ENTREVISTA

'Nosso primeiro desafio é montar um plantel qualificado para conquistar o Barezão'

Novo presidente do Nacional Futebol Clube, o deputado federal Saullo Vianna, fala sobre os projetos e desafios de sua gestão

Camila Leonel
camilaleonel@acritica.com
24/11/2024 às 12:08.
Atualizado em 24/11/2024 às 12:23

Chapa encabeçada pelo deputado federal Saullo Vianna foi aclamada para a presidência do Nacional Futebol Clube (Foto: Ascom/Nacional)

No último sábado, Saullo Vianna foi aclamado presidente do Nacional Futebol Clube para o triênio 2025-2027. A chapa única é formada por Assem Mustafa Neto, vice-presidente de Futebol Profissional e Amador, e Mario Cruz, vice-presidente Administrativo-Financeiro.  

Esta será a primeira experiência de Vianna à frente de um clube. Até então, a proximidade dele com a parte administrativa de futebol foi na diretoria do Amazonas FC entre 2020 e 2023. Deputado federal, o novo presidente do Nacional assume o clube com as bênçãos do senador Omar Aziz, que tem ligação de longa data com o clube, mas a principal intenção do novo mandatário é trazer modernidade, sem esquecer da tradição do maior campeão amazonense.

O presidente de finanças do Nacional, Mário Cruz, Saullo Vianna, e o vice-presidente da chapa Assem Mustafa Neto (Foto: Ascom/Nacional)

 Na sala de troféus do clube, Saullo Vianna falou sobre como pretende gerir o Nacional, passando pelo fortalecimento do futebol profissional como também investir em outras modalidades para tentar retomar o protagonismo do clube azulino. Confira a entrevista:

Primeiramente, pode falar da sua relação com o Nacional?

Primeiro eu morei durante 28 anos da minha vida, desde 1 ano de idade até os 27 aqui no bairro Nossa Senhora das Graças, que é vizinho do Adrianópolis, onde é o Nacional. Estudei a minha vida toda no Ida Nelson, que também é aqui vizinho do Nacional e, desde criança, eu sempre gostei muito de esporte no colégio, fazia futsal, vôlei, basquete, handebol e também jogava futebol. E no colégio não tinha futebol de campo e o primeiro lugar onde eu me inscrevi para fazer escolinha de futebol foi aqui no Nacional, justamente nesse campo aqui do lado de onde é a sede do Nacional. Meu pai também sempre gostou muito de futebol e a gente tinha essa rivalidade dos clubes do Amazonas, principalmente Nacional e Rio Negro e eu sempre vivi e cresci nesse ambiente e tenho essa relação com o Nacional. Nos dias de treino, eu voltava da escola a pé e vinha aqui para o treino no Nacional e depois voltava pra casa. Ou seja, eu sempre tive essa relação de proximidade com o futebol. Depois, já passado muitos anos, comecei a participar ajudando como colaborador do Amazonas, que é o time que está na Série B e isso me deu uma breve experiência sobre o bastidor do futebol que era ir atrás de patrocinador, montar elenco e planejamento de futebol. Aí recebi o convite para poder ser presidente do Nacional e isso me despertou algo que eu sempre tive desde criança. Primeiro é esse amor, essa relação com o Nacional e segundo  essa vontade de poder estar à frente de um clube e aqui o Nacional é o maior clube da cidade de Manaus, do Amazonas é o maior campeão, tem mais de 100 anos de história, o que tem a maior torcida e foram ingredientes que me incentivaram muito para aceitar este desafio.

Senador Omar Aziz o novo presidente do Nacional, Saullo Vianna (Foto: Ascom/Nacional)

 Como foi o convite para compor a chapa?

Hoje eu estou deputado federal e tenho uma relação muito próxima com o senador Omar Aziz, que é o presidente de honra do Nacional. O Omar já foi o presidente do Nacional, já foi diretor de futebol do Nacional, hoje é o presidente de honra e é o cara, que na verdade, ajuda o Nacional todos os anos a conseguir patrocínio. Enfim, ele é o cara que tá sempre por trás ajudando o Nacional. E em uma das várias conversas que a gente teve em Brasília, ele me fez esse convite, se eu toparia ser presidente do Nacional. Ninguém tinha se colocado como candidato e ele me fez o convite e na hora eu falei: vamos conversar mais sobre isso, a gente passou a aprofundar até que surgiu o convite oficial e a oficialização da minha presidência. 

E ele passou algum conselho?

Te confesso que ele me passou muito a relação do Nacional com a torcida. A torcida do Nacional é exigente, é uma torcida que participa que vai lá no Centro de Treinamento para poder acompanhar os treinamentos, mas é uma torcida que incentiva muito o time, que participa quando o time está disputando o campeonato, que ajuda, que apoia muito. Por outro lado, tem muita cobrança. Uma das experiências que ele contou foi a seguinte: você fazer futebol com um time que não tem torcida e fácil, não tem pressão pra tirar ou botar treinador, jogador e isso acaba que fica mais fácil, mas fazer futebol ainda mais com uma torcida apaixonada como a do Nacional  é bem mais difícil, mas é um desafio e falou muito da história do Nacional.

