Audiovisual

Um Tom de Cinema: A história de um mestre do cineclubismo e do audiovisual Amazônico

O roteiro celebra a trajetória de Antonio José Vale da Costa, o Tom Zé, professor aposentado da UFAM e fundador do Cine & Vídeo Tarumã

Robson Adriano
online@acritica.com
30/11/2024 às 15:47.
Atualizado em 30/11/2024 às 16:40

Tom Zé é personagem principal de um roteiro de longa documental (Foto: Divulgação)

Antonio José Vale da Costa, o Tom Zé, 72 anos, professor aposentado da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), é personagem principal de um roteiro de longa documental desenvolvido pelo publicitário e roteirista premiado formado pela Academia Internacional de Cinema, Rod Castro, 46 anos, intitulado “Um Tom de Cinema”. O roteiro desenvolvido por Rod passa pela trajetória de Tom Zé na docência, pela família, assim como o cineclubismo, uma das grandes paixões do protagonista.

“Eu gravei três longas entrevistas com o Tom Zé. Praticamente passamos por toda a vida dele. E eu fiz o meu recorte, todo em cima da vida do Tom Zé com o cinema, ou seja, ele consumidor ainda criança e adolescente. Na adolescência para a vida adulta fazendo parte do cineclubismo no Amazonas, em que fez parte de três cineclubes, sendo o último o Cine & Vídeo Tarumã que existe a mais tempo no norte do Brasil, e o Tom Zé foi o fundador”, detalhou Rod.

Rod Castro explicou que para a construção do roteiro foram realizadas três entrevistas com Tom Zé, e um total de 9 horas de captação em três dias de gravação no meses de abril, maio e julho deste ano. A ambiência onde ocorreram as gravações possuem significado para Tom Zé: a videoteca pessoal na casa onde mora, o Cine Teatro Guarany e o Museu da Imagem e do Som, situado dentro do Palacete Provincial. 

A escolha desses três ambientes tem um motivo. “No primeiro cenário focamos muito em ‘quem é o Tom Zé’ e gravamos dentro da casa dele com as perguntas focadas nesse contexto. A segunda parte foi voltada mesmo para o cinema por isso gravamos no Cine Teatro Guarany, para ele se sentir próximo a tela e incluso no ambiente do cinema. E o terceiro foi no Museu da Imagem e do Som, no centrão de Manaus, para ele perceber a cidade. E o Tom Zé foi muito ele” disse o roteirista.

Além de Tom Zé, quatro ex-alunos dele foram convidados para contribuir com depoimentos para a construção do roteiro do longa documental. “Gabriel Oliveira, Suzy Freitas, Diego Bauer e o Caio Pimenta do Cine Set. E com esses cinco depoimentos, nove horas (de entrevista) com o (Tom) Zé, e uma hora de entrevista com cada uma dessas pessoas, eu desenvolvi todo o roteiro. O roteiro chegou a 143 páginas”, explicou o roteirista. Como o roteiro finalizado, a próxima etapa é submeter em outro edital para as gravações.

Escrever o roteiro do longa documental sobre Tom Zé é reconhecer a importância dele para o audiovisual manauara. “O Tom Zé é responsável pela formação audiovisual e crítica da cidade. Cineastas, produtores e críticos de cinema passaram pelo Tom Zé. Esse cara (Tom Zé) passou por, praticamente, todos os cineclubes de Manaus. Merece por toda a importância que tem na formação de jornalistas e pessoas do audiovisual. A história do Amazonas e Manaus passa também pela vida do Tom.”, declarou Rod.

“Um Tom de Cinema” foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo do Governo Federal, promovido pelo edital da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC-AM), Fundo Estadual de Cultura e Conselho Estadual de Cultural (Conec) do Governo do Amazonas para o desenvolvimento do roteiro. No currículo Rod acumula dois prêmios no Amazonas Film Festival, um em 2012 na categoria de melhor filme com “Et Set Era” em parceria com Emerson Medina. E outro em 2013 como melhor roteiro de curta-metragem com “Germes” junto de Rafael Lima.

Um bate-papo com o Tom Zé sobre cinecublismo está programado para 2025. “Em fevereiro devemos fazer a contrapartida (do edital) que é esse bate papo com o público, principalmente se for de jornalismo, que é o desejo de Tom Zé. Os convidados que estão certos, até agora, são os professores Otoni Mesquita e o Jorge Bandeira. E gostaríamos que fosse na Universidade Federal do Amazonas (Ufam)”, adiantou o roteirista. 

Surpresa

Tom Zé recebeu com surpresa a notícia de que seria personagem de um longa documentário. “O Rod (Castro) me surpreendeu. Eu fui pego de surpresa. Ele fez o projeto e não me falou nada e depois de aprovado foi quando me disse. Me senti muito bem. Em estado de reconhecimento pelo tempo como professor e cineclubista interessado em cinema. Mas, acho que tinham outras pessoas que poderiam ser bem mais retratadas, eu falei para ele”, disse.

De maneira modesta, Tom Zé reconhece que de certa forma contribuiu para a formação de alunos. Ele se aposentou no ano de 2019 após três décadas na docência. “Eu saí em 2019, até o momento em que fiquei, penso que senti como se tivesse contribuído para série de pessoas que depois entraram para fazer mostras de cinema. Eu sinto que dei minha contribuição, tanto na área de jornalismo, quanto cinema. Antes mesmo de entrar como professor, eu já tinha passagem em alguns cineclubes”, avaliou.

Cineclubismo

O Cineclubismo é um espaço de formação cinéfila, onde os membros assistem aos filmes, refletem e debatem sobre o cinema. Nasceu na França nos anos 20 e ao Brasil chegou em 1929 com o Cineclube ChaplinClub no Rio de Janeiro. De acordo com o Núcleo de Antropologia Visual da UFAM, no artigo “Cineclube Tarumã: 38 anos de conhecimento fílmico” da professora-adjunta aposentada Selda Vale da Costa, o primeiro cineclube de Manaus é datado de dezembro de 1921, chamado Cine Manaós.

Em 1990, Tom Zé idealiza e coordena o “Cine & Video Tarumã”, que nasce como um projeto de extensão da Ufam. Segundo o artigo, “começou com um televisor de 20 polegadas, um videocassete e reuniu no começo umas trinta pessoa”. O “Cine & Video Tarumã”, de acordo com a autora, “é a continuação, com algumas alterações, do Cineclube Tarumã, cujo nascimento oficial deu-se em março de 1980, mas começando a engatinhar desde dezembro de 1979”.

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