A CRÍTICA visitou a cidade, nesta terça-feira, e entrevistou vários moradores.
Moradores fazem compra em uma banca de venda de peixe em uma feira improvisada que funciona próximo ao cais do porto do Município de Iranduba (Fotos: Daniel Brandão)
O mais próximo de Manaus dos 13 municípios da Região Metropolitana, Iranduba, que experimentou 62% de crescimento populacional desde a inauguração da ponte Rio Negro, em outubro de 2011, ainda padece de problemas de infraestrutura, saúde básica, saneamento e principalmente de geração de emprego e renda. A CRÍTICA visitou a cidade, nesta terça-feira, e entrevistou vários moradores.
Permissionária da Feira do Produtor, localizada no centro do município, Fátima Andrade, afirmou que Iranduba não passa por um bom momento econômico e reclamou da falta de circulação de dinheiro.
“A gente que é permissionário tem passado por um momento muito difícil, mas muito difícil mesmo, porque além de não estar circulando o dinheiro aqui na cidade, o nosso movimento caiu. A gente paga aluguel, o custo da luz está muito alto. É um absurdo, nós não temos pessoas parceiras para ajudar. Quem a gente estava contando a gente não pode nem dizer que vai contar”, disse.
A trabalhadora atribuiu o problema à falta de iniciativas para atrair pessoas de fora para consumir no município. Relembrou que em anos anteriores muitas festas eram realizadas, trazendo recursos.
“O nosso município está parado, ele não está mais funcionando como era para funcionar, como a gente esperava que fosse”, lamentou.
Outro problema apontado por Fátima foi na área de saúde. Segundo ela, falta remédio nos hospitais e especialistas em ortopedia, por exemplo, deixando os moradores esperando pelo SISREG, que é mantido pelo governo do Emazonas.
Atendimento em Manaus
“Já foi feito o meu pedido do SISREG, já vai fazer quase cinco meses e não entraram em contato. Se eu quisesse fazer o exame do meu braço, eu teria que pagar particular, porque aqui não tem”, disse.
Amarildo Dacio e Elsa Dacio também relataram a precariedade no sistema de saúde do município. Ele se queixou que os postos de atendimento não possuem remédios e o atendimento é “péssimo”.
Elsa reclamou a infraestrutura viária, principalmente dos ramais, que cercam o município. “Tem muitas pessoas com problemas respiratórios, crianças, idosos que estão passando mal. Quando é verão, é uma nuvem de poeira. Quando é inverno, os transportes escolares não entram porque não tem condições, fica aquelas piscinas de água”.
Saneamento
O vendedor Sergio Cruz seguiu na mesma toada e afirmou que o principal problema de seu bairro, a Comunidade do Chisa, é o saneamento básico e a falta de asfaltamento, que provoca nuvens de poeira na localidade.
“Eu tenho problema respiratório e tem dias que eu não consigo dormir de noite, com falta de ar. É muito complicado”, reclamou.
A diferença no tratamento de infraestrutura entre a parte urbana de Iranduba e os ramais próximos pode ser vista pelos relatos do peixeiro Etevaldo Siqueira, que mora na sede do município, e do aposentado João Almeida, que vive em uma casa no ramal do Areal. Para Etevaldo, a urbanização de Iranduba “está muito bem, estão asfaltando, fazendo meio-fio”, mas reclamou da falta de segurança, que não é de responsabilidade do município.
“Iranduba, pela segurança, está jogada ao léu. Vagabundo, assalto à mão armada. A gente precisa que o poder público olhe para essa parte”, apontou.
‘A maioria se taca para Manaus’
No distrito do Cacau Pirêra, pertencente a Iranduba, o servidor público José Mendes disse que um dos maiores problemas do município é a falta de oportunidades de trabalho.
“Aqui dentro mesmo o trabalho que tem é dos comerciantes, senão é das cerâmicas de olaria, que dão emprego. Tirando isso, o pessoal vai todo para Manaus atrás de emprego, porque aqui não tem. Tirando as cerâmicas, acabou-se o emprego para as pessoas aqui. A maioria ‘se taca’ para Manaus, outros fazem serviço clandestino tirando lenha, cortando mato, que não é uma coisa legal, mas devido à necessidade muitos aqui na comunidade, eles apelam para essas situações irregulares”, concluiu.
O servidor público também apontou a necessidade de melhoria nas ruas da comunidade. Disse que foram feitas diversas solicitações para que a prefeitura investisse no local.
A reportagem verificou que a empresa HSX Engenharia iniciou as obras de recuperação viária em algumas vias do Cacau Pirêra, com calçamento e estruturas de concreto. Outras ruas que ainda não receberam as obras continuam com chão de terra batida.
Um letreiro próximo mostra que a Prefeitura de Iranduba firmou contrato com a empresa para pavimentar todo o distrito com recursos da Caixa Econômica e do Ministério das Cidades. As obras iniciaram em 22 de março deste ano e devem seguir até 22 de janeiro de 2025.
José Mendes também relatou a falta de segurança, embora o problema tenha diminuído. Segundo ele, há somente uma viatura que roda pelo bairro e depois segue pela estrada. A queda nos assaltos teria ocorrido por pressão do tráfico de drogas na região, o qual ele chamou de “poder paralelo”.