‘Luz no fim do túnel’, diz estudante indígena sobre novo campus da Ufam em São Gabriel na Cachoeira

Em São Gabriel da Cachoeira (AM), município com a maior população proporcionalmente indígena do país, a luta para seguir com os estudos é repleta de desafios. Um deles é a distância de 852 quilômetros em linha reta da capital, Manaus, onde se concentram as instituições de ensino superior e há maior oferta de vagas, mas também mais concorrência.

O problema, porém, deve ser ao menos amenizado após o anúncio, pelo governo Lula, da construção de um campus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em São Gabriel da Cachoeira, que deve atender também as populações de outros municípios do Médio e Alto Rio Negro. 

Indígena do povo Tariano e estudante do mestrado em Sociedade e Cultura da Amazônia da Ufam, a são-gabrielense Lorena Araújo, 42, diz que o anúncio é uma “luz de esperança no fim do túnel” para estudantes do município. 

“A  implantação do Campus da Ufam vem ao encontro de lutas de décadas. Vem trazer oportunidades aos jovens indígenas que perderam as esperanças de um dia fazer faculdade, porque ser filho de agricultor, pescador, empregada doméstica e outros, fazer graduação é um sonho quase impossível. Hoje a luz da esperança acendeu no fim do túnel”, comenta.

Há pouco mais de duas semanas, Lorena participou de um protesto no município que reivindicava justamente a construção do campus. Ela destaca que passou muitas dificuldades durante a formação no mestrado e sentiu falta de espaços que poderiam auxiliar a se concentrar nos estudos, como uma biblioteca e um restaurante universitário com preços acessíveis.

Ela cobra desde já um espaço para participação dos estudantes do município no planejamento do futuro campus. “Queremos uma infraestrutura completa, com laboratórios, biblioteca, restaurante universitário, área de lazer e casa estudantil para os jovens que vão vir das comunidades distantes da sede. Pediremos ao reitor que faça oitivas junto à comunidade são-gabrielense”, afirma.

Atualmente, São Gabriel da Cachoeira já conta com um campus da Universidade do Estado do Amazonas (UEA, com 12 cursos (tecnológicos, licenciatura e bacharelado), e uma unidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam). A Ufam também atua oferecendo cursos esporádicos (intensivos e por demanda). 

 Pluralidade

 Com uma população de 51.795 pessoas, segundo o Censo IBGE 2022, São Gabriel da Cachoeira é considerado o município mais indígena do Brasil. Mais de 90% da população se declara pertencente a algum dos 23 povos identificados no município. 

O presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Marivelton Baré, destaca que o Amazonas é o estado com a maior extensão do país, e que as distâncias sempre foram um problema para a busca pelo ensino superior. O anúncio do novo campus deve alterar o cenário.

“O Amazonas é um estado bastante complexo na distância, muito caro, e como isso chega como novidade, a gente só tem a ganhar. Isso mostra também a real importância de uma região tão estratégica que agora foi contemplada. Só temos a agradecer ao governo federal, ao presidente Lula e a todas as lideranças, docentes, professores, doutores que lutaram incansavelmente por isso, por mais de 30 anos”, pontua.

 Cobrança

 Tesoureira da Associação dos Pós-Graduandos da Ufam e diretora de Ciência, Tecnologia e Inovação da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Priscila Duarte diz que os alunos do municípios finalmente terão um espaço “digno” para focar nos estudos. Ela destaca que as entidades representativas dos estudantes viram o anúncio do campus como positivo e irão acompanhar e cobrar a entrega.

“A APG-Ufam e as demais entidades de movimento estudantil, UBES, UNE e ANPG continuarão mobilizadas até que o campus de São Gabriel da Cachoeira seja construído e até que os recursos que vão ser destinados para as universidades, incluindo a Ufam, cheguem. Recursos que vão ser utilizados  para melhorar sua estrutura de laboratórios, de sala de aula, de assistência estudantil para estudantes indígenas e quilombolas”, afirma.

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