E qual o principal desafio neste primeiro momento?

No primeiro momento nós temos uma dificuldade muito grande em 2025 porque o Nacional não tem o calendário completo do ano. O Nacional só tem o Campeonato Amazonense, que é um período de quatro meses e tem pelo menos um mês de preparação, ou seja, estamos falando de elenco profissional de futebol de 5 meses e isso é um desafio porque a maioria dos jogadores querem pelo menos um ano de contrato para que ele tenha uma estabilidade de um ano e possa trazer a família e os filhos pra eles poderem estudar.

(Foto: Ascom/Nacional)

 Então é uma dificuldade que vamos enfrentar neste primeiro ano, porém estamos fazendo um trabalho no mercado e hoje já temos uma comissão técnica e um diretor de futebol para que a gente possa, mesmo com essa dificuldade, montar um plantel qualificado para que a gente possa conquistar o que eu chamo de a nossa Copa do Mundo. O Barezão vai ser a Copa do Mundo do Nacional. Por que? Porque o nosso objetivo é conquistar calendário para o ano de 2026, uma vez você tendo o calendário completo com Amazonense, Copa do Brasil, Copa Verde e o Campeonato Brasileiro da Série D, você consegue montar um elenco com mais facilidade. Então o nosso primeiro desafio é esse, mas a gente tem trabalhado muito pra poder vencer essa barreira e poder montar um elenco competitivo.

E vocês pretendem fechar o elenco em quantos atletas?

A gente começou a trabalhar desde o final de outubro. Hoje a gente já tem uma comissão técnica formada com diretor de futebol, técnico, auxiliar, preparador físico, preparador de goleiros, analista de desempenho, scouting e a gente tá hoje na montagem do elenco. A nossa ideia é de trabalhar com um elenco em torno de 32 jogadores e nós já temos aí 17 jogadores com pré-contrato assinado e desses 17, nós temos um de expressão nacional que jogou em time da primeira prateleira do futebol e temos negociação avançada  com mais três neste mesmo nível para que a gente possa complementar o restante do elenco. Nossa ideia é [apresentar] no meio de dezembro porque até então o Campeonato não tá definido de fato quando vai começar. Pode ser que comece uma semana antes, que seria dia 26 de janeiro. Se adiantar, a gente adianta a semana entre 10 e 15 de dezembro.

O Nacional deu um chapéu no Manaus e anunciou o Ângelo como diretor de futebol. Como foi esse convite para que ele viesse para o Naça?

O meu conceito é o seguinte: eu não posso dizer que eu tenho experiência no futebol. Eu tive uma breve experiência de bastidores, mas não tenho experiência no futebol. Porém, eu tenho o conceito de que você deve se cercar de gente que tenha experiência, que tenha conhecimento e que tenha credibilidade no mundo do futebol. O Ângelo era alguém que eu conhecia e que tinha uma relação.

Quando recebi o convite, a primeira pessoa com quem eu falei do mundo do futebol foi o Ângelo. Disse pra ele que tinha recebido o convite, mas que só ia aceitar se ele viesse junto comigo e aí a gente sentou eu mostrei pra ele o projeto. Porque hoje, se você for comparar o Nacional com o Manaus, é óbvio que o Manaus é muito melhor que o Nacional, pelo fato de ter o calendário completo, só que quando você coloca o contexto como um todo: da história do Nacional, o que o Nacional representa pro estado e para a cidade, as conquistas que o Nacional já teve e o projeto que nós vamos iniciar é o que torna atrativo para poder trazer o Ângelo. Então nós temos um projeto grande, um projeto audacioso do tamanho do Nacional para que a gente possa desenvolver nesse triênio.

Você citou num video divulgado pela sua assessoria que a intenção era atacar das dívidas do Nacional. Qual a situação do clube hoje em relação às dívidas?

Hoje o Nacional tem uma dívida relativamente pequena. A maior dívida do Nacional são dívidas trabalhistas, que giram em torno de 1 milhão e 200. Porém são dívidas hoje administradas. Tem a dívida natural do dia a dia e o Nacional hoje está e m recuperação judicial por conta de uma ação judicial, ou seja, tem prazo pra poder negociar essas dívidas para serem pagas, porém comparando o tamanho da dívida com o tamanho do patrimônio, é quase irrisório. Porém, nós temos também um planejamento de poder atacar essas dívidas porque você pode muito bem conseguir negociar uma dívida que o credor demoraria anos pra receber e, uma vez que você faça um acordo para poder diminuir essa dívida, é muito melhor tanto para o clube que deve, como para o credor que quer receber. Então a nossa ideia em curto prazo é atacar as dívidas mais urgentes, as que estão parceladas e têm tempo para pagar e manter na programação normal de pagamento que já está estabelecida, mas a nossa ideia, se Deus quiser, nos próximos três anos, é poder entregar o Nacional zerado de dívida e com investimento principalmente no futebol.

