Fundo Amazônia em risco

Doação dos EUA ao Fundo Amazônia fica em risco após Trump eleito

Fundo financia ações na Amazônia. Uma delas é o investimento em infraestrutura para o Corpo de Bombeiros do Amazonas

Waldick Júnior
11/11/2024 às 09:52.
Atualizado em 11/11/2024 às 09:52

(Foto: Agência Brasil)

Baku - O anúncio de US$ 500 milhões dos Estados Unidos para o Fundo Amazônia está ameaçado após a vitória de Donald Trump no país. A  avaliação é da diretora-executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, que participou nesta segunda-feira (11) de um painel sobre os efeitos da eleição do republicano nos EUA, na COP 29, no Azerbaijão. Estiveram presentes ainda representantes da entidade na China, no sudeste asiático e nos Estados Unidos.

“Temos um compromisso do governo Biden em relação ao Fundo Amazônia e a gente espera que esse compromisso seja mantido, porque as demandas mundiais, os recursos independem de quem está na Casa Branca, mas a gente sabe que há, sim, um risco em relação ao Fundo. O que esperamos é responsabilidade do governo Trump, porque há muito o que fazer e os recursos são necessários”, afirmou ela para A CRÍTICA.

Entre os dias 17 e 19 de novembro, o presidente Biden visita o Brasil para participar do G20. A parada inicial será em Manaus, marcando a primeira visita oficial de um presidente americano à região. Biden deve se reunir com lideranças locais e há expectativa de uma posição sobre as doações dos EUA ao Fundo Amazônia. 

(Foto: Waldick Júnior)

 Do total de US$ 500 milhões (aproximadamente R$ 2,9 bilhões) anunciados pelos Estados Unidos, o Fundo Amazônia recebeu até agora US$ 53,4 milhões. O restante do valor está condicionado à aprovação do Congresso dos EUA. Embora o repasse integral esteja programado para ocorrer até 2028, a posse de Trump no próximo ano e a guinada da Câmara e do Senado americano para a direita aumentam as chances de que esse montante nunca seja liberado.

Em setembro, o BNDES  anunciou a aprovação de R$ 45 milhões para o Corpo  de Bombeiros do Amazonas. O projeto envolve aparelhamento e estruturação do CBMAM, incluindo a compra de veículos auto bomba tanque florestal, auto tanque, pickup,  ônibus, retroescavadeiras e equipamentos individuais, como botas, capacetes e conjuntos multi-incêndio, além de obras civis e novas instalações. Desde sua criação, em 2008, o Fundo já apoiou 114 projetos no Brasil - dez deles no Amazonas.

 Enfrentamento

 A avaliação de representantes do Greenpeace é a de que a eleição de Donald Trump não pode significar o travamento da pauta contra a mudança climática. Eles defendem que outros países como a China, segunda maior potência econômica e sexta com mais emissão de gases do efeito estufa, assumam o debate. 

“Precisamos admitir que há um vácuo de liderança climática deixado pelos resultados das eleições nos EUA, mas posso ver que a China e outras partes interessadas políticas estão em posição de preencher essas lacunas. Não por causa do tamanho da emissão do país, mas porque a China está liderando o caminho para fornecer soluções de tecnologia limpa em escala global”, afirmou a representante do Greenpeace China,Yan Ying. 

“O multilateralismo climático requer colaborações, então encorajamos a China a dar as mãos a outros países,  incluindo a União Europeia e economias emergentes para garantir ao mundo que possamos continuar lutando contra a mudança climática”, acrescentou, citando o investimento chinês em paineis solares e turbinas eólicas para a transição energética.

A diretora-executiva do Greenpeace EUA, sushma Raman, destacou que a eleição de Donald Trump tem reflexos em todo o mundo e defendeu a união da sociedade civil para que a pauta climática continue a avançar.

“As eleições nos EUA tiveram um resultado com implicações adversas significativas não apenas para as proteções climáticas e ambientais nos Estados Unidos, mas também em todo o mundo. Com a eliminação de barreiras regulatórias e institucionais e a ascensão do autoritarismo eleito, cabe a nós, sociedade civil, movimentos sociais, mídia independente, sindicatos, consumidores, comunidade internacional, responsabilizar o poder”, disse.

*O jornalista que assina esta reportagem viajou a Baku (Azerbaijão) a convite do Instituto Clima e Sociedade

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