Capacitação e engajamento com produtores locais marcaram etapa do projeto Restauração Ecológica Produtiva no Amazonas
A meta central do projeto é realizar a restauração de 200 hectares de áreas degradadas na RDS do Uatumã, RDS do Tupé, PA Tarumã-mirim e áreas urbanas da região de Manaus, com apoio do BNDES e da ENEVA e tem o FUNBIO (Fotos: Sérgio de Andrade/IPÊ)
O projeto Restauração Ecológica Produtiva, integrante da Iniciativa Floresta Viva, atingiu um marco significativo com a realização de um workshop de treinamento destinado a agricultores familiares e residentes de unidades de conservação, no começo de dezembro. No momento, o projeto encontra-se na etapa de capacitação e engajamento comunitário, focando no treinamento dos moradores das regiões contempladas em metodologias como coleta de sementes, produção de mudas e fundamentos de agroecologia e manejo de sistemas agroflorestais.
As oficinas contam com suporte especializado de organizações como IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, através do projeto REFLORA (Recuperação Ecológica e Implantação de Sistemas Agroflorestais Multifuncionais), além do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e da UFAM (Universidade Federal do Amazonas).
O treinamento assegura que os participantes explorem habilidades práticas para o desenvolvimento da cadeia da restauração nos territórios de ação do projeto. Durante uma semana, moradores das áreas beneficiadas pela iniciativa – incluindo as Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uatumã, Tupé, Puranga-conquista, e do Assentamento Tarumã-mirim – participaram de uma imersão completa nas técnicas que serão aplicadas nas fases subsequentes.
De acordo com Vinícius Bertin, coordenador do projeto pelo Idesam, o envolvimento das comunidades locais tem sido crucial para consolidar o conhecimento técnico e estimular a participação ativa nas ações de reflorestamento. “Estamos notando um engajamento crescente e efetivo das comunidades, principalmente em atividades práticas como gestão de viveiros e treinamentos técnicos. Esta participação é essencial para alcançar as metas de restauração propostas no PLANAVEG (Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa) e estabelecer uma cadeia produtiva sustentável na região”, destacou Bertin.
A meta central do projeto é realizar a restauração de 200 hectares de áreas degradadas na RDS do Uatumã, RDS do Tupé, PA Tarumã-mirim e áreas urbanas da região de Manaus, abrangendo terrenos de capoeira e vegetação secundária. Estas áreas, frequentemente resultantes de atividades agrícolas abandonadas, serão convertidas em sistemas agroflorestais e cultivos de espécies nativas em áreas de Capoeira através do enriquecimento com espécies de interesse, como o Pau-rosa (Aniba rosiodora), Cardeiro (Scleronema micranthum), Açaí-da-mata (Euterpe precatoria), entre outras.
Além de promover a melhoria da qualidade ambiental nas áreas envolvidas, o projeto visa estabelecer uma conexão direta entre a conservação ambiental e a recuperação dos serviços ecossistêmicos, gerando oportunidades de renda para as comunidades locais e fortalecendo a cadeia da restauração na região. O planejamento prevê a produção e o plantio de aproximadamente 66 mil mudas durante os quatro anos de implementação do projeto, com um investimento total de R$ 5,8 milhões, incluindo uma contrapartida de R$ 539 mil.
A iniciativa conta com o suporte do BNDES, Eneva e Funbio, e nesta fase, concentra-se na produção de mudas destinadas aos projetos de restauração ecológica e arborização urbana, reafirmando seu compromisso com a participação comunitária e o desenvolvimento sustentável na região amazônica.
A restauração ecológica com espécies nativas contribui significativamente para combater as mudanças climáticas
André Vianna, diretor-técnico do Idesam, enfatiza que o projeto transcende a recuperação ambiental, atendendo à necessidade crítica de desenvolvimento socioeconômico sustentável. “O treinamento dos moradores em técnicas agroflorestais e silvicultura com espécies nativas representa uma estratégia para aproveitar o potencial dessas áreas, enquanto desenvolvemos um modelo mais sustentável de uso do solo”, explicou.
A restauração ecológica com espécies nativas amazônicas contribui significativamente para combater as mudanças climáticas, oferecendo alternativas viáveis às práticas tradicionais de monocultura e pecuária intensiva, e uso intensivo do fogo, reconhecidamente prejudiciais à floresta. Através da implementação de modelos de uso do solo que valorizam a biodiversidade, o projeto busca estabelecer um legado duradouro de conservação e sustentabilidade para a Amazônia, posicionando as comunidades locais como agentes principais dessa transformação.
“Esta iniciativa é crucial para enfrentar os desafios ambientais e socioeconômicos dessa região de Manaus, uma área de extraordinária biodiversidade, mas significativamente afetada pelo desmatamento e práticas não sustentáveis”, concluiu Vinícius Bertin.