Diversas atividades e eventos são organizados para marcar o dia, com a participação de escolas e instituições educacionais
(Foto: Agência Brasil)
No momento em que a região enfrenta um segundo ano de estiagem severa e um nível de qualidade do ar ruim em dias consecutivos de fumaça, o Dia da Amazônia, que é comemorado em 5 de setembro, é uma data relevante para incentivar e reforçar discussões pautadas na preservação da região. A Amazônia desempenha um papel crucial no equilíbrio climático global e na preservação da biodiversidade. No entanto, enfrenta desafios significativos devido ao desmatamento e à degradação ambiental, o que pode impactar tanto a região quanto o planeta como um todo.
Cabe refletir sobre os problemas enfrentados pela Amazônia atualmente, a interligação das questões sociais e econômicas com a preservação ambiental, e o papel das comunidades locais e indígenas na proteção da região. Diversas atividades e eventos são organizados para marcar o dia, com a participação de escolas e instituições educacionais. Políticas públicas voltadas para a Amazônia são discutidas, e a colaboração entre governos, ONGs e setor privado é incentivada. A data também contribui para educar as novas gerações sobre a importância da conservação e conta com o apoio da mídia e das redes sociais para ampliar seu impacto.
Para a docente do curso de economia da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), Michele Aracaty, que integra ainda o Focus (Fórum de Estudos Econômicos e Sociais para o Desenvolvimento Sustentável), a data é uma oportunidade para chamar a atenção para a relevância da Amazônia e seu papel como maior reserva natural do planeta e uma das maiores riquezas da humanidade. Especialista em desenvolvimento regional e biodiversidade, a pesquisadora tem produzido diversos artigos e trabalhos sobre o tema. Para ela, o dia 5 de setembro é uma excelente oportunidade para aumentar a conscientização sobre a importância da Amazônia e as ameaças que a biodiversidade enfrenta. Seu objetivo é informar a sociedade e destacar a urgência em adotar práticas sustentáveis, como uma economia verde na região, que faz parte de sua pesquisa de pós-doutorado.
“A partir do momento em que a sociedade tenha pleno conhecimento do papel da Amazônia no equilíbrio ambiental e climático lhe dará a devida importância. A Amazônia é nossa parte, e eu observo que a população tem se mobilizado para buscar alternativas com impacto reduzido e de preservação ambiental, mas precisamos de uma política pública assertiva que seja clara e que envolva os diversos atores amazônicos”, frisou.
De acordo com Michele Aracaty, um dos principais desafios a serem enfrentados pela Amazônia é a identificação de um modelo econômico ou produtivo de bens e serviços de baixo impacto que possa mitigar a vulnerabilidade social e econômica regional gerando emprego e renda verdes de forma a manter a floresta em pé. “Precisamos mudar a lógica: “deve sair de cena a extração predatória dos recursos naturais e dos biomas e entrar no jogo a valorização da floresta em pé e de tudo o que é produzido em cada ecossistema”, por isso, a necessidade urgente da implementação de uma Economia Verde na região”, destacou.
A especialista explica também de que maneira as questões sociais e econômicas estão conectadas à conservação ambiental na Amazônia. Para ela, é o tripé da sustentabilidade e constitui o modelo ideal onde as variáveis têm o mesmo peso. Ou seja, a Amazônia vive um eterno dilema. “Trata-se de uma região rica em biodiversidade e recursos naturais com valor inestimável e uma população vulnerável que cotidianamente é privada de direitos básicos (saneamento básico, energia elétrica, água potável...) e em termos de métricas apresenta os mais ínfimos indicadores de vulnerabilidade social e econômica. “Floresta rica, população pobre e vulnerável”. A Amazônia concentra os municípios com os piores IDH’s do país (Amazonas e Pará)", pontuou.
