Extremismo

Extremismo de direita alimenta violências

Sociólogo atribui atentado em Brasília ao extremismo de direita que vem sendo alimentado por Bolsonaro

Emile de Souza
politica@acritica.com
18/11/2024 às 10:49.
Atualizado em 18/11/2024 às 10:49

Policiais fazem perícia no corpo de Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, em frente do STF, apontado como o autor das explosões na Praça dos Três Poderes, que morreu durante o atentado (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Doutor em sociologia e professor da  Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Marcelo Serafico, afirmou que o atentado ocorrido em Brasília na noite de quarta-feira é  fruto do crescimento do extremismo, impulsionado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro desde 2014.

Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal, o chaveiro  Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, que morreu durante as explosões, foi o autor do atentado. Ele era filiado ao PL, de Bolsonaro, foi candidato  a vereador em Rio do Sul (SC) em 2020. 

“Esses eventos são identificáveis em várias manifestações do ex-presidente e de seus seguidores, assim como em fatos como o de 8 de janeiro de 2023, assassinatos de eleitores de Lula (no PR e BA) e medidas propostas, e às vezes aprovadas, no Congresso Nacional e em Câmaras e Assembleias por todo o país”, afirmou.

O sociólogo explicou que o Brasil enfrenta um extremismo de direita.  “Este ataque faz parte de um quadro maior em que a violência é estimulada e aprovada como prática política”.

Ele apontou que não há polarização no país, mas sim um extremismo de direita alimentado por ideias irreais, como a existência de uma “extrema esquerda” que, segundo ele, não existe. “A extrema-direita usa o discurso da polarização para justificar a violência como prática política normalizada”.

A cientista social Sandra Damasceno também atribuiu o evento à existência de uma “extrema-direita”, que, segundo ela, difere da “direita democrática tradicional”.

“Essa extrema-direita reúne grupos diversos, como setores conservadores religiosos, empresariais e ligados a lideranças militares que planejam seu retorno à política brasileira”. Ela afirma que essa união entre grupos mais distintos e extremos tem causado uma “radicalização” que coloca a democracia em risco.

“Essa radicalização da direita, com uma dose maior de conservadorismo religioso, criou um ambiente favorável para ataques e terrorismo político em diversas partes do país e do mundo. Países como Noruega, Alemanha, Estados Unidos e Nova Zelândia foram palcos de grandes atentados alinhados com essa ideologia de extrema-direita, e colocam as democracias contemporâneas em situação de risco”, destacou.

Damasceno alertou que a tendência é de aumento dessas ocorrências devido aos contextos sociais e políticos. Ela também destacou a necessidade de políticas rígidas para coibir esses atos.

“A radicalização deve se intensificar nos próximos anos, com uma eleição em 2026 marcada por comportamentos extremistas. O Estado brasileiro precisa adotar uma postura mais firme diante desses casos de extremismo e violência política”, disse.

A especialista também comentou sobre o Projeto de Lei de Anistia. Damasceno avalia que os ataques dessa quarta-feira devem aumentar a firmeza contra os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

“O que se espera é que o caso de ontem fortaleça a campanha contra a anistia aos golpistas de 8 de janeiro. Contudo, essa condenação é insuficiente frente ao que está por vir. É preciso construir políticas mais efetivas e permanentes para reduzir o fator de risco que ameaça nossas instituições democráticas”.

 Deputados repudiam ataque

 Os deputados federais do Amazonas, Silas Câmara (Republicanos), Sidney Leite (PSD), Saullo Vianna (União) e Fausto Junior (União) se posicionaram contra o ataque com explosivos ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Alberto Neto (PL) afirmou que o ocorrido foi “suicida” e desassociou o atentado do ex-presidente Bolsonaro. Somente os deputados Amom Mandel (Cidadania), Adail Filho e Átila Lins não emitiram opinião ao serem questionados por A CRÍTICA.

Em entrevista ao A CRÍTICA, o deputado Silas Câmara lamentou o ocorrido  e ressaltou que divergências devem ser resolvidas de forma democrática.

“A que ponto chegamos? A radicalização, o comportamento das pessoas que não entendem o que é democracia, de como funciona o país, e, ao mesmo tempo, tristeza, pois é uma vida ceifada, ou vidas ceifadas em comportamento, quando todos poderiam estar em paz, respeitando resultados e enfrentando as adversidades nas instâncias próprias”, disse.

Sidney Leite também lamentou as explosões e defendeu a democracia. “Entendo que a democracia é espaço para todos, inclusive para divergências, através do debate e do diálogo, respeitando a opinião de cada um. Nossa história levou muito tempo para fortalecer as instituições, e qualquer ataque que as ameace deve ser repudiado”, afirmou.

Fausto Junior condenou o ato de violência e reforçou a importância da segurança. "Repudio os ataques na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Estes atos devem ser rigorosamente investigados, e todas as medidas cabíveis tomadas. Em uma democracia, a violência não pode ter espaço. Precisamos garantir que isso não se repita e que nossas instituições democráticas sejam respeitadas", declarou.

Saullo Vianna publicou uma nota no “X” repudiando os atos violentos e reafirmando o valor da democracia. “Explosões diante de instituições que simbolizam nossa democracia, como o STF e a Câmara dos Deputados, são inaceitáveis e ameaçam a estabilidade e segurança do país. O uso da violência contra o patrimônio público e a integridade de nossos agentes de segurança não só coloca vidas em risco, mas também ofende os princípios fundamentais que sustentam nossa Nação”.

Capitão Alberto Neto (PL), do mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, postou apenas uma nota no Instagram em defesa do ex-presidente. A mensagem dizia: “A liderança da oposição repudia as narrativas que, de forma covarde, tentam vincular Bolsonaro e a direita brasileira ao autor do trágico episódio registrado em Brasília”.

A assessoria de Amom Mandel informou que o parlamentar não se posicionará sobre o assunto no momento, pois está concentrado em sua participação e nas discussões da COP29, em Azerbaijão. Os deputados Átila Lins e Adail Filho foram procurados pela reportagem, mas não houve resposta, também não se manifestaram nas redes sociais.

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