Linha do terror

Linha do terror: assaltos constantes na linha de ônibus 652 preocupam usuários

Os trechos em que os assaltos são anunciados e a rota de fuga dos criminosos também já são conhecidos.

Amariles Gama
23/07/2024 às 08:08.
Atualizado em 23/07/2024 às 17:36

(Foto: Jeiza Russo)

Medo, insegurança, impotência e revolta. Estas são algumas das sensações diárias descritas por passageiros e condutores do ônibus da linha 652, em Manaus. O transporte coletivo, que faz o trajeto entre os terminais 4, 5 e 1, tem sido alvo de constantes assaltos, ocorridos em intervalos cada vez menores.

Os trechos em que os assaltos são anunciados e a rota de fuga dos criminosos também já são conhecidos. Somente este mês, houve o registro de três assaltos em trechos, horários e pontos de fuga semelhantes.

Na rota usual, em um dos trechos, o ônibus passa pela avenida Ephigênio Salles, bairro Aleixo, Zona Centro-Sul, seguindo em direção ao bairro Coroado, na Zona Leste. É neste trecho que os assaltantes costumam agir, obrigando o motorista a desviar a rota para o bairro Japiim, na Zona Sul, onde eles fogem em direção a uma área de mata próxima à Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e à Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), no bairro Japiim.

Um motorista da linha 652, de 47 anos, que preferiu não se identificar, conta que já presenciou até mesmo a morte de um passageiro que tentou reagir a um assalto dentro do ônibus. Ele, que trabalha como motorista de ônibus há 20 anos, afirma que a única esperança no fim do dia é chegar em casa bem.

(Foto: Jeiza Russo)

“Todo dia a gente está aqui e, assim como o passageiro grava a nossa fisionomia, o bandido também grava. Já vi passageiro ser morto do meu lado, colegas de trabalho serem furados por quererem ser heróis. Eu só quero chegar em casa bem, daqui a 10 anos eu termino a minha contribuição. A polícia prende e a justiça solta. Eu vou me expor? Vou nada”, disse o motorista, que afirmou já ter perdido a esperança de que a situação melhore.

O agente de portaria, Gean Xavier, de 32 anos, usa a linha de ônibus todos os dias para ir ao trabalho e afirma que a sensação de insegurança é constante. Ele mesmo já presenciou um assalto ao ônibus. Para ele, nenhuma solução efetiva é feita pelas autoridades e equipes de segurança pública.

“A gente se sente refém de uma situação que é constante e a gente não vê ninguém fazer nada, não há uma solução, os nossos governantes simplesmente deixam como está, e é complicado, porque é constante e a gente não vê uma melhoria em nenhum aspecto”, disse.

“Acho que é necessário a gente pensar em estratégias, principalmente em termos de segurança, colocar rondas nos ônibus, como também em pontos estratégicos. Se a gente sabe que tem um lugar que é rota de fuga, por que não colocar segurança nesses pontos estratégicos? Aí fica o questionamento, porque a gente vê que não é feito absolutamente nada. As estatísticas estão aí, mas não é feito absolutamente nada”, completou.

Diante das ondas de assaltos, há quem se sinta agradecido por ter escapado ileso de alguns episódios. É o caso do vigilante José Pinheiro, de 57 anos, que já presenciou dois assaltos enquanto usava o transporte coletivo. Ele conta que, nos dois episódios, os assaltantes agiram de forma rápida e tiveram como alvo apenas a verba do coletivo.

(Foto: Jeiza Russo)

 “Já aconteceu comigo. Já vi dois assaltos dentro de ônibus, mas das duas vezes não mexeram com os passageiros, só levaram a renda do ônibus e, no outro, o celular do cobrador. Foi tudo muito rápido. Mas não é fácil não, a gente fica torcendo pra não mexerem com a gente. Graças a Deus, das duas vezes não mexeram com passageiro. Mas já vi falarem que, quando eles entram, tocam o terror e fazem a limpa, ninguém escapa”, disse o vigilante.

A história foi diferente para uma monitora de telemarketing, de 29 anos, que preferiu não se identificar. Ela conta que já perdeu as contas de quantas vezes foi assaltada e teve seus pertences pessoais, fruto de anos de trabalho, levados em segundos nas ações criminosas. Para ela, o sentimento é de revolta e impotência.

“Eles entraram dentro do ônibus armados, normalmente são quatro ou mais assaltantes e geralmente é nesses ônibus articulados. A gente sai para trabalhar e vem um vagabundo e te rouba, com uma arma. A gente se sente humilhada, impotente. Tem condições para ir de outro transporte? Não tem”, disse a passageira, que usa a linha 652 diariamente para ir ao trabalho.

O último assalto registrado na linha de ônibus ocorreu na quinta-feira (18), quando quatro assaltantes armados com armas brancas e de fogo obrigaram os passageiros a entregar seus pertences sob a ameaça de morte. Um dia antes, na quarta-feira (17), o ônibus também foi alvo de assalto, e imagens circularam nas redes sociais, apenas 15 dias após a última ação criminosa, ocorrida no dia 2 deste mês, quando pelo menos três pessoas ficaram feridas.

Posicionamento 

Em nota enviada à reportagem a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM) informou que “que as ações integradas entre as forças de Segurança e Salvamento resultaram entre janeiro a maio deste ano, na redução de 28% nos crimes de roubos a ônibus em Manaus. Além disso, as ações resultaram, durante o mesmo período, na prisão de cerca de 30 suspeitos de envolvimentos nos crimes. Informa ainda, que mantém constantemente diálogos com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram) e empresários do Distrito Industrial para buscar fortalecer as ações de segurança no transporte coletivo e às rotas”.

E continuou. “Para subsidiar o trabalho ostensivo e preventivo, implantou o Núcleo de Repressão a Roubos no Transporte Coletivo e Rotas do Polo Industrial de Manaus para fortalecer o trabalho investigativo da Polícia Civil (PC-AM), que, também, tem atuado em conjunto com o Sinetram e demais representantes do Distrito. A SSP-AM ressalta que são realizadas operações com focos voltados ao transporte coletivo como a Catraca, Pacificador, Tolerância Zero, dentre outras e reforça o policiamento em pontos estratégicos, por meio da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), para proporcionar mais segurança à população e usuários”.

E finalizou. “(A SSP-AM) Destaca, ainda, que a população pode auxiliar a SSP-AM com denúncias. Para isso, deixa à disposição, o número 181. As ligações são gratuitas e sigilosas. Dispõe, também, do 190, que é o número para emergência. Além disso, a SSP-AM reforça a necessidade de a vítima registrar o Boletim de Ocorrência (BOs). Os documentos podem auxiliar as ações da Segurança Pública no emprego do policiamento, conforme as denúncias da população”. A pasta não informou quais medidas serão tomadas para coibir práticas criminosas no 652, objeto central da matéria

*Matéria atualizada às 17h35 para inserção do posicionamento da SSP-AM 

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