Dados do Salve (Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade) gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), revela crise na biodiversidade amazônica. Desmatamento, fragmentação de habitat e mudanças climáticas ameaçam espécies. Mamíferos, aves, répteis e plantas são impactados. Categorização mostra nível de risco, como "Criticamente Em Perigo" ou "Vulnerável". Atualização constante dos dados é crucial para a conservação. Estas informações orientam a criação de áreas protegidas e planos de ação. A preservação da Amazônia é fundamental para manter suas espécies únicas e os serviços ecossistêmicos. A mobilização de recursos e políticas eficazes são necessárias para garantir a proteção da biodiversidade amazônica e benefícios globais.
Em consonância, Michele Aracaty salientou que entre os desafios enfrentados na implementação de políticas de proteção ambiental na Amazônia, está a imensidão territorial, bem como a falta de oportunidades econômicas, o que contribui para a atividade predatória (que impacta sobre a floresta).
“Levanto a bandeira para a necessidade urgente de identificação de atividades econômicas preservacionistas que desestimulem gradativamente o desmatamento ilegal. Precisamos tornar viável economicamente atividades preservacionistas que esvaziem ou tornem menos atrativas economicamente as atividades predatórias”.
Ela também citou sobre as atividades econômicas, como mineração e desmatamento, que afetam a sustentabilidade e a biodiversidade da Amazônia. “Além de serem atividades que deixam destruição e contribuem para a perda da biodiversidade pouco ou nenhum desenvolvimento fica em benefícios da sociedade ou do local da exploração. Gera riqueza e crescimento, mas não desenvolvimento. Contribui para agravar os problemas urbanos e sociais”, afirmou.
Expressando críticas às mudanças nas políticas públicas que afetam a situação ambiental da Amazônia. Segundo ela, sem ações concretas, não há resultados efetivos. Medidas temporárias apenas suavizam os impactos, mas não resolvem o problema de fato. “Sendo que necessitamos de um planejamento com ações coordenadas e investimento. Não consigo ver a Amazônia como prioridade para o Brasil”.
Principais ações governamentais recentes focadas na preservação da Amazônia
A pauta ambiental PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal), tem sido debatida pela gestão pública sendo um dever de todas as esferas, mas pouco ou nenhum resultado concreto tem sido observado pelo menos se levarmos em consideração os últimos acontecimentos onde não somente a Amazônia como o Pantanal e estados da região Sudeste estão em chamas.
Por dentro
Dados que ilustram a complexidade do problema do desmatamento na Amazônia e a necessidade de uma abordagem integrada para a conservação da região, a exemplo, entre 2008 e meados da década de 2010, houve uma redução significativa no desmatamento, mas a partir de 2019, as taxas aumentaram devido a políticas que enfraqueceram as regras ambientais.
As principais causas do desmatamento incluem agricultura extensiva, pecuária, mineração e exploração ilegal de madeira, enquanto queimadas para preparar o solo para cultivo e pastagem também contribuem para a perda de vegetação. As consequências ambientais incluem impactos na biodiversidade e no ciclo do carbono. O PPCDAm é uma iniciativa do governo para combatê-lo, mas desafios como fiscalização e resistência à aplicação da lei persistem. O envolvimento das comunidades locais e indígenas é crucial para preservar a floresta.
Economia Verde
A Economia Verde a ser implementada na Amazônia constitui uma oportunidade de apresentar ao mundo um modelo brasileiro tropical de desenvolvimento com o principal ativo da biodiversidade que possa melhorar as condições de vida e proporcionar o bem-estar para a população que vive na região em condições elevadas de vulnerabilidade socioeconômica e que não dispõe de direitos básicos constitucionais.
Lembrando que a floresta é a principal fonte de inovação e que a Amazônia não é formada apenas por cobertura vegetal e rios. “Aqui vivem pessoas que precisam de emprego e renda e que contribuem para a preservação ambiental. Precisamos pensar grande em relação à Amazônia e não podemos errar mais. Temos que nos conscientizar de que o futuro do Brasil e do planeta passa necessariamente pelo futuro da Amazônia. Por fim, a Amazônia não é um problema, ela precisa ser vista como uma oportunidade”, concluiu.