Cenário

Cheia já provocou perda de R$ 31 milhões na economia, aponta levantamento da Sepror

Segundo o relatório acessado pela reportagem, esse prejuízo milionário se refere apenas a oito dos 58 municípios atualmente em situação de emergência ou alerta por causa das cheias.

Waldick Júnior
online@acritica.com
26/05/2022 às 18:58.
Atualizado em 26/05/2022 às 19:01

Dados levantados pelo governo do Amazonas já apontam perdas acima de R$ 31 milhões, no Estado, em decorrência da cheia dos rios amazônicos deste ano. O levantamento foi produzido pela Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror) com o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam). 

Segundo o relatório acessado pela reportagem, esse prejuízo milionário se refere apenas a oito dos 58 municípios atualmente em situação de emergência ou alerta por causa das cheias. O maior destaque é para Manacapuru, que fica na Região Metropolitana de Manaus e, sozinho, já soma perdas equivalentes a R$ 18,6 milhões, o que representa 60% do total de danos na agropecuária do Amazonas nesta enchente. 

“Manacapuru tem um setor primário muito forte, então acabou por ser o mais atingido, mas também porque tem essa característica de produzir em área de várzea, que é a primeira a ser afetada pelas cheias”, afirma o diretor-presidente do Idam, Tomás IgoMunoz Sanches.

No Alto Solimões, as perdas relatadas pelo levantamento somam R$ 412,2 mil em Amaturá. No rio Juruá, os prejuízos são de R$ 189 mil em Ipixuna e R$ 9,3 milhões em Carauari. Em Boca do Acre, no rio Purus, o total perdido equivale a R$ 1 milhão. Já no Município de Careiro, o dano é de R$ 1,2 milhão. Por último, no baixo Amazonas, São Sebastião do Uatumã e Barreirinha perderam R$ 31 mil e R$ 116 mil, respectivamente. 

Famílias

“São milhares de famílias, de produtores rurais atingidos nas calhas dos rios do Amazonas, sendo a maioria pequenos agricultores que produzem nas áreas de várzea e que demandam nesse momento ajuda humanitária, de enfrentamento das perdas”, comenta o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas (Faea), Muni Lourenço. 

Segundo ele, a pecuária também está atingida, já que os rebanhos de várzea precisam ser transferidos para áreas de pastagens que muitas vezes são alugadas pelos produtores. Além disso, há gastos com o próprio transporte e alimentação desses animais no período, tudo em decorrência do movimento dos rios. 

Segundo a Defesa Civil do Estado do Amazonas, a cheia dos rios amazônicos deste ano já atinge um total de 376.700 pessoas, o equivalente a 94,1 mil famílias. Dos 62 municípios do Amazonas, 22 estão em situação de alerta (incluindo Manaus) e 36 já estão em situação de emergência. 

Impacto nas vendas

Segundo o relatório do Idam e Sepror, até então, o maior produto com perdas na cheia deste ano é a banana, um prejuízo de R$ 9,4 milhões. Além disso, há também mamão (R$ 6,9 milhões); mandioca (R$ 4,1 milhão); macaxeira (R$ 2,1 milhão); e maracujá (R$ 3,2 milhões). No total, são quase 30 produtos afetados por causa das enchentes.
 
“Já está tendo um impacto na oferta de algumas frutas e hortaliças no mercado consumidor de Manaus. Caso isso se mantenha essa queda pela cheia, poderá haver algum impacto no preço dos produtos, mas até o momento ainda não é algo significativo. O maior prejuízo, até então, é mesmo na própria renda dessas famílias impactadas pela cheia”, pontua o presidente da Faea.

Blog-Tomás Igo Munoz Sanches Diretor-presidente do Idam 

“Nossa  orientação é que esses produtores de várzea possam estar trabalhando com agriculturas de ciclo curto. Além disso, escolhendo áreas de várzea mais alta, preparando essa área ainda na vazante para iniciar o plantio.  Outro conselho nosso é a informação sobre os programas de aquisição. São eles, o Programa de Regionalização da Merenda Escolar, o Programa Alimenta Brasil e o Programa de Aquisição Familiar. Todos esses projetos fazem compra direta dos produtores rurais, associações e cooperativas, o que ajuda e muito nas vendas. Além disso, buscamos fazer as visitas aos agricultores para identificarmos onde há impactos da cheia em parceria, um trabalho com a Defesa Civil do Amazonas e dos municípios. Com isso, os trabalhadores prejudicados podem receber o auxílio estadual, uma ajuda também financeira para que possam superar esse momento. Nesses levantamentos, também procuramos os agricultores que foram financiados para que possamos elaborar os relatórios de anistia, já que perderam os produtos”.

