Na presença dos senadores Omar Aziz e Eduardo Braga, e do governador Wilson Lima, críticos da ministra do Meio Ambiente, Lula disse que acusações precisam parar
(Foto: Reprodução/Instagram/@Lulaoficial)
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, saiu em defesa da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre a BR-319. A titular da pasta é acusada pelos principais atores políticos do Amazonas de atrapalhar a recuperação da rodovia BR-319. O petista ainda prometeu que reunirá ministros e o governador Wilson Lima (União) para entregar a estrada federal recuperada, com atenção à redução dos crimes ambientais.
Como mostrou reportagem de A CRÍTICA, a Associação Amazonense de Municípios (AAM) e a bancada do Amazonas chegaram a pedir ao governo que Marina não acompanhasse Lula em sua agenda ao Amazonas, nesta terça-feira (10).
Enquanto discursava para um grupo de ribeirinhos e indígenas em Manaquiri, a 157 quilômetros de Manaus, acompanhado por senadores, ministros de Estado e pelo governador Wilson Lima, Lula disse que as acusações contra Marina precisam parar.
“É preciso parar com essa história de achar que é a companheira Marina que não quer construir a BR-319. Essa BR-319 foi construída nos anos 1970, foi abandonada por desleixo não sei de quem, ficou sem funcionar, e hoje ela tem uma parte ‘para cá’ que funciona, outra parte que funciona e o meio são 400 quilômetros que ficaram inutilizáveis”, afirmou o presidente da República.
“Eu quero dizer para o governador, para o senador Omar Aziz, para o senador Eduardo Braga, que eu já consertei muitos bueiros quando eles eram governadores. Nós vamos chamar vocês para discutir essa BR-319. Queremos pactuar com o governo estadual e a federação, e vamos ter que garantir que nós não vamos permitir o desmatamento e a grilagem de terra próximo da rodovia, como é habitual acontecer neste país”, completou Lula.
Preservação
Posicionado em frente ao governador Wilson Lima, o petista afirmou que a BR-319 é uma estrada olhada pelo mundo e que o Brasil ficou muito importante. “Hoje, governador, nós abrimos, em apenas 19 meses de governo, 183 novos mercados para os produtos agrícolas brasileiros. E o mundo, que está comprando os nossos alimentos, exige que a gente preserve a Amazônia”, disse.
O presidente voltou a afirmar que a Amazônia “não pode ser um santuário da humanidade”, mas que é preciso garantir a preservação da biodiversidade para as populações que vivem na região.
“Queremos a Amazônia como patrimônio soberano deste país e estudar a riqueza da biodiversidade para saber se a gente consegue fazer com que os povos indígenas, ribeirinhos, seringueiros e extrativistas vivam e ganhem dinheiro com a preservação da Amazônia”, pontuou.
Compromisso
Novamente direcionado ao governador do Amazonas, Lula afirmou que firma um compromisso de chamar Wilson Lima, os senadores do estado, os ministros dos Transportes, da Casa Civil e do Meio Ambiente, para tratar sobre a rodovia.
“Nós vamos construir 50 e poucos quilômetros e, enquanto isso, vamos preparar o estado do Amazonas para que a gente possa entregar definitivamente a ligação entre Manaus e Porto Velho. Temos consciência que a rodovia ganha outra importância quando o rio Madeira está seco e não podemos deixar duas capitais isoladas, mas vamos fazer isso com muita responsabilidade”, prometeu o petista.
Danos
Em agosto deste ano, o Amazonas bateu recorde de queimadas pelo terceiro mês consecutivo. O estado, que historicamente ficava na quarta posição entre aqueles com mais incêndios, já figura no terceiro lugar. Segundo o Fórum de Secretários Municipais de Meio Ambiente do Amazonas, os focos ocorrem, principalmente, nas proximidades das BR-230 (Transamazônica) e BR-319, no sul do estado.
Um estudo divulgado em 2023, pelo Observatório da BR-319, apontou que os ramais na porção sul da BR-319 são quase seis vezes maiores que a extensão da estrada, de 885 quilômetros. Um dos maiores riscos associados à recuperação da rodovia é o incentivo à abertura de novas estradas ‘não oficiais’, gerando mais desmatamento e queimadas.
A BR-319 foi construída entre 1968 e 1976, durante a ditadura militar, com o objetivo de conectar Manaus (AM) a Porto Velho (RO), ligando a região Norte ao restante do Brasil por estrada. O processo atropelou requisitos ambientais e ignorou a escuta aos indígenas que ainda vivem na região. Com o passar dos anos, devido à falta de manutenção adequada e às condições ambientais adversas, grande parte da rodovia, especialmente o trecho conhecido como "meio", ficou intransitável nos anos 1980. A estrada ainda é utilizada, mas possui grandes trechos sem asfalto.