Entrevista

‘Eu não me arrependo de nada do que fiz’, diz Belão

Decano da ALE-AM decide não disputar a reeleição para apoiar a candidatura do filho a deputado estadual

Jefferson Ramos
online@acritica.com
19/03/2022 às 13:25.
Atualizado em 20/03/2022 às 19:42

(Foto: Junio Matos)

Após 31 anos como deputado estadual, Belarmino Lins (PP) anunciou que optou por não mais se candidatar. Agora pretende lançar o seu filho, o médico George Lins, como o seu substituto natural. Em entrevista ao A CRÍTICA, Belão, como é conhecido na vida pública, reafirma que sempre foi um parlamentar governista e que não se envergonha disso. 

Na disputa eleitoral para o governo do Estado, Lins reforçou o apoio à candidatura de Wilson Lima. Disse que em 2018 votou em Bolsonaro. E que repetirá o voto no presidente este ano.  "Vou votar de novo no Bolsonaro por acreditar que não haverá mais pandemia e ele vai deslanchar”.

Questionado sobre nomeações de parentes para o seu gabinete na época que presidiu a ALE-AM, Belarmino explica  que à época não existia vedação por parte do Supremo Tribunal Federal. Abaixo trechos da entrevista da semana. 

O que o senhor pretende fazer depois que pendurar as ‘chuteiras’ da Assembleia Legislativa?

Não estou pendurando a chuteira, porque a minha chuteira ainda daria para eu bater bastante bola, mas estou declinando da minha eleição por entender que a minha contribuição para o meu querido Amazonas já foi dada ao longo de 32 anos como parlamentar amazonense. Neste oito mandatos consecutivos de deputado é como eu tivesse me submetido a oito vestibulares e o povo me dando a nota necessária para passar na prova. 

Entendendo que já dei a minha contribuição, estou declinando no que pese com saúde e disposição, com a consciência tranquila do dever cumprido. Se mais não fiz porque nem sempre é permitido se fazer tudo que deseja, mas não me arrependo nada do que fiz. Vou submeter ao eleitorado o legado político que é um filho meu. Na minha compreensão está preparado para disputar as eleições, inclusive já disputou uma eleição para vice-prefeito. Doutor George Lins, médico urologista, está preparado e vai se submeter a exemplo do que fiz 32 anos atrás. 

O senhor vai continuar morando no Amazonas? 

Sem dúvida. Ainda com disposição e saúde, vigor físico, vou continuar, sem dúvida, com a eleição do doutor George Lins, posso continuar ajudando de forma institucional, orientando como pai  para um desempenho melhor do que o meu na política amazonense.  

Que papel imagina desempenhar como homem público, após deixar ALE-AM?

Digamos que vou passar a ser um orientador para a caminhada do meu candidato natural, o George Lins. O deputado Átila ingressou na política com 28 anos. Eu ingressei como parlamentar com 44 anos e ele vai submeter o nome aos 39 anos, mas é um campo de atividade novo. Na área médica, ele é um profissional bem-sucedido. No campo, ora, como pai, e com a experiência que eu tenho, posso ser o conselheiro nas decisões no encaminhamento, mas ele vai exercer o mandato, se Deus permitir e o povo consagrá-lo nas urnas, com independência e sobretudo com a responsabilidade com os eleitores amazonenses. 

Circula a informação que o senhor estaria considerando se lançar ao Senado. Há alguma movimentação sua neste sentido?

É delírio ou pesadelo de alguém. Nunca manifestei intenção ou desejo de ser senador. Ora, poder ser senador é um sonho. Deve ser uma realização política, um orgulho para qualquer político chegar a esse degrau da política. Mas em nenhum momento eu pensei ou cogitei. Descarto essa hipótese de querer ter pretendido disputar ao Senado da República. 

E como fica o PP com o anúncio da sua desistência de concorrer a mais um mandato? O senhor, mesmo fora da política, vai continuar tendo alguma influência dentro do partido?

Posso até continuar. Sou secretário-geral do partido atualmente. O presidente do diretório regional é o deputado Átila, mas isso não é tão importante, porque o importante é você servir ao Amazonas e não ao partido. O partido não elege, apenas viabiliza uma candidatura. Se precisarem de mim no PP, vou continuar ajudando contribuindo para o meu estado e onde quer que eu esteja, mas não ad aeternum que estarei no PP. 

