Levantamento coloca capital do Amazonas como principal mercado consumidor dos carros elétricos, que despontam no país
Veículos são considerados mais econômicos e menos poluentes, mas ainda têm preços pouco acessíveis. Modelos ‘de entrada’ giram em torno de R$ 100 mil, podendo ultrapassar a casa do milhão em alguns modelos de marcas de luxo (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A cidade de Manaus se consolidou como o maior mercado consumidor de carros elétricos do Norte do Brasil, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). Em 2024, a capital foi responsável pela venda de 2.017 carros, equivalente a 31,6% do total de vendas da região, seguida pela capital paraense Belém, com 1.255 carros elétricos (19,6%).
Entre 2023 e 2024, mais do que dobrou (142,33%) a venda de carros elétricos em Manaus. A nível estadual, o Amazonas totalizou 2.038 veículos vendidos em 2024, com 99% das aquisições concentradas na capital.
Nas cidades de Coari, Itacoatiara, Manacapuru e Maués foram vendidos três veículos em cada uma. Dois veículos foram comprados nos municípios de Iranduba, Parintins e Presidente Figueiredo, enquanto apenas uma venda ocorreu em Santa Isabel do Rio Negro, Tefé e Urucará.
Custo-benefício
Esse aumento substancial é um reflexo do custo-benefício dos veículos elétricos, segundo Ariane Carvalho, gestora da concessionária GWM Revemar em Manaus, apesar de a mobilidade elétrica no Amazonas ainda não possuir um benefício mais generalizado.
“As próprias concessionárias, no caso a gente, a GWM Brasil, dá um wallbox [carregador para carro elétrico] para o cliente instalar em casa. A gente tem um ponto rápido aqui na frente da loja. Isso tudo fez com que os clientes se atraíssem mais na compra dessa questão dos elétricos ou dos híbridos plug-ins, não apenas o 100% elétrico”, disse.
Dentro do custo-benefício está a manutenção, que normalmente ocorre a cada dois anos ou cada 24 mil quilômetros rodados, além da não utilização de gasolina para os veículos 100% elétricos. Ariane ressalta que esse tipo de veículo “é o futuro” e lembrou que diversos países já deram prazo para encerrar a produção de carros a combustão.
“Pra ser perfeito, para despontar um número maior de vendas, a gente só precisava da isenção do IPVA. O governo do Amazonas até então não se move para isso. A gente é o pulmão do mundo, podia ser referência no Brasil e a gente não tem o apoio dos nossos governantes para isso”, destaca.
Um dos propósitos da eletrificação dos veículos é a redução da emissão de gases do efeito estufa. Um estudo do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT, em inglês) divulgado em 2023 mostrou que a adoção de carros elétricos reduziu em 67% a emissão desses gases, colocando esses produtos como uma alternativa sustentável.
Prognóstico
Para o secretário-executivo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), Gustavo Igrejas, o aumento das vendas de carros elétricos é uma tendência mundial e o produto deve dominar o mercado no futuro.
Ele ressalta que a liderança do Amazonas na região Norte demonstra “o quanto o Polo Industrial de Manaus está aquecido e gerando relevante renda local”. Atualmente, o PIM possui fábricas de componentes utilizados na montagem dos veículos, com empresas como a BYD, que produz módulos de baterias para carros e ônibus elétricos em Manaus, e a Livoltek, que investe no estado para fabricar carregadores de veículos elétricos.
Os bons prognósticos para o polo industrial foram ressaltados pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva. Segundo ele, apesar da restrição legal para fabricação de automóveis na Zona Franca de Manaus, o estado pode se consolidar como um polo de componentes.
“Algumas indústrias locais já fornecem partes e componentes par a indústria automobilística. A abertura desse novo vetor de veículos elétricos amplia o leque de produtos, em especial para as indústrias aqui instaladas. Trata-se de uma transição que deve ocorrer de forma gradual, a longo prazo, mas que certamente deve fazer parte do plano de diversificação e ampliação das indústrias locais”, disse.
Emplacamento recorde no país
De acordo com o relatório da ABVE, o Brasil terminou 2024 com um novo recorde de 177.358 veículos eletrificados leves emplacados de janeiro a dezembro, número 89% maior que o de 2023, quando 93.927 foram vendidos. O Amazonas ficou na 16ª colocação a nível nacional, sendo responsável por 1,15% das vendas gerais dos produtos no território brasileiro.
A maior parte das compras ocorreu em dezembro: 21.634 unidades. Os números incluem os 3.828 micro-híbridos recém-lançados no mercado no último trimestre, com bateria de apenas 12 volts e sem tração elétrica, sobre os quais há uma polêmica técnica se podem ser considerados veículos eletrificados.
Ainda assim, excluindo-se esses micro-híbridos, o total de 2024 superou todas as previsões da ABVE, com 173.530 emplacamentos – mais de 85% sobre 2023 – e dezembro bateu um novo recorde mensal desde o início da série histórica, com 18.942 unidades vendidas.
O presidente da ABVE, Ricardo Bastos, afirmou que 2024 foi um ano de “crescimento sustentável e números muito expressivos”, mas destacou a polêmica em torno dos veículos micro-híbridos, que não entregam uma experiência real de eletromobilidade.
“Para a ABVE, é importante manter o foco na eletrificação real, ou seja, no crescimento da nossa indústria, na contribuição ao meio ambiente, nas vantagens econômicas efetivas e no esclarecimento do consumidor quanto ao que ele pode obter de retorno de cada uma das tecnologias”.
O estado de São Paulo continuou na liderança da eletromobilidade no Brasil, com 32% das vendas totais de 2024 (56.819), seguido pelo Distrito Federal, com 9% (16.061), segundo o relatório. Além deles, completam o top 5 de estados consumidores: Rio de Janeiro, com 12.841 vendas (7,2%); Paraná, com 12.056 unidades (6,8%); e Santa Catarina, com 11.500 carros (6,5%).