Queimadas

Para Ibama, incêndios no Estado são orquestrados

Chefe do instituto no Estado disse que a Polícia Federal, assim como em São Paulo, vai investigar a origem da explosão de focos de queimadas

Waldick Júnior
waldick@acritica.com
27/08/2024 às 08:18.
Atualizado em 27/08/2024 às 08:18

(Foto: Agência Brasil)

O Estado do Amazonas, que já soma mais de 12 mil focos de queimadas neste ano, tem indícios de  incêndios coordenados. A informação foi confirmada pelo superintendente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no estado, Joel Araújo. Ele também destacou que a Polícia Federal fará uma investigação, assim como em São Paulo, para apurar o os crimes no território amazonense. 

“Não tem como a gente comprovar no momento, porque ainda não há uma investigação, mas há materialidade. A ministra Marina Silva acionou o Ministério da Justiça e a Polícia Federal para fazer investigações em São Paulo, e essas investigações também devem se estender para as áreas críticas do Amazonas”, disse para A CRÍTICA.

Em entrevista  coletiva no domingo, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, levantou a hipótese de que tenha havido, em São Paulo, um ‘Dia do Fogo’ similar ao que ocorreu no Pará, em 2019. À época, produtores rurais coordenaram um dia para atear fogo em áreas da Amazônia com a finalidade de ‘limpar’ a terra para gado. 

“Naquela ocasião, a PF identificou mensagens de grupos de conversa que comprovaram a ação coordenada. Nesse momento, é preciso investigar. Há indícios, porque é muito suspeito que, de forma sincronizada, várias áreas de São Paulo comecem a pegar fogo. Ocorreu algo parecido no Amazonas”, comentou o superintendente do Ibama-AM.

 Pastagens

 Ele esclarece que a vegetação densa e úmida da Amazônia impede o surgimento de ‘incêndios naturais’, e que a principal ignição das queimadas é por interesse em limpeza da terra para plantio ou pastagem.

“No nosso estado, o destaque maior é a criação gado, principalmente no eixo da BR-230, que é a transamazônica, entre Humaitá e Apuí, mas também o sul de Lábrea e Boca do Acre. Esse é nosso eixo principal, que coincide com essa produção de gado. Há uma necessidade do pecuarista da limpeza de pastos, então se usa o fogo. Ocorre que o Amazonas não autoriza o uso do fogo há sete anos, então essas queimadas são todas ilegais”, ressaltou.

Atualmente, o Amazonas (12.037 focos) ocupa a terceira posição entre os estados com mais queimadas, atrás apenas do Mato Grosso (20.725) e Pará (14.532). Joel Araújo afirma que há 110 agentes em atuação no estado, incluindo servidores do Ibama, ICMBio e Força Nacional, e que o número deve ser reforçado. São dez viaturas e um veículo projetado para áreas de difícil acesso.

“Nós vamos receber, nos próximos dias, mais 16 brigadistas. São sete do ICMBio e nove do Ibama. Eles vão reforçar a nossa atuação no sul do estado. Vamos chegar a cerca de 160 brigadistas do Amazonas em nível federal”, disse. Também haverá equipes com atuação noturna.

Além da fumaça inalada em Manaus, por causa das queimadas, há cidades do interior do Amazonas, e de outros estados, também engolidas por uma ‘nuvem tóxica’ proveniente dos incêndios. O caso escalou a um novo nível após cenário semelhante ocorrer em São Paulo e em Brasília, neste final de semana.

Ainda na coletiva de domingo, o presidente Lula e a ministra Marina Silva anunciaram a abertura de 31 inquéritos pela Polícia Federal, sendo dois em São Paulo e os outros na Amazônia e Pantanal. O governo atua com mais de 3 mil brigadistas no país, sendo 1.468 na Amazônia.

Na última quarta-feira, após reunião com governadores da Amazônia Legal, a gestão federal também anunciou a criação de três bases federativas integradas para o combate aos incêndios. Uma delas ficará entre Humaitá e Porto Velho, para atender as demandas do chamado ‘arco do fogo’.

 Governo propõe ação integrada

 Segundo Joel Araujo, o governo federal recomendou, em reunião na semana passada, que todos os estados atingidos por queimadas criem uma sala de situação específica para o problema. O grupo deve integrar órgãos de atuação municipal, estadual e federal, e permitir que os agentes das diferentes esferas de governo atuem com maior sincronia.

“Os estados vão passar a integrar o Centro Integrado de Multiagências de Coordenação Operacional Nacional. Eles também vão precisar criar uma sala de crise estadual e detalhar o que vem fazendo, quais os tipos de investimentos, quantas pessoas estão envolvidas, e iniciar novas ações para combater as chamas”, disse o superintendente do Ibama, Joel Araújo, que está em contato com a gestão estadual para a abertura da sala.

Segundo ele, a atuação integrada é essencial para que as ocorrências possam ser atendidas com êxito. “Uma brigada nossa, sozinha, consegue alcançar um determinado resultado. Uma brigada nossa, apoiada pelo governo, apoiada pela Força Nacional, pela Polícia Federal, com certeza vai ter melhores resultados. Assim como as equipes dos bombeiros. Hoje temos várias instituições trabalhando sem uma harmonia, sem uma integração. E se a gente conseguir isso, certamente nós vamos ter melhores resultados”, avaliou.

 Comitê monitora estiagem

 Para a reportagem, o governo do Amazonas informou que já possui, desde 2023, uma sala de situação no Corpo de Bombeiros. O espaço foi ampliado, em maio deste ano, para receber mais seis painéis de monitoramento dos incêndios. A tecnologia utiliza dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) e a Firms da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa). Também há um trabalho de especialistas na compilação dos dados diários de ocorrências de incêndios na capital e no interior. 

“Desde o ano passado, o Governo do Amazonas conta com o Comitê de Enfrentamento à Estiagem, que monitora todas as ações relacionadas ao fenômeno climático pelo qual passa o Estado, entre elas o trabalho de combate às queimadas e desmatamento”, informou a gestão. 

Segundo o governo, na reunião de quarta-feira, em Brasília, o governador Wilson Lima ofereceu os Centros Multifuncionais do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) localizados nos municípios de Humaitá, Apuí e Boca do Acre para servir como base das ações que os órgãos federais vão implementar na região.

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