O senhor pretende apoiar alguém para sucessão ao governo do Amazonas? 

Faço parte da base de sustentação do governador Wilson Lima e ao longo desse meu desempenho como parlamentar aliado, em nenhum momento tive um comportamento dúbio, de cima do muro. Sempre tive uma postura de companheiro, apoiando, ajudando e contribuindo nos acertos do governador. Sem proselitismo, mas dando a minha contribuição com tranquilidade e lealdade e eu vou apoiar para a reeleição, o governador Wilson Lima.

Durante a sua trajetória política, o senhor teve 8 mandatos de deputado estadual. Por que nunca tentou outros cargos?

Porque isso depende de uma conjuntura política. Por exemplo, não pretenderia ser candidato a deputado federal, seria mais um degrau da história política, pois o meu irmão é deputado federal. Não ambicionei disputar uma eleição para o senado porque tinha compromisso com outros nomes e que poderia ser um rompimento. Fazer política é assumir compromissos. Você tem que escolher de que lado você está, respeitando os demais, mas tem que ser claro e transparente.

No ano passado, a ALE-AM  criou as emendas de bancadas coletivas, ampliando a participação dos deputados no orçamento do governo do Estado. Na sua opinião, dado que as emendas de bancadas não têm execução obrigatória, podem ser vista como moeda de troca por apoio?

Entendo que essa conquista do parlamento amazonense seguiu uma simetria do que acontece no Congresso Nacional. Os deputados federais têm emenda de bancada e individuais impositivas. Isso não é uma inversão do Amazonas. Vários estados brasileiros já executaram as emendas de bancada e o Amazonas está indo na mesma esteira. Na minha compreensão isso amplia a área de atuação do parlamentar para fazer com esses recursos do governo do Estado.

Na sua caminhada como parlamentar, o senhor adotou uma postura um pouco mais governista. O senhor não gosta de fazer oposição?

Confesso que nestes 32 anos não exerci em nenhum momento o papel de oposicionista porque eu sempre fui eleito por aqueles que querem que ajude a governar no parlamento. O meu eleitorado é um eleitorado que quer resultados, não quer blá, blá, blá. Quem sempre decidiu os meus mandatos não foi a oposição, foi a situação. De tal forma que não adquiri ao longo destes oito mandatos, não experienciei nenhuma experiência oposicionista. Sempre governista, servindo o povo. Falo isso sem problemas nenhum. Sou um homem assumido das minhas posições.

Na ALE-AM, o senhor trocou de partido três vezes. Passou pelo extinto PFL, PTB, MDB e atualmente está no Progressistas. Por que  fez tantas mudanças partidárias?

As razões dessas mudanças foram por um ajuste no campo político e todos eles pertencentes a um arco de alianças. Partido que pertenciam a um arco de aliança do governante. Se eu era situacionista, tinha que estar no partido que fazia parte desse arco de aliança. Não podia ficar na contramão.

Essas mudanças não revelam uma faceta sua mais fisiológica?

Não. Eu diria que a política é dinâmica. Não é estática. O presidente da República se elegeu pelo PSL, mas as conjunturas nacionais fizeram com que ele migrasse e agora está no PL e os governantes passados do Amazonas também sofreram essas mudanças. O partido é um instrumento legal para viabilizar a sua concorrência para a um dos cargos proporcional ou majoritário. Nasci num partido tal e vou morrer no mesmo partido, não. Para isso vivemos em uma democracia. Se eu não estou bem aqui, posso ir para ali. Por exemplo, quando fui para o PHS, descobri que transitava no meu pensamento um veio socialista e fui ajudar. Na época, o governador pelo PHS era o Eduardo Braga. 

Qual foi o governo que o senhor apoiou que deu mais ‘trabalho’ para defender?

