Tecnologia

Inteligência Artificial pode ser aliada nos diagnósticos de doenças cardíacas no interior do AM

Especialistas ouvidos por A CRÍTICA falaram sobre a possibilidade da utilização da IA onde há baixa quantidade de médicos

Lucas Motta
online@acritica.com
18/08/2024 às 13:17.
Atualizado em 18/08/2024 às 13:17

Doutor Eduardo Lapa destacou que existem diversos exemplos práticos de aplicações de IA para otimizar o tempo e as condições de trabalho. (Foto: Paulo Bindá/A Critica)

Vânia Naue é médica cardiologista e atua na análise de exames de imagem para diagnosticar doenças cardíacas. Com uma vasta quantidade de materiais para verificar, ela passou a recorrer ao uso de Inteligência Artificial (IA) com o objetivo de otimizar o tempo e as condições de trabalho. 

“Hoje, a IA está para nos ajudar em tudo. Nos consultórios, ela colabora muito para que a gente não perca a sequência de acompanhamento do paciente. Por exemplo: eu solicito um exame, ele fica armazenado e, depois, eu posso consultar aquela informação”, comentou.

O uso do recurso pode parecer algo novo dentro da medicina, mas essas aplicações são estudadas desde a década de 1990 e apenas ganharam mais utilidade e adeptos com o passar do tempo, por causa dos avanços da tecnologia.

O coordenador da residência de Cardiologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, doutor Eduardo Lapa, defende que esses mecanismos podem ser usados em cidades do interior do Amazonas, onde há baixa quantidade de médicos e altas filas de espera por atendimentos. 

Segundo o levantamento feito pela Associação Médica Brasileira e divulgado através da Demografia Médica no Brasil 2023, o nosso estado é o terceiro no país com menos de dois médicos por mil habitantes, com 5,7 mil profissionais para 4,2 milhões de pessoas. O Amazonas fica atrás apenas do Pará (1,8 mil) e do Maranhão (1,22 mil por habitante). 

Apps auxiliam os médicos

Para Lapa, existem diversos exemplos práticos de aplicações de IA que podem se encaixar nesse contexto para que a qualidade do atendimento médico seja maior no interior do estado. O médico cita os aplicativos que transcrevem as consultas e os que criam lembretes para que o paciente execute corretamente o receituário como exemplos de otimização. 

“A IA tem um potencial muito grande para populações menos favorecidas, porque, com os lembretes para os pacientes e um médico com mais tempo para conversar na consulta, que às vezes é a única do paciente no ano, ela vai render muito mais do que um atendimento convencional”, explicou o médico.

A Inteligência Artificial também já é realidade nas salas de aula das universidades de medicina. Os universitários a usam na formação acadêmica e aprendem quais ferramentas podem ser práticas para utilização dentro dos consultórios.

A diretora-geral da Afya Educação Médica, unidade de Manacapuru, Karen Ribeiro, explicou que essa metodologia faz parte do plano de desenvolvimento para que os médicos formados no interior do estado possam atuar nas cidades interioranas com maior capacidade de atendimento. 

“Nosso perfil é formar médicos generalistas que possam atuar nesses territórios adversos. A proposta é adequar as dificuldades, e, a partir do momento em que eles estiverem formados, vão ser impactados por essas tecnologias. Então, nós já as usamos na formação para que seja uma realidade mais abrangente do que hoje em dia”, comentou. 

Ética no uso da Inteligência Artificial

Mesmo com todos os bons indicativos até aqui já relatados sobre o uso da IA na atividade médica, em especial no interior do Amazonas, não se pode deixar de lado um questionamento que também surgiu com a nova tecnologia: até onde o seu uso pode ir sem ferir os princípios éticos? 

Em um artigo assinado por cinco pesquisadores da área, entre eles a engenheira de Sistemas e Computação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Nadja Velasco de Loyola, o principal perigo causado (mesmo de forma involuntária) pelo uso de IA é criar aplicativos que invadam a privacidade dos usuários, sejam discriminatórios ou tendenciosos.

Mas, quando o assunto é medicina, além desses tópicos, há também a preocupação (em especial dos pacientes) de que a atenção e o comprometimento do profissional de saúde sejam trocados por comandos gerados por uma tecnologia. 

Estratégia para o uso consciente e ético da IA

O doutor Eduardo Lapa reconhece que essa é uma preocupação recorrente, mas também destacou que existem formas de evitar que haja um descontrole e malefícios causados pelos aplicativos. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação instituiu, em 2021, a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA), que assume o papel de nortear as ações do Estado brasileiro em prol do desenvolvimento das ações, em suas várias vertentes, que estimulem a pesquisa, inovação e desenvolvimento de soluções em Inteligência Artificial, bem como o seu uso consciente, ético e em prol de um futuro melhor.

“Não se vislumbra um horizonte onde a máquina vai fazer tudo sozinha. O médico vai julgar se as informações da IA podem ser aplicadas; é algo análogo ao que já fazemos com as leituras médicas. É como se tivéssemos um outro par de olhos vendo o que se faz e identificando potenciais lacunas”, disse Lapa.

Diante disso, também é importante que os profissionais da saúde estejam em constante atualização quanto às ferramentas que podem ser usadas nos consultórios. Lapa defende que o ritmo de inovação da IA é muito acelerado, mas que pode ser compreendido pelos médicos uma vez que eles se habituem a entender que as ferramentas foram criadas por colegas de profissão. Para o médico, o que não deve mudar é a entrada dessa tecnologia que, segundo ele, veio para ficar.

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