Através do esporte, o amazonense Elielton Oliveira ressignificou sua trajetória e agora ele disputará os Jogos Paralímpicos
Weshington Alves foi medalhista de prata nos Jogos Parapan-Americanos de 2023, no Chile (Washington Alves/CPB)
Judô vem do japonês, que significa ‘caminho suave’. A modalidade desenvolvida por Jigoro Kano foi batizada assim por conta da técnica que visa a inteligência acima da força física, mas no caso do amazonense Elielton Oliveira, a arte marcial realmente transformou a caminhada dele em algo mais suave. Mais do que isso: trouxe vitórias que o colocaram nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, competição que ele disputará pela primeira vez aos 28 anos.
Nascido em Manaus, o atleta cresceu no bairro Tancredo Neves, zona Leste da capital amazonense. Aos 12 anos, ele perdeu a visão após levar um tiro na cabeça, que o fez perder o globo ocular. Foi no esporte que ele encontrou uma ocupação, e uma chance para abandonar o vício em álcool e entorpecentes.
Elielton competindo no Mundial da modalidade no Azerbaijão
Mas antes de chegar nos tatames, Elielton começou pelas piscinas, mas não conseguiu levar adiante por conta do vício em cigarro, De lá, ele foi para o atletismo, onde chegou a se destacar nos Jogos Escolares. Mas quando tudo parecia estar dando certo, veio outro baque na vida do atleta: a morte da mãe.
Elielton durante treinamento com a seleção brasileira de judô
Enquanto tomava gosto pelo esporte, Elielton resolveu abandonar os vícios e se dedicar na modalidade para chegar longe. A partir daí ele foi morar na Vila Olímpica de Manaus, onde ficou por sete anos.
“Meu apoio era esse, de poucos amigos que eu tinha ao meu redor. Então, esse período na Vila foi muito bom para mim, evoluí bastante, apesar da dificuldade. As coisas aconteceram muito rápido depois que comecei a competir fora de Manaus. Quando consegui sair para competir fora, me destaquei e já fui chamado para a Seleção”.
Elielton Oliveira compete na categoria até 60kg na categoria J1, cegos totais
Competindo fora do estado começaram a vir as dificuldades para se deslocar. Foi aí que ele decidiu se mudar para São Paulo e, assim pavimentar a trajetória para chegar nos Jogos Paralímpicos. Com bastante treino e luta, Elielton se dedicou neste ciclo para conseguir confirmar a vaga para Paris. Um sonho que logo virou algo possível e se tornou realidade.
Elielton compete na categoria ligeiro (-60kg) na classe J1, cegos totais. Em 2022, o amazonense passou a integrar a seleção brasileira adulta e entre as conquistas neste ciclo olímpico estão uma Prata na categoria até 60kg nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023; prata no Pan-Americano do Canadá 2022. Além disso, ele conquistou medalha de ouro no Grand Prix de Almada, em Portugal, em 2023, e prata no Grand Prix de judô paralímpico de Antalya (Turquia), em 2024. Com o objetivo concretizado, o foco agora é brigar por uma medalha paraolímpica.
“Saber que eu passei por todas essas coisas e, hoje, estou participando da maior competição do planeta, fico feliz por o esporte ter mudado o meu caráter, ter me transformado na pessoa que sou hoje, sendo exemplo para crianças, para aqueles que também têm algum vício e não conseguem sair. Para mim, é uma grande satisfação. Que eles vejam em mim que sempre podemos conquistar nossos sonhos e sermos melhores a cada dia”.
A seleção brasileira de judô viajou para Paris na última quinta-feira, onde fará a parte final de preparação. A modalidade estreia nos Jogos de Paris no dia 5 de setembro. Elielton compete no primeiro dia, com as fases preliminares iniciando às 4h (de Manaus). Além dele, também competem no dia 5: Rosi Andrade (48 kg / J1), Larissa Silva (57 kg / J1) e Thiego Marques (60 kg / J2).