Mutirão

AM terá jornada com cirurgias de conformidade e redesignação sexual para pessoas trans e intersexo

A ação dará a oportunidade a 23 pessoas trans e intersexo de Manaus que estão há anos esperando na fila por assistência cirúrgica, e ainda capacitar 150 profissionais de saúde

Lucas Vasconcelos
21/08/2024 às 08:50.
Atualizado em 21/08/2024 às 09:25

(Foto: Agência Brasil)

Vinte e três pessoas trans e intersexo de Manaus terão suas vidas transformadas entre os dias 27 e 31 de agosto deste ano, a partir de uma ação de oito cirurgiões urológicos selecionados pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que realizarão cirurgias de conformidade e redesignação sexual em pacientes que estão há anos esperando uma oportunidade na fila do Sistema Único de Saúde (SUS).

A ação faz parte da “I Jornada Multiprofissional de Cirurgias de Modificações Corporais em Pessoas Trans e Intersexo”, organizada pelo Ministério da Saúde e pelo Hospital Universitário Getúlio Vargas, vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e à Universidade Federal do Amazonas (HUGV-Ufam).

A escolha do Amazonas como sede desta iniciativa, segundo os idealizadores, se deu por conta das demandas específicas dessa população — também chamadas de cirurgias do processo transexualizador — não serem realizadas na região Norte do Brasil. Por conta disso, o evento é fundamental para a capacitação e familiarização das equipes locais nas técnicas preconizadas e já anotadas na tabela do SUS. A expectativa é capacitar aproximadamente 150 profissionais de saúde, dentre eles médicos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas e profissionais do Serviço Social e Direito.

 Pacientes indígenas

 Entre os casos que serão operados, segundo o urologista Ubirajara Barroso Jr., chefe do Departamento de Cirurgia Afirmativa de Gênero da SBU, três indígenas intersexo passarão por procedimentos para adequação do órgão genital ao sexo biológico.

Ubirajara ressalta também que, durante os quatro dias de evento, serão realizadas palestras e minicursos que visam ampliar o conhecimento e a visibilidade sobre transexualidade e intersexualidade no âmbito do atendimento do serviço público de saúde, além das cirurgias.

“Esta jornada é um marco para a população intersexo e trans. Vamos dar assistência a um grupo que sofre preconceito e tem dificuldade em ser aceito no mercado de trabalho e até mesmo em seus grupos sociais. Vamos propiciar a replicação do conhecimento, ensinando novos profissionais a avaliar, saber como abordar esses pacientes e a realizar cirurgias reparadoras ou transexualizadoras. Será um evento transformador”, explica o urologista Ubirajara Barroso Jr.

O presidente da SBU, Luiz Otávio Torres, explica que a SBU tem difundido cada vez mais em seus congressos treinamentos cirúrgicos para pessoas trans e intersexo e educação continuada online com estudos de caso para seus associados.

“É urgente que nosso país esteja preparado e possa atender com qualidade e acolhimento as pessoas intersexo e trans. E é nossa missão enquanto sociedade de especialidade promover e participar ativamente dessas ações que promovem o conhecimento e a inclusão social”, diz Torres.

 Combate à transfobia no Amazonas e redução de filas invisíveis

 Em entrevista à reportagem de A CRÍTICA, a presidente da comissão organizadora da Jornada, Conceição Maria Guedes Crozara, destaca que a iniciativa busca ir de encontro às estatísticas que apontam o Amazonas como um dos estados mais violentos para pessoas trans. O evento busca criar uma mobilização social a respeito dessa população, assim como reduzir as “filas invisíveis” desses pacientes que esperam há tanto tempo por assistência cirúrgica.

“O Amazonas é um dos estados mais transfóbicos do país e recordista em violência contra transexuais. A iniciativa de começar por aqui é justamente para trabalhar do ponto de vista de mobilização social, inclusão social e conscientização sobre transexualidade e intersexualidade e dar visibilidade a essas filas invisíveis de pacientes que esperam por cirurgias transexualizadoras”, destacou Conceição Crozara.

 Redesignação sexual

 A jornada tem também como objetivo capacitar cirurgiões para o atendimento das populações trans e intersexo. A redesignação sexual, ou cirurgia genital afirmativa de gênero, é um procedimento que pode ser hormonal e/ou cirúrgico para adequar os órgãos genitais do sexo biológico do indivíduo ao gênero com o qual o paciente se identifica.

“Após a avaliação, poderemos verificar qual tipo de técnica poderá ser empregada. Entre elas, temos a mobilização total dos corpos cavernosos (TCM), desenvolvida pela nossa equipe, que permite a construção de um falo um pouco maior que as técnicas convencionais”, afirma Dr. Barroso.

Segundo Dr. Ubirajara Barroso Jr., quem mais procura pela cirurgia são as mulheres trans. “Cerca de 70% das mulheres trans querem, e 35% dos homens trans optam por fazer os procedimentos”, aponta o médico especialista em reconstrução genital. Barroso Jr. foi o cirurgião responsável pela primeira cirurgia de redesignação sexual da Bahia pelo SUS.

“A identidade sexual, ou de gênero, é um aspecto importante e inerente ao ser humano, e diz respeito não somente à sua integração social, mas à forma como a própria pessoa se sente e se vê, interferindo nos seus relacionamentos e na sua autoestima. Pode causar grande sofrimento ao indivíduo se algo nesse contexto não se adequa interna ou externamente, como por exemplo nas pessoas que nascem com uma genitália ambígua (órgãos genitais de aspecto indefinido para sexo masculino ou feminino) ou pessoas trans, que não se sentem pertencentes ao sexo atribuído no nascimento. Nesses cenários, também se encontra o papel do urologista e da própria SBU, não só de acolher, mas de tratar aspectos inerentes a essas condições”, reforça a Diretora de Comunicação da SBU, Dra. Karin Jaeger Anzolch.

Além da participação in loco, equipes de saúde do interior terão acesso às atividades, que serão transmitidas ao vivo pelo canal do HUGV no YouTube.

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