Não vejo com essa visão. Todos eu me dediquei e apoiei com a confiança dos acertos e benefícios para o povo. Atualmente, por exemplo, o governador Wilson Lima não pode se deixar de reconhecer que ele foi eleito para governar o Amazonas, mas não foi avisado que teria uma pandemia da covid-19 para ceifar vidas e tirar dele os maiores resultados. Ele enfrentou com humildade e paciência e Deus não falta com aqueles que têm paciência. Pandemia teve no mundo inteiro. A mesma coisa para o presidente Bolsonaro. O governo dele foi eleito com uma grande aceitação popular e chegou a pandemia. E mais um detalhe, o governo Wilson enfrentou a maior enchente na história do Amazonas. Não é fácil, não. 

Então, para o senhor o governo do governador Wilson Lima foi o que deu mais trabalho por conta do impeachment e da CPI da Saúde? 

Diria que esse processo político-institucional, além da crise política impulsionada pela pandemia teve o seu impacto, mas eu sempre tive uma posição política. Eu me posicionei a favor do governo por acreditar que o governo iria vencer as turbulências.

Recentemente, teve a aprovação do projeto  do deputado Péricles que amplia o porte de arma para colecionadores, atirador esportivo e caçador e o único voto contrário foi do deputado Serafim Corrêa. Por que o senhor votou favorável?

Essa iniciativa do Péricles foi uma iniciativa que ele compartilhou conosco dando as devidas razões e a formação da consciência dos deputados no que diz respeito à segurança. O Serafim é um parlamentar de notável saber jurídico com causas ganhas no Superior Tribunal, mas é um direito dele de concordar ou discordar. Concordei por entender que pudesse trazer essa experiência. Respeito o voto do Serafim.

Mas na sua opinião, a aprovação desse projeto não pode facilitar a oferta de armas legalizadas na mão de criminosos?

Acho que depende do controle que será exercido pelo Estado. Quando falo em Estado, me refiro à legislação pertinente. Você também não pode desarmar e deixar que as organizações criminosas se armem, mas algum decreto do governo já avançou para disciplinar esse porte. Mas tem que ter controle e rigor, não se pode escancarar. Mas de repente, se percebe que esse projeto de lei se constituiu em um prejuízo à segurança e integridade física das pessoas a gente pode cessar. 

O que o senhor defende politicamente?

Eu sou conservador dos hábitos desde que eles sejam de forma construtiva, claros, transparentes. Não sou muito de inovar. Apenas por inovar. Posso contribuir para uma renovação alicerçada na melhora de patamar. Respeito a posição de cada um, mas o meu lado político é esse, respeitando aqueles que possam diferenciar do meu comportamento, mas ao longo da minha vida pública os anais da Casa já revelam.

Mas e economicamente, o que defende? 

Sou liberal até para permitir que a iniciativa privada possa criar programas e incentivar a economia. O maior gerador de riqueza e renda é a iniciativa privada. O governo não pode estar à margem disso, tem que estar pari passu com essa atividade empresarial para gerar emprego para a população. 

O senhor se considera um bolsonarista?

Votei no Bolsonaro. Não me arrependi porque acho que o Bolsonaro também passou pelas circunstâncias da pandemia, pela falta de controle da pandemia. O mundo interior, se não fosse a pandemia, o Bolsonaro estaria surfando. Inclusive, vou votar de novo no Bolsonaro por acreditar que não haverá mais pandemia e ele vai deslanchar. 

O senhor esteve no centro de algumas polêmicas ao longo dos mandatos. Uma delas diz respeito à contratação de parentes. Como avalia isso hoje?

Na época, até então a Constituição de 88 tinha lá um artigo que permitia que o Supremo Tribunal Federal regulamentasse e dissesse o que era nepotismo, as regras de nepotismo. Até então, o Brasil inteiro praticava nepotismo, que era designação de parentes para cargos de confiança. Aqui no Amazonas não era diferente, todos os segmentos praticavam isso. Era no Brasil inteiro sem exceção. A partir da Súmula 13, o Supremo deu um fim à essa prática. Quem praticou, praticou, daqui para frente tem uma regra nova. É proibido contratar parentes até o terceiro grau, excetuando para cargos de secretário, ministro. Mas na época era permitido. Fiz o que os outros fizeram. Não me arrependo, porque era permitido. O que é proibido e você rompe, aí é delito, crime. Não era só o deputado Belarmino como presidente que fazia não. Até porque não fiz nada de má fé e nem por trás dos panos e travessas. 

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