Vice-prefeito diz que gestão municipal cobra melhorias no transporte e que reajuste é também para custear investimentos
De acordo com o Sindicato das Empresa de Transporte de Passageiros do Amazonas, todos os dias cerca de 500 mil pessoas utilizam o transporte na capital nos meses em que não há férias escolares (Foto: Daniel Brandão)
A nova tarifa de ônibus com preço ainda não divulgado irá impactar no bolso de ao menos 500 mil usuários do transporte público de Manaus. Essa é a estimativa de pessoas que utilizam os ônibus diariamente, nos meses em que não há férias escolares, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Amazonas (Sinetram).
A passagem em Manaus está em R$ 4,50 há três anos e, na esteira de outras cidades brasileiras, a prefeitura informou que o reajuste é necessário devido ao aumento dos custos com o sistema de transporte coletivo. O preço ‘cheio’ da passagem é R$ 7,10, mas a gestão municipal subsidia (paga) parte do valor, o que permite o preço menor ao passageiro.
Após o anúncio do reajuste, a reportagem foi às ruas para ouvir a população sobre a mudança. Ivany Azevedo, 45, está à procura de emprego. Ela afirmou discordar completamente de qualquer aumento que seja colocado sobre a passagem de ônibus. Segundo ela, a tarifa já está cara e prejudica até o deslocamento de quem busca um emprego.
Usuários
“É injusto aumentar esse valor. A qualidade não compensa. Tem muito assalto, né? É perigoso, por exemplo, a gente pega e é assaltado. E esse valor não tem que aumentar não, tem que continuar o valor atual. Não concordo não. É um valor muito alto, ainda mais para quem está desempregado”, disse a passageira.
Ivany também criticou a qualidade dos ônibus, por, segundo ela, ter frotas de qualidade somente para alguns bairros, enquanto outros não recebem ônibus novos. “No bairro onde eu moro é da Via Verde e são todos renovados lá. Mas vários outros bairros que eu vejo, são todos ônibus caindo aos pedaços. Tem uns que estão muito velhos”.
O autônomo Raimundo Martins, 29, também criticou a medida e disse que muitas pessoas não têm o valor para comprar itens de necessidade básica. “Muitos não têm R$ 5 para dar, para pagar uma passagem. Muitos não têm nem R$ 5 para comprar um ovo, para comprar uma salsicha para comer. Que ele venha é diminuir isso, não aumentar. Em muitos ônibus realmente, ele está trabalhando com excelência, muitos ônibus estão bons com o ar-condicionado, eu vejo. Mas esse negócio de aumento, dou nota zero”.
Já o vendedor Cleilson Frazão, 40, informou que entende a necessidade do reajuste por questões de aumento de preços devido à inflação. “Hoje, realmente, se for R$ 5 faz sentido, porque com o aumento de todos os impostos que está acontecendo, nessa fase ficaria dentro do valor razoável para todo mundo e evitaria muito de ter troco para as pessoas que trabalham com isso”, afirmou.
Subsídio
De acordo com o site oficial do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU), o quantitativo de ônibus em Manaus é de 4.687. Recentemente a prefeitura divulgou a entrega de 20 novas frotas, totalizando 420 ônibus novos ônibus durante a primeira gestão do atual prefeito David Almeida (Avante).
No ano passado, o valor de subsídio pago pela prefeitura chegou a R$520 milhões, segundo o prefeito da cidade. Em entrevista à TV A Crítica, ele destacou a intenção de reduzir esse valor. Uma das medidas tomadas com esse intuito foi colocar o vice-prefeito Renato Júnior (Avante) sob comando do IMMU. O objetivo, disseram, é realizar auditorias e verificar os gastos com transporte público para que seja reduzido.
Em entrevista que será publicada na edição do final de semana de A CRÍTICA, o vice-prefeito da cidade afirmou que a gestão municipal já atua para garantir que haja melhorias no sistema de transporte e na qualidade dos ônibus.
“ Essa cobrança de melhoria já está sendo feita desde o primeiro dia do primeiro mandato do prefeito David. Então sim, essas melhorias já estão acontecendo, e essas melhorias têm um custo. Esse custo já é colocado e embutido no valor das passagens”, afirmou.
MPAM vai f iscal izar aumento da passagem
Depois do anúncio de aumento, o Ministério Público do Amazonas (MP-AM) instaurou um procedimento administrativo para fiscalizar os valores da passagem de ônibus. O objetivo da ação é acompanhar e fiscalizar o reajuste.
Segundo a promotora de Justiça Sheyla Andrade dos Santos, titular da 81ª Prodecon, a medida busca assegurar a transparência e a razoabilidade nos critérios que fundamentam o reajuste tarifário. O MP-AM solicitou do IMMU, no prazo de 10 dias, a apresentação de cópias integrais dos estudos e pareceres técnicos utilizados para embasar a alteração no valor da tarifa.
Além disso, foi solicitado ao Sinetram o envio de dados detalhados sobre os custos operacionais e financeiros do sistema de transporte coletivo, informações essenciais para analisar a justificativa apresentada para o aumento.
Sistema precisa de mudança
Enquanto os manauaras aguardam o anúncio, pela prefeitura, do novo preço da passagem de ônibus, o doutor em engenharia de transportes, Augusto Rocha, destaca que a capital precisa passar por uma mudança sistêmica no transporte coletivo.
“Eu acredito que o sistema de Manaus funciona. O desafio é que o transporte de Manaus pode evoluir, sempre. O transporte coletivo evolui pouco ao longo dos anos. Eu acho que o grande desafio do nosso sistema é que ele evolui com uma frequência muito pequena”, avalia Rocha.
Augusto Rocha explicou que o aumento do preço da passagem é negativo para o passageiro, mas que por outro lado, acompanha os altos custos que a prefeitura dispõe para atender a necessidade de toda a capital.
“A gente já segue tendo que subsidiar a passagem de ônibus e muito provavelmente essa é a causa da necessidade de aumento da tarifa. Então, o desafio seria de fato melhorar a condição para os usuários dos ônibus e também para as empresas de ônibus. A gente teria que ter uma melhoria para o sistema, melhoria por dois lados, tanto no usuário quanto para essa empresa, para que fosse atrativo atuar”, disse o engenheiro.
Por conta do alto subsídio pago pela prefeitura às empresas, o engenheiro Augusto Rocha defendeu que melhorias no sistema de passagens devem ser pensadas. Uma das possibilidades é a adesão de tarifas variadas e não em um único valor fixado para toda a cidade.
“Como pode uma linha de ônibus que sai lá da BR-174 para a cidade de Manaus ser o mesmo preço de uma linha de ônibus de alguém que sai do Educandos para o Centro? Sim, é questão da distância. É uma concepção antiga essa de ser um preço único para a cidade como todo. Manaus era muito pequena quando isso foi definido hoje, Manaus era uma cidade enorme”, afirmou.