmou que a elevação da taxa Selic encarece o custo do crédito e inibe novos investimentos e ampliam os estragos provocados pela estiagem (Foto: Divulgação/Fieam)
Nomes da indústria e comércio do Amazonas e do Brasil avaliaram que o novo aumento da taxa básica de juros, a Selic, estava dentro das expectativas, mas deve gerar mais um impacto negativo, especialmente no comércio e para quem possui dívidas pendentes e parcelamentos em cartões de crédito. Na quarta-feira, o Conselho de Política Monetária (Copom) aprovou, por unanimidade, o aumento da Selic de 10,75% para 11,25%.
Para a indústria local, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antonio Silva, afirmou que o aumento dos juros “é extremamente prejudicial”.
“Essa elevação encarece o custo do crédito e inibe novos investimentos, justamente durante período que demonstrava sinais de aquecimento e retomada econômica. Recentemente já tivemos o aumento dos custos logísticos, decorrentes do severo período de estiagem que a região enfrenta. Essa somatória de fatores cria um panorama de possível retração produtiva”, disse.
O impacto negativo também foi apontado pelo presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL Manaus), Ralph Assayag. Para ele, a taxa de juros já estava muito alta e poderia ter sido mantida. Com a elevação, ficará mais caro para as pessoas “comprarem à prestação uma geladeira, um fogão, um carro, uma casa”.
Fica mais caro
“Qualquer um que queira fazer até construção de habitação fica mais caro também, então é muito ruim nesse momento. Eu sei que ele tem que segurar a inflação em relação ao consumo, mas quando diminui o consumo, acaba acontecendo a demissão, porque diminui o consumo e automaticamente as lojas vendem menos, vendendo menos no parcelado, acaba demitindo as pessoas. Nesse momento, não é bom a demissão no Brasil”, disse.
Assayag espera que, na próxima reunião do Copom, eles comecem a reduzir os juros para indicar “um alívio para essas pessoas ou para todas as pessoas que precisam comprar mercadoria, comprar o seu objeto de consumo”.
Propósito
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Amazonas (Fecomércio-AM), Aderson Frota, afirmou que compreende o objetivo da elevação dos juros, que tem a premissa de segurar a inflação e a desorganização do mercado. No entanto, destacou os pontos negativos.
“Por exemplo, ela aumenta também a dívida externa do Brasil. Isso o governo não concorda, fica sempre preocupado com o aumento da taxa. Por outro lado, do ponto de vista da economia, a taxa Selic aumenta a dificuldade de crédito, aumenta o custo do crédito, dificulta os parcelamentos e isso tem efeito também no tocante às vendas, principalmente do comércio”, disse.
Esse mesmo raciocínio foi apresentado pelo presidente da Confederação Nacional do Comércio, José Roberto Tadros. Para A CRÍTICA, ele considera que o aumento da taxa de juros foi “necessário e acertado pelo Banco Central para frear a alta acelerada da inflação”, mas traz desafios para o setor produtivo e para os consumidores.
Desajuste
“Nós, do CNC, reconhecemos a importância desse ajuste, mas não concordamos com a política econômica global adotada pelo governo, pois temos sentido o peso do descontrole fiscal em forma de juros elevados. O empresário brasileiro não pode continuar arcando com os custos de um desajuste que não lhe compete resolver”, avaliou.
Ele reiterou que o aumento dos juros impacta especialmente no capital de giro e investimentos para os comerciantes e no encarecimento do crédito para os consumidores, que pode elevar a inadimplência. Ele afirmou ainda que a confederação crê em mais um aumento no próximo mês, fechando 2024 com uma taxa de juros de 11,5%.
“Olhando para 2025, vemos um cenário extremamente desafiador; se o desajuste fiscal não for resolvido com urgência, é plausível que encerremos o próximo ano com juros básicos na faixa de 13%”, disse.
Tadros defendeu que o descontrole fiscal enxergado pela CNC no governo deve ser resolvido em “sua raiz e alivie a pressão sobre quem empreende”, sugerindo uma reforma administrativa séria com urgência.