Pai e filha, de apenas 8, morreram soterrados e tiveram os corpos resgatados durante à noite
(Foto: Daniel Brandão)
Os moradores do beco Macapá se reuniram nesta segunda-feira (20) para resgatar documentos, roupas e eletrodomésticos depois do deslizamento de terra que atingiu o lugar. Pai e filha morreram soterrados e outros dois familiares seguem internados na capital do Amazonas.
Sentado, com as mãos feridas e as roupas sujas, o feirante Gildo de Souza tentou descansar o corpo depois de uma madrugada marcada pelo “garimpo” em busca dos seus documentos em meio ao barro e destroços de onde há menos de 24 horas eles morava com a esposa e um filho de sete meses.
Sobrevivente foi ao local tentar resgatar alguns pertences (Foto: Daniel Brandão)
Sobrevivente foi ao local tentar resgatar alguns pertences (Foto: Daniel Brandão)
O que deu pra resgatar foi pouco até então, sacolas recheadas de roupas de cama, um ferro de passar e uma bíblia; todos os itens manchados pela terra seca. Gildo disse que só precisa de alguns minutos para recuperar as energias e continuar na busca por documentos, mas o difícil mesmo é conseguir recompor o psicológico da cena triste e angustiante que presenciou na hora do deslizamento.
“Quando minha cunhada tocou no meu filho a parede desabou por cima dela e ele foi arremessado pra mais pra frente, nisso eu já peguei ele e depois corri para ajudar minha mulher, que estava na parte lá detrás. Foi uma gritaria das mulheres aqui, gritando pelos filhos”, comentou.
O filho está bem, teve pequenas escoriações pelo corpo e segue na casa de outros familiares. Por enquanto, Gildo não sabe para onde ir com a família e se questiona o motivo de ter passado por isso. Lamentou pelas vastas horas de trabalho que teve para comprar os mantimentos de casa e a máquina de costura da esposa, ambos perdidos em meio aos destroços.
“O cara já não tem quase nada, né? Aí vem uma dessas, mano. É tudo muito rápido, pareceu um trovão e agora eu tenho que ver aí com a mulher o que vamos fazer”, disse.
Segundo os moradores do local, quatro casas foram destruídas pelo deslizamento, mas além delas há também as que foram condenadas, em uma delas, de dois andares, as rachaduras pelas paredes anunciam a fragilidade da estrutura que pode cair a qualquer momento. Mesmo assim os moradores de lá tiveram que se arriscar para salvar o que ainda restou como fogão, geladeira, máquina de lavar.
“A gente está conseguindo tirar hoje porque ontem condenaram e não deixaram a gente tirar nada, por enquanto meu irmão, a namorada, meu padrasto e minha mãe vão lá pra casa”, disse Jucineide dos Santos, que veio dar apoio a família cuja casa foi condenada.
Ainda nesta segunda-feira, a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) continua com mutirão para a retirada de alguns entulhos do local, já a Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc) realizou o atendimento de oito famílias atingidas pelo. Através de nota, a pasta informou que “por meio do Serviço de Proteção em Situações de Calamidades e Emergências, essas famílias já foram inseridas no Auxílio Aluguel para o recebimento de benefício no valor de R$ 600”
Familiar tanta ajuda parentes vítimas do soterramento (Foto: Daniel Brandão)
Familiar tanta ajuda parentes vítimas do soterramento (Foto: Daniel Brandão)
Família soterrada
Entre as principais vítimas do deslizamento estão os integrantes da família Pereira Amorim. O pai, Jefferson, 30 anos e a filha, Ester, de apenas 8, morreram soterrados e tiveram os corpos resgatados durante à noite. A mãe, Juliana, 27 e o outro filho do casal, Matheus, 16, foram resgatados com vida por equipes do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas, e seguem internados em unidades de saúde do Estado.
Gildo de Souza é cunhado de Juliana e contou que ela teve uma das pernas amputadas por causa dos graves ferimentos ocasionados pelo impacto do deslizamento. O feirante também contou que ela ainda não sabe que o marido e a filha faleceram porque segue em estado de coma induzido no hospital.
“O caso dela foi a perna, que eles tiveram que amputar; já no hospital ela gritava de dor nas primeiras horas então tiveram que apagar ela com anestesia, né? Ela ainda não sabe o que aconteceu e vai ser um choque quando descobrir”, disse Gildo.