Mukhtar Babayev pediu a países que deixem diferenças de lado e se unam em metas para combater um problema que já se tornou realidade
(Foto: Alexander Nemenov/AFP)
Baku - “A mudança climática já está aqui”, disse o presidente da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP29), Mukhtar Babayev, durante o evento de abertura nesta segunda-feira (11). Na COP marcada por ocorrer após a eleição de Trump, nos Estados Unidos, o presidente do evento clamou por consenso entre os países e por acordos em torno de ações efetivas contra o problema. A programação em Baku, no Azerbaijão, vai até o dia 22 de novembro. São esperados quase 200 chefes de Estado para revisar as metas de combate à mudança do clima e discutir adaptação ao problema - especialmente financiamento para essas ações.
“Temos que ser honestos, o programa ambiental não foi suficiente e as temperaturas vão ser catastróficas para bilhões, ameaçando a existência de comunidades representadas aqui. E esses não são problemas do futuro. A mudança climática já está aqui”, afirmou Babayev.
A COP 29 está sendo chamada de “COP do financiamento”, porque dará continuidade ao debate de que os países historicamente mais poluidores devem auxiliar os mais pobres a fazer a transição energética e se adaptar à mudança do clima. Porém, ainda há divergência entre os países sobre o valor atualizado para financiamento (a estimativa atual é US$ 100 bilhões anuais), a forma de financiamento e o acesso.
Outro peso para o avanço das agendas é um aparente “esvaziamento” desta COP, relacionado ao atual contexto geopolítico. Dentre as possíveis explicações estão os conflitos no Oriente Médio, a guerra entre Rússia e Ucrânia, e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, um negacionista da mudança climática.
“Temos muito a fazer nestes 12 dias e precisamos resolver nossas diferenças. As negociações são complicadas, entendemos as dificuldades”, afirmou o presidente da COP29. “Porém, as promessas têm que ser convertidas em contribuições. Isso é essencial para apoiar as comunidades afetadas”, acrescentou.
Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2023 apontou que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados no planeta. O agravamento da mudança do clima trouxe mais secas, como a registrada na Amazônia, inundações e ondas de calor ao redor do mundo.
Apelo
Durante a abertura do evento, o secretário-executivo da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, Simon Stiell, fez um apelo aos países para que cheguem a soluções já nesta COP e evitem mais mortes associadas à mudança do clima.
“Nós não podemos continuar perdendo vidas, então vamos fazer isso ser real. Vocês querem que seus países percam competitividade econômica? Querem que a instabilidade custe vidas? Essa crise afeta todos os indivíduos no mundo de um jeito ou de outro. Eu também estou frustrado que uma só COP não conseguiu fazer a transformação que o mundo precisa, mas é aqui que os países precisam concordar para resolver o problema”, disse.
Durante o ato de abertura, o presidente da COP 28 (Dubai), Dr. Sultan Ahmed Al Jaber, passou a presidência do evento ao Azerbaijão. Ele disse que a edição do ano passado construiu consensos e que os Emirados Árabes Unidos (EAU)acreditam na escolha da colaboração mundial, não polarização.
Ele também mencionou a união dos EAU, Azerbaijão e Brasil na agenda climática mundial. A COP30 será realizada no ano que vem, em Belém (PA). O que for decidido na edição de 2024 deve refletir diretamente na agenda de 2025, que já promete ser uma das COPs mais importantes das últimas décadas, pois marcará os dez anos após o Acordo de Paris.
*O jornalista que assina esta reportagem viajou a Baku (Azerbaijão) a convite do Instituto Clima e Sociedade