VIOLÊNCIA NAS ESCOLA

Número de ataques violentos em escolas dobrou entre 2022 e 2023, revela estudo da Unicamp

O levantamento dos pesquisadores revelou que 34 escolas do país tiveram algum tipo de ataque violento ao longo de 22 anos, no entanto, a quantidade de ataques 'explodiu' no período pós-pandemia

Karol Rocha
online@acritica.com
18/09/2023 às 18:00.
Atualizado em 18/09/2023 às 18:23

Os dados prévios foram divulgados durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) que acontece nesta segunda-feira (28) em São Paulo (Foto: Renato Souza/Jeduca)

Em 22 anos, 33 ataques violentos foram cometidos por alunos e ex-alunos em 34 escolas no Brasil. Mais da metade desses ataques aconteceu somente entre fevereiro de 2022 e junho de 2023, conforme o levantamento de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O estudo deve ser lançado em outubro deste ano.

Os dados prévios foram divulgados durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), que aconteceu nesta segunda-feira (28) em São Paulo.

“Desses 22 anos, foram 33 ataques em 34 escolas. Um dado que chama muita atenção é que a partir de 2022, depois da pandemia, com a abertura das escolas, nós tivemos 54% dos ataques ocorridos entre janeiro de 2022 e junho de 2023”, afirmou a doutora em Educação pela Unicamp e coordenadora do relatório, professora Telma Vinha.

De acordo com ela, o relatório tem como objetivo trazer informações que contribuam para a compreensão do fenômeno e traçar recomendações para políticas públicas.

“Inicialmente, nós começamos a estudar os ataques na época de Suzano e nós fizemos um mapeamento desde o primeiro ataque registrado no Brasil. Mas era algo muito pontual, ele não se caracterizava como fenômeno. Hoje, ele já é um fenômeno que tem suas características próprias”, destacou ainda.

Perfil desse estudante

O estudo traça ainda o perfil desses estudantes e ex-estudantes que cometeram os atos. A especialista explica que grande parte dos autores possui características específicas, como um comportamento opressor.

“Com relação ao perfil, todos eles eram jovens do sexo masculino. O autor mais novo do ataque tem 10 anos de idade e o mais velho, 25 anos, que foi o de Suzano. Eles trazem uma característica importante que são concepções e valores opressores: o discurso da misoginia muito forte, assim como a homofobia, o racismo e a supremacia branca”, disse ainda.

Sobre a quantidade e tipos de escolas, das 34 unidades escolares onde ocorreram os ataques, 15 eram escolas estaduais, 13 eram escolas municipais e seis eram escolas particulares. De acordo com Telma Vinha, esses ataques ocorreram em sua maioria em escolas onde há estudantes ou ex-estudantes de maior poder aquisitivo.

“Nós vimos muitos governadores e prefeitos atuarem no enfrentamento dos ataques em regiões vulneráveis e eles ocorrem muito menos nesses locais. Eles acontecem principalmente em escolas de nível socioeconômico médio/alto e alto, e esse dado é muito coerente com o perfil dos autores dos ataques”.

Intencionalmente ocorridos no espaço escolar, os ataques de violência extrema em escolas caracterizam-se também pelo planejamento e emprego de algum(s) tipo(s) de arma(s) com a intenção de causar morte de uma ou mais pessoas

Sobre o levantamento

O levantamento “Ataques de violência extrema em escolas no Brasil: causas e caminhos” tem previsão de lançamento para outubro de 2023. O trabalho é derivado de relatório em produção pelo Dados para um Debate Democrático na Educação (D3e) e coordenado por Telma Vinha, professora e pesquisadora da Unicamp.

A professora apontou o estudo durante a mesa: “A cobertura dos ataques às escolas e o efeito contágio” em evento do Jeduca nesta segunda-feira (18). Também participou da mesa a pesquisadora norte-americana Sherry Towers, uma das referências em pesquisas sobre o impacto da cobertura da imprensa nos ataques às escolas.

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