Dados do INPE mostram que, em 12 meses, desmatamento no Amazonas teve queda de 29%, mas as queimadas cresceram
(Foto: Agência Brasil)
O Amazonas registrou redução de 29% do desmatamento no período de agosto de 2023 a julho de 2024 na comparação com igual período anterior. De agosto de 2022 a julho de 2023, foram 1.610 km² de floresta desmatada; nos últimos doze meses, essa área caiu para 1.143 km². Apesar da redução, o cenário de devastação florestal preocupa por conta do avanço das queimadas: ‘Queimar é mais fácil”, alertam especialistas.
“Não há como as queimadas não deixarem rastros. A primeira coisa é a emissão de calor detectada pelo satélite. Segundo, o registro visual de fumaça. Terceiro, a mancha da queima. Mas sim, é mais fácil (causar queimadas). Sem dúvidas”, afirmou a presidente do Fórum de Secretários Municipais de Meio Ambiente, Jane Crespo.
A secretária disse que, embora tenha reduzido o desmatamento, as melhorias ainda não são perceptíveis. “Ainda não é possível perceber essa diminuição pelos órgãos municipais, em função de dois fatores: falta de licenciamento para limpezas de roçado, pois os interessados não procuram os órgãos para realizarem seus licenciamentos ou, ao menos, as orientações. Segundo, a impossibilidade de compartilhamento dos bancos de dados entre os órgãos ambientais. Ainda que os sistemas estejam abertos para consultas na internet, os municípios do interior não têm sinal de qualidade”, apontou Crespo.
Segundo o Projeto do Sistema de Monitoramento dos Biomas Brasileiros (PRODES) do Inpe, na Amazônia, a área desmatada de agosto de 2023 a julho de 2024 foi de 6.288 km², representando uma redução de 30,6% em relação a período anterior, marcando o menor índice dos últimos nove anos. O Amazonas acompanhou a redução, no entanto, ainda é o terceiro estado, dos nove da Amazônia Legal Brasileira, que mais contribui para o desmatamento.
Os estados do Pará, Mato Grosso e Amazonas, juntos, correspondem a 75,84% do estimado na Amazônia para o ano. Além disso, o estado registrou, nos nove primeiros meses de 2024, o total de 21.930 focos de calor, número que é o maior para um ano inteiro desde o início da medição histórica, em 1998.
Medidas
O secretário estadual de Meio Ambiente, Eduardo Taveira, ressaltou que os dados de redução de desmatamento revelam os esforços das autoridades em controlar esse tipo de crime.
“A redução do desmatamento deve-se, em especial, a uma maior ação de comando e controle para coibir esse tipo de crime. O próprio estado melhorou os sistemas de monitoramento e consegue, por exemplo, fazer autuações remotas quando os alertas de desmatamento são emitidos. Outro fato importantíssimo foi o aumento da fiscalização feita pelo Governo Federal. Isso porque mais de 70% dos alertas de desmatamento no Amazonas ocorrem em áreas federais”, afirmou Taveira.
Questionado se a redução do desmatamento pode indicar uma “migração” do crime de desmatar para o de causar incêndios ambientais, o secretário disse que, na verdade, o aumento dos focos de calor se deve aos extremos climáticos vividos no estado nos últimos anos, como a severa estiagem de 2023 e 2024. “Secas e queimadas estão diretamente associadas na região”, disse.
“O principal fator para esse dado foi a estiagem histórica no bioma e também no Amazonas, que aumentou consideravelmente o período de seca no estado, aumentando também os focos”, explicou Taveira.
Eduardo Taveira ressaltou que, apesar do aumento de queimadas, o estado ampliou o alcance do enfrentamento a esse problema. “Mesmo com o aumento do número de focos, conseguimos estabelecer várias áreas de combate em municípios prioritários e aumentar o monitoramento da qualidade do ar em praticamente todo o estado, o que possibilitou uma antecipação ao problema das fumaças e redução dos períodos com baixa qualidade do ar, quando comparado ao ano passado”.
Ibama comemora resultado
O superintendente regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Joel Araújo, também comemorou os resultados. Na manhã de quinta-feira, publicou um vídeo em suas redes sociais, destacando que os dados são positivos para a manutenção do bioma.
“Mais um resultado do trabalho dos órgãos ambientais, do governo federal, dos estados e municípios, e todos aqueles que se dedicam às nossas causas ambientais, defesa das nossas florestas e dos nossos biomas”, disse.
O superintendente destacou que a redução do desmatamento garante relevância aos trabalhos e à vida dos povos nativos. “Tivemos uma redução significativa agora em 2024, conforme os dados do Inpe. Na Amazônia, os dados são de maior relevância, porque protegem a nossa fauna, flora e a nossa sociedade, os nossos povos originários.”