Mortes na BR-319 completam dois anos sem punição. Familiares acusam morosidade policial e falta de assistência do DNIT
(Foto: Junio Matos)
Completou dois anos que os familiares de vítimas da queda da ponte na BR-319 precisam dividir o luto com a cobrança por justiça. Mesmo após todo esse tempo, e apesar das evidências iniciais sobre má conservação da ponte, ninguém foi responsabilizado até o momento.
“É difícil lidar com o luto e ter que exigir que os órgãos façam o seu trabalho. O DNIT, especialmente, está dificultando tudo. Na audiência que participamos na Assembleia Legislativa e no protesto na BR-319, vários órgãos compareceram, menos o DNIT, que foi convidado”, comenta a estudante Ana Beatriz, neta do servidor João Fernandes, uma das vítimas.
Há dois inquéritos que investigam as mortes. Um pertencente à Polícia Federal, sobre o qual a reportagem pediu posicionamento da PF e aguarda retorno, e outro da Polícia Civil do Amazonas. Essa segunda investigação é realizada pela Delegacia do Careiro e está pendente, aguardando a finalização de um laudo que deve ser entregue pelo Departamento de Polícia Técnico-Científica à Delegacia-Geral da PC-AM.
“No mês passado, fomos até o Instituto Médico Legal e a mulher responsável deixou claro que não queria nenhuma mídia em cima dela. Depois que a gente falou que ia procurar a imprensa por causa da demora, ela ligou para o engenheiro responsável pelo laudo e pediu um prazo”, conta Ana Beatriz.
Após essa conversa, ficou marcada a entrega do laudo para 20 de setembro, mas até agora o documento ainda não chegou aos investigadores, conforme relatou um deles para A CRÍTICA. Ele diz que, caso o laudo realmente esteja finalizado, o que a PC-AM não confirmou à reportagem até o momento, ainda deve demorar para chegar até eles.
“Ainda não estamos com esse laudo em mãos, mas quando isso acontecer, a estimativa é que leve pelo menos uns 30 dias de trabalho para analisar o que diz a perícia e relacionar ao inquérito em andamento”, explicou.
O laudo é considerado essencial para entender como exatamente a ponte se rompeu. Até aqui, por meio da avaliação do peso dos veículos que estavam sobre a estrutura, e por oitiva de testemunhas, foi comprovado que havia sobrepeso na ponte.
O gestor de segurança Fracione Viana, filho da servidora Maria Viana (outra vítima), já cobrou diversas vezes a finalização do laudo pendente. No início do mês, ele foi até o Departamento de Polícia Técnico-Científica e ameaçou fazer um protesto caso o documento não fosse finalizado.
À reportagem, ele afirmou que foi informado na segunda-feira (30) que o laudo já está pronto e deve ser enviado neste mês à Delegacia-Geral para, então, ser encaminhado à Delegacia do Careiro. “A perícia informou que o laudo já está finalizado, só estão fazendo alguns ajustes, e a família poderá ter acesso agora, em outubro”, disse Francione Viana.
Distante
As maiores críticas dos familiares recaem sobre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que nunca procurou os parentes das vítimas para oferecer qualquer tipo de assistência ou explicações. Para A CRÍTICA, o órgão já informou anteriormente que aguarda a finalização da sua própria investigação para se reunir com os familiares.
Ocorre que a investigação do DNIT, terceirizada para o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT-SP) já foi adiada pelo menos quatro vezes. O novo prazo para conclusão do contrato que prevê a investigação é novembro deste ano.
A reportagem voltou a questionar o órgão sobre as razões para os adiamentos consecutivos da apuração e se o DNIT aguarda a conclusão do inquérito da Polícia Civil para finalizar a própria investigação. Não houve retorno até o momento.