Crime ambiental

Peixes morrem em igarapé no ramal do Jandira após obra da prefeitura de Iranduba

Um agricultor gravou os animais mortos no igarapé Santa Rosa. Prefeitura nega, mas Ipaam constatou crime ambiental

Robson Adriano
online@acritica.com
26/08/2023 às 08:49.
Atualizado em 26/08/2023 às 08:49

Agricultor José Jânio levou a equipe de reportagem aonde havia peixes mortos. (Márcio Silva)

Moradores da comunidade São João Batista, acusam a prefeitura de Iranduba (a 27 km de Manaus) de provocar matança de centenas de peixes com uma obra viária na localidade. A  equipe do ACRITICA.COM esteve na comunidade e observou que a argila e o barro usados pela prefeitura estão impedindo a saída dos animais do igarapé para o rio que banha a São João Batista, o rio Solimões. 

Com o avanço da seca, o pouco de água que ficou no igarapé represado no local oferece cada vez menos oxigênio para os peixes. O agricultor José Jânio, 56 anos, gravou com o celular o igarapé tomado pelos animais mortos, o que levou a equipe à comunidade, no ramal do Jandira, zona rural de Iranduba.

O agricultor afirmou que há uma semana a Prefeitura de Iranduba realizou obras de infraestrutura no lugar, jogando mais argila para nivelar a pista e com a força dos banzeiros o barro cedeu ocasionado a obstrução do fluxo de água.

Agricultor José Jânio disse que há uma semana a Prefeitura de Iranduba realizou obras no local, o que causou o transtorno e a morte dos peixes (Márcio Silva)

“Jogaram aterro porque estava mais baixo (a pista). O peixe sente que tá secando e vem para o rio, ainda tentaram por três dias, mas não conseguiram sair e morreram”, detalhou Jânio.

 A reportagem acompanhou um trecho do igarapé Santa Rosa e flagrou alguns peixes mortos ainda na beira do lago. Nas imagens do repórter fotográfico Márcio Silva,  de A CRÍTICA, é possível ver peixes de distintas espécies mortos nas margens do córrego.

Por falta de oxigênio e alta temperatura da água, centenas de peixes morreram. (Márcio Silva)

  O agricultor Jânio informou que ao se deparar com a cena dos peixes tentando respirar e para evitar o desperdício, avisou os comunitários que pescaram os animais e os levaram para consumo em casa. 

Jânio explica ainda que o aterro feito pela Prefeitura de Iranduba costuma ceder com o movimento de subida e descida do rio, todos os anos. O problema causado pelas condições precárias da obra também afeta o transporte da produção agrícola dos comunitários que precisam alugar meios de transporte para a escoação dos produtos.   

“Não caiu esse ano porque os comerciantes e nós nos reunimos e construímos um rip-rap para não ceder. Já aconteceu de não alagar tudo e essa estrutura cair por causa do aterro mal feito. E fica todo mundo prejudicado e isolado. A saída é pegar a produção (agrícola), alugar uma canoa e levar para um caminhão. Além de aumentar o custo, também sobe a mão de obra do agricultor e já ganhamos pouco. A logística vai lá para cima”, frisou. 

Barragem foi construída sem a vazão para a passagem da água do igarapé para o rio Solimões, represando os peixes e os deixando sem oxigênio. (Márcio Silva)

Promessa

 O líder comunitário e agricultor, Selino Araújo, 62 anos, espera que a promessa feita pelo executivo municipal de Iranduba seja cumprida. “Eles nos prometeram que assim que secar, vão abrir o bueiro que hoje está tampado. Já me falaram que vão cavar e colocar o bueiro. Se acontecer, acabou o problema. Essa nossa estrada está com 30 anos de construída e os governantes vem aqui e dizem que não vão fazer porque está próximo do barranco”, pontuou.

Crime ambiental, afirma Ipaam

 Por meio de nota, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) esclareceu que após uma ação fiscalizatória no ramal do Jandira, o delito foi constatado.  “A obra irregular para restauração de uma via de acesso no Jandira, foi feita sem a autorização prévia expedida pelo Ipaam, ocasionando a obstrução do fluxo natural do corpo hídrico (igarapé Santa Rosa), o que ocasionou a morte de peixes na área alagada formada pelo barramento do fluxo natural”, informou.

Agricultores e comunitários da comunidade São João Batista reclamam da falta de instalação de um bueiro para dar vazão à agua do igarapé ()

 O Instituto informou ainda que após a constatação a Prefeitura de Iranduba, foi notificada para que tome providências imediatas quanto à desobstrução da tubulação que interliga o igarapé Santa Rosa ao rio Solimões, que seja apresentado um relatório fotográfico com o antes e depois, para monitoramento.

"Outras informações sobre a obra também foram solicitadas, visto que a atividade está classificada como potencial poluidor degradador e um auto de infração foram emitidos", finalizou o órgão.

'Fenômeno natural', afirma secretário

O secretário municipal de Meio Ambiente, Desenvolvimento e Sustentabilidade de Iranduba, Lúcio da Costa, afirma que a morte dos peixes ocorreu em razão do forte calor somada a seca na região.  “Existe certa vazão, mas ficou uma grande poça e com as altas temperaturas os peixes ficaram sem oxigênio e começaram a morrer. Não foi um problema causado por obstrução do igarapé. É um fenômeno natural que acontece todos os anos no Amazonas”, declarou.

Secretário nega obstrução

Já o secretario municipal de Infraestrutura e Planejamento Urbano, Yago Brandão, afirma que não houve obstrução do bueiro. “O acesso da água do rio que fica do outro lado continua passando pelo bueiro e o serviço feito recentemente foi para permitir o acesso da comunidade para o outro lado (da via)”, disse. A pasta não informou previsão de obras sobre a pavimentação para o ramal do Jandira.

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