Segundo a análise do SGB-CPRM, durante a cheia a saturação do solo se intensificou, comprometendo a estabilidade da área. Relatório será divulgado para o público na quinta-feira
Deslizamento de terra no Porto de Terra Preta, em Manacapuru-AM. Notar geometria semicircular da ruptura que se alarga nas proximidades da margem do rio Solimões. O terminal Hidroviário de Manacapuru foi parcialmente afetado (Foto: Divulgação)
Após três semanas do deslizamento de terra que aconteceu no dia 7 de outubro próximo ao Porto de Terra Preta, em Manacapuru, resultando na morte de duas pessoas e na interdição do Terminal Hidroviário da cidade, a equipe do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) divulgou o relatório de avaliação técnica após o desastre.
A equipe reportagem de A CRÍTICA teve acesso ao relatório na íntegra que foi elaborado pelos pesquisadores em Geociências Antonio Gilmar Honorato de Souza, Marco Antonio Oliveira e Renê Luzardo, além do técnico em hidrologia Jose Carlos da Matta Silva, entre os dias 8 e 10 de outubro.
O relatório será apresentado oficialmente nesta quinta-feira (31), durante coletiva de imprensa do SGB, para apresentar análises sobre a seca extrema na região amazônica em 2024. O evento acontecerá na Superintendência Regional de Manaus (SUREG-MA), às 14h (horário local), com a participação da diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do SGB, Alice Castilho.
Vista aérea do porto da Terra Preta mostrando a área afetada antes do evento e em período de cheia. Observa- se o muro de contenção do pátio parcialmente submerso, em julho de 2024 (Foto: Divulgação)
A análise revela que a área afetada pelo deslizamento abrangia aproximadamente 15.000 m², com profundidade de até 20 metros, mobilizando cerca de 300 mil m³ de material. O estudo identificou que a saturação do solo e a rápida descida do nível das águas, que variou cerca de 15,60 metros, foram fatores críticos para a ruptura.
Torção na rampa de acesso ao terminal flutuante (Foto: Divulgação)
Os fatores que contribuíram para o deslizamento, de acordo com os pesquisadores, foram a localização do terreno na margem erosiva do rio Solimões, a presença de minas d’água na base do talude e aterros inadequados que sobrecarregaram o solo. A análise evidenciou que, durante a cheia, a saturação do solo se intensificou, comprometendo sua estabilidade.
Diante dos resultados, os especialistas sugerem a realização de estudos hidrológicos e geotécnicos mais detalhados na região para identificar com precisão os fatores desencadeantes dos deslizamentos e auxiliar na formulação de medidas preventivas.
O monitoramento das áreas de risco e a vistoria das fundações do terminal hidroviário também foram destacados como essenciais para garantir a segurança das instalações.
Trincas no piso do estacionamento do terminal hidroviário (Foto: Divulgação)
Além disso, os pesquisadores observaram durante a pesquisa indícios de que o Terminal Hidroviário de Manacapuru precisa de vistorias especializadas, pois há “trincas no chão” e “degraus abatidos” próximo à instalações.
O SGB ressalta também a importância da implementação de projetos adequados para a ocupação das margens dos rios, evitando aterros inadequados e garantindo fundações seguras.
O relatório conclui destacando que é necessário que sejam tomadas ações imediatas para proteger vidas e infraestrutura na região amazônica, como monitoramento de áreas de alto risco, principalmente nos períodos de secas extremas.