Combinação de queimadas e estiagem, e até mesmo chuvas torrenciais no interior, já afetam o acesso a serviços básicos de energia e água
Na imagem, funcionário da Amazonas Energia passa por área onde riu secou. Ao fundo, fumaça de queimadas entrega que os problemas se misturam no estado (Fotos: divulgação)
A estiagem e as queimadas recordes no Amazonas já afetam a distribuição de energia elétrica e água potável em municípios da região metropolitana de Manaus e no interior do estado. O cenário pode se agravar com avanço da estiagem, que deve durar até a segunda metade de outubro.
Neste ano, os municípios de Benjamin Constant, Manacapuru e Atalaia do Norte já enfrentam prejuízos na distribuição de energia elétrica por causa da combinação de fogo e seca. A distribuição de água também já está afetada. O serviço está sendo racionado em Envira, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva e Nhamundá. Em 2023, municípios do estado enfrentaram o mesmo problema.
Para A CRÍTICA, Radyr Gomes reiterou que não há problemas de abastecimento de combustível nas unidades geradoras, mas que o transporte de diesel para as usinas foi prejudicado pela seca, por causa do transporte por rio. Além disso, o fogo já atinge linhas de transmissão e força interrupções para manutenção.
Nesta semana, o município de Benjamin Constant precisou ter seu fornecimento de energia interrompido durante toda a tarde de terça-feira (24) para que o combustível fosse reposto na usina termelétrica que abastece a cidade e o município vizinho, Atalaia do Norte.
“A gente tem as usinas abastecidas, mas em Benjamin Constant, eu tenho um reservatório lá. O produtor independente tem autonomia sobre a usina, mas tenho esse reservatório que estava cheio em uma balsa próximo a Benjamin Constant para fazer a reposição na usina, só que secou mais o rio. Ontem eu falei com o prefeito David [Bemerguy] e ele está buscando recurso para fazer uma dragagem em uma área que ficou extremamente difícil de fazer esse transporte”, relatou.
A balsa que realiza o abastecimento fica na comunidade Santo Antônio, nos limites de Benjamin Constant, e precisa atravessar um trecho de quase 24 quilômetros para chegar até a usina termelétrica localizada na sede do município. Embora a unidade estivesse com boa autonomia, o diretor informou que o transporte da chamada “balsa pulmão” ficou comprometido pela estiagem “que se agravou muito no Alto Solimões”.
“Ali há um problema que vai ano a ano se agravar mais ainda. Por conta de terras caídas e uma série de mudanças no traçado do rio, no leito do rio Solimões naquela região. Houve realmente esse problema e a gente precisava fazer um alívio de carga para diminuir o consumo e aumentar a autonomia para os próximos dias”, disse.
Segundo informações do produtor independente, conseguiram realizar o transporte do combustível durante a noite de terça-feira, utilizando embarcações menores, mas Radyr Oliveira destacou que ainda deve confirmar se haverá necessidade de novas interrupções.
Além da estiagem, o diretor apontou que as queimadas recordes no estado também geram impactos negativos na distribuição de energia. Um exemplo foi o incêndio que atingiu linhas de transmissão que levam eletricidade para Manacapuru e proximidades, na região metropolitana de Manaus.
Por causa das chamas, a concessionária precisará fazer a interrupção do serviço no próximo domingo (29), entre 5h30 e 14h30, para manutenção do sistema. O serviço será na subestação de Iranduba, que também atende Manacapuru.
“Você sai de Manaus para Manacapuru pela rodovia AM-070 e é cheio de focos de incêndio. Botaram fogo numa região lá e queimou uma árvore imensa que caiu em cima da linha e rompeu. O pessoal foi lá, recuperou à noite. No dia seguinte, deu novamente, no mesmo local, outro problema por questão de queimada. E isso não é só em Manacapuru. Aconteceu em Caapiranga. É criminoso o que estão fazendo, esse fogo na floresta. A região do rio Manacapuru está queimando há um mês e eu tenho rede ali”, lamentou.
“Eu já conversei com as autoridades, falei com o Corpo de Bombeiros. Um dia desses ‘tacaram’ fogo na cabeça da ponte sobre o rio Negro e passou três dias queimando embaixo da linha que vai para Manacapuru”, acrescentou.