Em números

210 milhões de reais. Esse foi o total de perdas estimadas com a enchente de 2021 no Amazonas, considerada a maior já registrada no estado.  Ao todo, mais de 20 mil famílias de agricultores foram atendidas pelo Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam).

Embora as perdas na agropecuária sejam expressas em valores milionários, os maiores prejuízos ocorrerem na agricultura de subsistência, uma realidade de grande parte dos municípios do interior do Amazonas. Em comunidades à beira dos rios ou em área de várzea, a população planta quase exclusivamente para ter o que comer.

Um exemplo pode ser visto nas comunidades à margem do rio Ayari, afluente do rio Içana, na terra indígena Alto Rio Negro, no Município de São Gabriel da Cachoeira (AM). Segundo o líder indígena Dzoodzo Baniwa, do povo Baniwa, as perdas deste ano em decorrência da enchente estão afetando o modo de vida da população local. 

Ele, que é professor licenciado em física intercultural e mestre em Ciências Ambientais, monitora desde 2016 o volume das águas na região e as mudanças climáticas.

“Neste ano, tivemos uma extrema cheia, inclusive maior que o ano passado. E até agora, aqui nessa região, foram atingidas 46 famílias. Em 2021 haviam sido 16. Quando as roças são atingidas acaba impactando o sistema agrícola e toda a diversidade do sistema de roça indígena, incluindo mandioca, banana, abacaxi, pimenta e outros”, afirma Dzoodzo, que é também coordenador da Organização Baniwa e Koripako Nadzoeri, ligada à Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (Foirn). 

Segundo ele, a segurança alimentar da família é o principal prejuízo, em especial pelo modo de vida coletivo dos indígenas Baniwa. No próprio rio Ayari, onde vive, sete comunidades foram atingidas, afetando inclusive a educação e a saúde. 

“É um impacto local, negativo e sistêmico ao nosso modo de vida. Até mesmo nas nossas escolas indígenas não teremos como oferecer farinha e frutas para manter os estudantes no ensino. Uma vez também que uma família sofra com má nutrição, pode ficar ainda mais vulnerável a doenças”, ressalta o líder indígena. 

O professor diz que, quem quiser contribuir com a escola indígena Eeno Hiepole, pode fazer doações por meio da  conta-corrente 29.308-3, agência 1136-3 (Banco do Brasil). O comprovante pode ser enviado para eenohiepole@gmail.com

Garantia Safra

Em meio a cheia dos rios deste ano, a Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror) anunciou que o Amazonas teve a adesão de 1.502 agricultores ao programa Garantia Safra, projeto do governo federal que paga um benefício de R$ 850 a produtores que tenham tido perdas nas plantações. Pensado inicialmente para as secas do nordeste, esta é a primeira vez que o programa é aplicado no Amazonas. 

Segundo a Sepror, as adesões ocorreram entre abril e maio em sete municípios da calha do rio Juruá, região indicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para iniciar o programa, em razão das perdas já observadas em outros anos e da dificuldade de assistencialismo por causa das distâncias. Porém, a inscrição vale apenas para prejuízos na cheia do ano que vem, já que naquela região os produtores ainda estão no início do calendário de safra. 

“Iniciamos na calha do Juruá e já temos planos para estender o programa para mais 21 municípios do Amazonas, incluindo a microrregião de Manaus. Importante lembrar que o Garantia Safra é do governo federal, mas coordenado pelos estados. Nesse caso, apresentamos a proposta e aguardamos o retorno”, explica o coordenador estadual do Garantia Safra na Sepror, Heitor Liberato. 

Segundo ele, os novos municípios a integrarem o programa (caso o governo federal aprove) irão participar da edição no próximo ano. Nesse caso, irão se inscrever e o benefício será pago caso haja perdas na enchente que vai do final de 2023 a 2024. O coordenador afirma ainda que futuramente o plano é que todos os 62 municípios do Amazonas sejam assistidos pelo programa. 

“É interessante destacar que o Garantia Safra trata desse problema das cheias de forma preventiva e contínua, mas antes da perda o Idam vai até a propriedade e também dá orientação para o agricultor. Porque, na realidade, nosso objetivo é também reduzir essas perdas, não apenas lidar com os prejuízos causados por elas”, pontua ele.

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