Infraestrutura

Novos velhos problemas em Manacapuru

Tragédia em porto de Manacapuru repete notícia veiculada por A CRÍTICA em 2010, no mesmo local

Lucas Motta
cidades@acritica.com
13/10/2024 às 10:05.
Atualizado em 13/10/2024 às 10:05

(Foto: Reprodução)

O que parecia ser um dia tranquilo em Manacapuru (AM) rapidamente se transformou em tragédia no início da tarde de segunda-feira (7), quando um desbarrancamento destruiu parte do Porto da Terra Preta, tirando a vida de duas pessoas, entre elas uma criança, a pequena Letícia Correia de Queiroz, de 6 anos de idade, e de Franklin Pinheiro de Souza, de 37 anos.

A cena de destruição fez ressurgir lembranças de um passado não tão distante:  era outubro de 2010, o Jornal A CRÍTICA noticiava uma tragédia semelhante, no mesmo local, na qual três crianças desapareceram nas águas do rio. Agora, a história se repete de forma cruel, trazendo à tona questões sobre a segurança das áreas ribeirinhas com intervenção humana e os riscos de ocupações mal planejadas.

De acordo com o pesquisador do Serviço Geológico do Brasil SGB e coordenador da equipe, geólogo Marco Antônio Oliveira, nas primeiras avaliações feitas na manhã de quarta-feira (9), a constatação é de que o terreno em que ocorreu o desastre trata-se de uma área aterrada sobre a várzea.

“Um grande aterro foi feito ali para a construção do porto, e esse aterro é que ruiu, mobilizando um volume aproximado de 2 milhões de metros cúbicos, um volume bastante grande. A pergunta é saber se realmente atingiu apenas o aterro ou se houve também um problema de ruptura na base do aterro, ou seja, na praia da várzea”, destacou o pesquisador.


Interferência humana ou fenômeno natural?

 Embora o fenômeno das “terras caídas” seja comum nos rios Solimões e Amazonas, especialistas sugerem que o deslizamento no porto pode ter sido agravado pela ação humana. Geólogo do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam),  Daniel Borges explica que, em áreas onde há ocupação desordenada, a remoção de vegetação e o acúmulo de resíduos de madeireiras ou aterros irregulares podem desestabilizar o solo, tornando-o ainda mais vulnerável a desbarrancamentos.

Ele também destacou que a atual vazante extrema do rio Solimões pode ter exacerbado a fragilidade dos barrancos, tornando-os incapazes de suportar o peso das construções. “O porto de Manacapuru está numa curva do rio, onde a velocidade da água é alta e as forças naturais atuam de forma intensa. Isso, somado ao baixo nível do rio, cria uma situação muito delicada”.

Borges fez ainda um alerta: com as mudanças climáticas e os impactos ambientais cada vez mais visíveis, deslizamentos como o de Manacapuru podem se tornar mais frequentes. O geólogo defende a necessidade de um monitoramento mais rigoroso das áreas de risco, além de uma maior conscientização sobre os perigos da ocupação desordenada.

“Essas áreas precisam ser respeitadas com planos diretores. Um local de risco deve ser monitorado e as prefeituras muitas vezes sequer têm um geólogo no quadro de servidores. Vale lembrar que não precisam fazer tudo sozinhas, tem o Estado e tem o Serviço Geológico do Brasil para ajudar”, concluiu.

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