Falando em investimento, qual o orçamento do clube?

Na verdade, hoje (terça-feira) eu estou aqui para uma reunião para poder tratar justamente do orçamento do futebol. Nós já temos alguns patrocinadores em potencial contatados, pessoas que têm interesse em investir no futebol do Nacional por conta de sua grandeza. Fizemos muito esforço em buscar parceiros e, muito em breve, a gente vai fechar esse orçamento. O que eu posso te adiantar é que nós teremos o necessário de orçamento para poder fazer um time competitivo para que a gente possa alcançar o nosso objetivo.

(Foto: Ascom/Nacional)

 Assim que assumiu, você falou sobre investimento na base e no futebol feminino. Pode falar um pouco deste projeto e se existe planejamento para outras modalidades?

A nossa ideia, num primeiro momento do calendário de futebol, é que de 100%, 80% nossa atenção esteja voltada para o futebol profissional no primeiro semestre. No segundo semestre, como não temos calendário, nós vamos focar nossa atenção 100% para que a gente possa fazer essa reestruturação como um todo do clube Nacional em outras modalidades, inclusive nós temos uma vontade muito grande de fazer na base, um trabalho de base profissional inclusive trazendo profissionais de fora de Manaus que tenham esse conhecimento e essa experiência na base para que a gente possa fazer o Nacional ser forte novamente na base e na formação de jogadores, de atletas porque nós temos a matéria prima aqui no Amazonas.

A gente tem uma ideia para o futebol feminino, do futsal, no vôlei que o Nacional já teve um time de vôlei, handebol, que é um esporte que com toda a certeza é o meu segundo esporte preferido depois do futebol. Cheguei a jogar na seleção amazonense cadete, que hoje equivale ao sub-17 e tenho vontade de fazer um time de handebol do nacional e a natação, que também é tradicional. Ah, e outra coisa, uma novidade que nós temos, que a gente quer fazer também, que é uma equipe de e-games do Nacional, que existem competições nacionais e queremos colocar o Nacional nesse tipo de competição, enfim aliar a tradição com a modernidade.

No feminino vocês pretendem colocar só time adulto, ou base também?

Em específico no futebol feminino, a nossa ideia é começar com base, não com time profissional. Nossa ideia é primeiro trabalhar com base tanto para a formação, como disputar competição de base para, no futuro próximo, disputar no profissional.

E na base, pretendem investir em que categorias?

A nossa ideia é poder fazer todas as categorias de base, desde o sub-8 que é a primeira categoria de base que tem no futebol. Inclusive, nós já temos um sonho planejado e tudo o que é planejado tem maior a probabilidade de conseguir êxito, que inclusive o nacional possa, muito em breve, disputar a copa são Paulo de Futebol Júnior, que é a principal competição de base do Brasil, que o Nacional já competiu em outros anos e a nossa ideia é poder chegar ao ápice da nossa base e ter um time disputando muito em breve.

Em 2025, o Nacional completa 10 anos sem título estadual. Isso te pressiona ou te motiva ainda mais nos objetivos no clube?

10 anos é uma data simbólica. Acho que 10 anos seria, de certa forma, até cômico depois de 10 anos ter o time voltando a ser campeão. Então é um desafio, é óbvio que não é fácil de fazer futebol nessa situação, mas o que mais me motivou a vir para cá, fora a história e o tamanho da torcida do Nacional, é poder fazer um trabalho do zero e isso me motiva muito. Poder saber que da forma como nós recebemos o Nacional: sem calendário, disputando apenas Amazonense, sem o time profissional formado e praticamente sem categorias de base para no final de três anos ver como a gente está entregando. Ver o que que a gente conseguiu conquistar. Isso é o que mais me motivou. A gente tem trabalhado muito e eu vou trabalhar mais ainda, me cercando de pessoas que têm experiência e profissionalismo para que a gente possa, em 2025, voltar a conquistar primeiro o nosso objetivo que é colocar o Nacional em competições nacionais e até ser campeões.

E quais são os projetos a médio e longo prazo para o clube?

Eu entendo que a gente precisa resolver o hoje e o hoje é formar um clube, um time. Segundo, é dar condições para que esse time possa conquistar o objetivo, que é alcançar o calendário para 2026 e reestruturar o trabalho tanto de esportes profissionais, quanto para que a gente possa pensar no restante que a gente quer alcançar. Óbvio que qualquer clube busca estar na primeira prateleira do futebol, que é disputar a Série A, mas aprendi a viver um dia de cada vez. Nossa realidade hoje é essa: de formar um time, dar condições a um time que possa disputar o Campeonato Amazonense e alcançar o objetivo, o resto vai ser consequência do trabalho e a nossa parte a gente vai fazer para que a gente possa alcançar os nossos objetivos necessários.

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