Há um ano

Acampamento em frente ao CMA encerrou sem responsabilização

Há um ano, Justiça Federal determinava o encerramento do acampamento em frente ao CMA. Responsáveis não foram identificados

Giovanna Marinho
09/01/2024 às 07:54.
Atualizado em 09/01/2024 às 08:07

(Foto: Arquivo A CRÍTICA)

Há um ano,  brasileiras e brasileiros assistiam à  invasão dos prédios dos Três Poderes, em Brasília (DF). Insatisfeitos com o resultado das eleições democráticas que deram vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depredaram prédios públicos na tentativa de forçar uma intervenção militar.

Mesmo com medidas judiciais ainda trâmite na justiça, com 30 réus já condenados no caso das invasões em Brasília,  atos que tiveram relação com a tentativa de insuflar uma desordem no país seguem impunes.       

No Amazonas  protestos pedindo intervenção militar duraram mais de 70 dias. A primeira mobilização ocorreu na BR-174, na madrugada do dia 31 de outubro, quando um grupo de manifestantes bloqueou o tráfego de veículos na BR-174, ligação terrestre entre Manaus e Boa Vista (RR). O ato seguiu as ordens de grupos bolsonaristas que também fechavam outras rodovias país afora. Na manhã, o protesto foi desmobilizado por agentes da Polícia Rodoviária Federal. 

No dia seguinte, a frente Comando Militar da Amazônia (CMA), na avenida  Coronel Teixeira, Ponta Negra, começou a ser ocupada por apoiadores de Bolsonaro, insatisfeitos com o resultado das urnas. No dia 2 de novembro, movimentos anti-petistas organizaram um ato público para pedir a tomada do poder pelas Forças Armadas, a destituição dos Três Poderes, o que é inconstitucional.

 Ocupação

 Nos dias que seguiram, as calçadas do CMA eram preenchidas por barracas, lonas e banheiros químicos que invadiam parte da faixa à esquerda da Coronel Teixeira. Foram vários os posicionamentos pró e contra o ato. As reclamações iam desde o volume alto de caixas de som, congestionamento em virtude da permanência de manifestantes na via, até o odor de urina. As defesas eram especialmente traçadas por apoiadores do ex-presidente, que alegavam direito de manifestação.

Ao longo dos meses, diversas denúncias surgiram em torno do acampamento. Uma das primeiras estampou as páginas de A CRÍTICA, no dia 3 de novembro, apontando o possível  uso da estrutura e equipamentos do CMA. Além de água, entregue pessoalmente por soldados na área da guarita, os manifestantes estariam usando internet e teriam pontos de acesso à energia elétrica, para abastecer bateria de celulares, utilizados maciçamente para convocar novos apoiadores ao ato. 

Conforme passaram os dias, o clima ficava mais hostil para a imprensa. No dia 9 de dezembro, capturas do fotojornalista Ricardo Oliveira, da Revista Cenarium, mostraram crianças dormindo no chão, como se tivessem em situação de rua, no acampamento. A reportagem rendeu um linchamento virtual à jornalista Ívina Garcia, que chegou a registrar o Boletim de Ocorrência sobre a situação que ainda não teve um desfecho. No dia seguinte, a jornalista da TV A Crítica, Mayara Rocha, foi vítima de ataque misógino e machista. 

 Ação judicial

 As denúncias chegaram à Justiça e no dia 16 de novembro a Juíza federal titular da 1ª Vara do Tribunal Regional Federal, Jaiza Maria Pinto Fraxe, acionada pelo Ministério Público Federal (MPF), determinou que o Governo Federal, o Governo do Estado e a Prefeitura de Manaus tomassem providências. Uma força-tarefa entre os órgãos foi montada para combater ilegalidades como furto de energia, permanência de crianças de forma permanente no local, interrupção do trânsito e poluição sonora.

 Inspeção 

 Mesmo após a determinação judicial, a juíza foi pessoalmente ao local e constatou que as irregularidades persistiam com a obstrução da ciclofaixa da avenida e determinou à Superintendência da Polícia Federal no Amazonas que nomeasse um agente para agir como perito a fim identificar possíveis agentes para fins de encaminhamento ao MPF. 

Na semana seguinte, o motorista Hugor Medeiros de Andrade, 34, foi preso por avançar contra os cones que delimitavam a segurança dos manifestantes. Ele estava sob efeito de álcool e não possuía habilitação. Ele teve o mandado de prisão expedido em novembro do ano passado, mas ainda não está em liberdade.

Na data da invasão da sede dos Três Poderes em Brasília, os grupos bolsonaristas em Manaus, também se mobilizavam para perturbar a ordem pública. Em aplicativos de mensagem, eles buscavam cooptar apoio para fechar a Refinaria da Amazônia). A reportagem acompanhou in loco as movimentações que iniciavam ainda em frente ao CMA, mas que antes de chegar à refinaria perderam força e foram dispersadas durante a madrugada, após a imprensa trazer luz sobre a trama.

Nesse dia, parte da equipe de A CRÍTICA chegou a ser hostilizada por manifestantes ao tentar capturar a movimentação no acampamento na passarela da avenida Coronel Teixeira. O repórter fotográfico Junio Matos e o motorista Nilson Monteiro foram xingados e ameaçados por um grupo que participava do ato.

A Justiça Federal determinou a desmobilização imediata do acampamento, na esteira da ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao amanhecer, do dia 9 de janeiro, forças de segurança do Governo do Amazonas e da Prefeitura de Manaus iniciaram o desmonte.  

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