Conhecimento avançado

Irmãos superdotados do Amazonas evidenciam diferenças na identificação entre meninos e meninas

Só agora, aos 15 anos de idade, Lívia Carvalho de Castro está começando a ter a sua superdotação identificada, enquanto o irmão mais novo, Dante, já sabia das habilidades desde os 11

Amariles Gama
online@acritica.com
22/09/2024 às 08:27.
Atualizado em 22/09/2024 às 08:28

Crianças com altas habilidades/superdotação evidenciam desde pequenos o conhecimento avançado (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

Desde os 11 anos, Dante Carvalho de Castro, 12, é reconhecido como um menino com altas habilidades. Sua irmã mais velha, Lívia Carvalho de Castro, de 15 anos, entretanto, só agora está começando a ter sua superdotação identificada.

A diferença no tempo de diagnóstico entre os dois irmãos reflete uma realidade comum: a dificuldade de identificar a superdotação em meninas, que muitas vezes passam despercebidas no ambiente escolar e familiar.

A professora Carolina Cecília Nogueira, mãe de Dante e Lívia, conta que, desde muito cedo, o filho dava sinais de que tinha uma maneira diferente de enxergar o mundo.

Dante, hiperfoco em física quântica (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

Aos 6 anos, Dante começou a estudar os planetas de forma aprofundada, e aos 8, lia Charles Darwin e expressava grande interesse em genética e geologia. Foi nessa época que um professor de astrofísica identificou que Dante tinha um conhecimento muito avançado.

“Eu sempre o achei muito inteligente e proativo. Todas as coisas que ele se interessava, desde pequeno, ele mergulhava a fundo. Quando começou a pesquisar planetas aos 6 anos, ele queria entender profundamente quais elementos os compunham e criava estratégias de trajes de proteção possíveis para usarmos em cada um. A partir daí, começou a ler livros de geologia...”, relata Carolina, ao afirmar que o diagnóstico veio com o apoio da escola e após avaliação de especialistas.

Lívia, hiperfoco em literatura (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

Ao contrário do irmão, Lívia não foi identificada como superdotada na infância. Isso porque suas habilidades eram mais ligadas à criatividade, sensibilidade emocional e organização, habilidades comuns em meninas superdotadas, mas que muitas vezes são subestimadas.

Carolina conta que, com 1 ano, Lívia já falava e até contava as fofocas da creche. Ela tinha um vocabulário rico para a idade e costumava usar uma ironia inteligente.

“Ao crescer, se desenvolveu em uma menina que se destacava pela doçura e educação. Suas leituras de livros sempre foram diferentes e sua visão social sempre à frente, capaz de dialogar com ideias complexas desde muito cedo. Se interessa e compreende filósofos que são complexos mesmo para adultos da área. Além disso, é uma leitora voraz de livros clássicos da literatura; só este ano foram 15 até o momento”, destacou a mãe da adolescente.

Ainda criança, Dante já lia livros sobre genética e evolução de autores como Charles Darwin (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

“Eu tenho visto algumas pesquisas que falam a respeito da identificação de meninas, que parecem ter uma repetição com o caso da Lívia, já que ela sempre foi mais tímida em ambientes escolares. Por ser de humanas, a inteligência fica menos contrastante que nas exatas, pois, enquanto na sala Dante demonstrava cálculos acima da média, expor pensamentos incríveis de humanas causa um pouco menos de impacto, muitas vezes, por conta do valor que se dá à área ou pela falta de compreensão da complexidade dos termos de humanas”, completou.

Ele da ciência e matemática. Ela da filosofia e literatura

Atualmente, Dante está no 8º ano do ensino fundamental e já participa de projetos acadêmicos. Ele estuda física, química e astronomia na Escola Humanizada da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Ele também assiste a aulas na graduação de Meteorologia por meio da extensão e participa de outro projeto no laboratório de Química. Dante também destaca que já escolheu sua profissão: quer ser físico e professor.

“Nós, superdotados, não somos perfeitos. Temos mais destaque em algumas áreas do que em outras, e quando erramos, somos algumas vezes mais julgados. Mas é certo que adoramos aprender... Além de estudar teorias existentes, gosto de criar teorias na área da física e fico muito feliz quando vejo descobertas científicas muito parecidas com as que tinha pensado, porque me dá a sensação de que estou caminhando para onde desejo: contribuir no futuro com a humanidade”, disse.

Carol, a mãe (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

Já Lívia, que atualmente está no 1º ano do ensino médio, sempre teve mais interesse e facilidade nas áreas de filosofia, literatura, história, ciências políticas e meio ambiente. Ela conta que ama literatura e gosta de ler autores como Tolstói, Victor Hugo, Hans Christian Andersen, Frances Burnett, Guimarães Rosa, e confessa que acha difícil escolher o preferido, pois gosta de todos. Na filosofia, ela destaca que gosta de Simone de Beauvoir, Sartre e Rousseau.

“Minha vida acadêmica tem sido cada vez mais desenvolvida, com atividades extracurriculares, como o NAAHS [Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação] e a Escola Humanizada da UEA, que eu frequento e aprecio muito! Minha família sempre teve muito cuidado amoroso e atenção comigo, e continua como sempre esteve. As minhas amizades também continuam boas, como eram mesmo antes de descobrir a superdotação. Talvez por ser da área de humanas, não tenha facilitado minha identificação, mas ajudou a me relacionar na sociedade”, comentou Lívia sobre sua jornada de identificação como superdotada.

Apoio da família e escola

Para Carolina, as escolas deveriam ter um curso para ajudar os professores a perceber a superdotação nos alunos, olhando além dos estereótipos. Ela destaca ainda que meninas devem ser mais incentivadas a mostrar seu potencial, e a sociedade precisa ver a inteligência social como algo precioso, pois é o que mais falta na humanidade para seu desenvolvimento harmonioso.

“Olhar além dos estereótipos, verificar mais quando uma criança está entediada. Pode ser por estar além do conhecimento oferecido ou por ter um interesse muito grande em outra coisa. Eu e meu esposo, Jhon Weiner, os levamos para fazer todas as atividades que eles têm interesse. Buscamos sempre apoiar em tudo. É preciso também ter cuidado e atenção com o emocional, pois a infância e a adolescência devem ser respeitadas e bem vividas. Sempre conversamos com eles para aproveitarem o seu tempo sendo felizes e vivendo a vida além dos estudos”, destacou.

Miguel, hiperfoco em dinossauros (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

Carolina destaca ainda que é importante estar atento às diferentes formas de superdotação, ressaltando, inclusive, que o filho caçula, o pequeno Miguel, de 8 anos, também vai começar a investigar a superdotação, já que também tem apresentado características de possuir altas habilidades, assim como os irmãos mais velhos.

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